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Gouveia e Melo, favorito em Portugal, aborda imigração e Brasil

O almirante Henrique Gouveia e Melo, principal candidato à Presidência de Portugal para as eleições de janeiro de 2026, desembarca no Brasil neste sábado (4) com uma agenda focada nos imigrantes portugueses residentes em São Paulo e no Rio de Janeiro. Com 64 anos, Gouveia e Melo lidera as sondagens desde maio e se destacou […]

O almirante Henrique Gouveia e Melo, principal candidato à Presidência de Portugal para as eleições de janeiro de 2026, desembarca no Brasil neste sábado (4) com uma agenda focada nos imigrantes portugueses residentes em São Paulo e no Rio de Janeiro. Com 64 anos, Gouveia e Melo lidera as sondagens desde maio e se destacou nacionalmente por sua liderança na campanha de vacinação contra a Covid-19 em Portugal.

Autodefinido como um “socialista democrático” e apresentando-se como um candidato independente, sem vínculo partidário, Gouveia e Melo tem sido uma figura pública de grande reconhecimento. Em um contexto semipresidencialista como o português, o Presidente da República desempenha um papel fundamental na política externa do país, embora a gestão governamental seja de responsabilidade do primeiro-ministro. A visita ao Brasil, portanto, assume um caráter estratégico para sua campanha, buscando conectar-se com a diáspora portuguesa e reafirmar sua ligação pessoal com o país sul-americano, onde residiu na adolescência.

Gouveia e Melo, favorito em Portugal, aborda imigração e Brasil

A relação do candidato com o Brasil remonta a um período de quatro anos durante sua adolescência, quando viveu em São Paulo e estudou no tradicional colégio Caetano de Campos. Em entrevista, ele fez questão de ressaltar sua própria experiência como imigrante, declarando ter sido recebido “de braços abertos” no Brasil, o que fundamenta sua perspectiva sobre a presença de brasileiros em Portugal, hoje estimada em aproximadamente 700 mil indivíduos. Ele enfatiza a necessidade de integração cultural e a evolução do mundo para uma sociedade multicultural, apontando o Brasil como um exemplo disso.

Perspectivas sobre a Imigração em Portugal

Questionado sobre a recente legislação aprovada em 30 de outubro pela Assembleia da República, que impõe barreiras à entrada de estrangeiros, especialmente aqueles considerados “menos qualificados”, o almirante Gouveia e Melo expressa uma visão pragmática. Embora Portugal ambicione atrair talentos e tecnologia para ascender na cadeia de valor econômica internacional, ele sustenta que “a economia é que decide depois, na prática, quem são as pessoas de que nós precisamos”. Segundo ele, se a demanda econômica do país requer, no momento, imigrantes sem alta qualificação, são esses profissionais que acabarão por chegar e serem incorporados à força de trabalho. Setores como o turismo, vital para Portugal, dependem fortemente da mão de obra brasileira para operação de hotéis e restaurantes.

Análise do Cenário Geopolítico Internacional

Além das pautas internas e migratórias, Gouveia e Melo também compartilhou suas análises sobre a conjuntura global. Em relação ao conflito na Ucrânia, o candidato acredita que Vladimir Putin está “atolado” e que o exército russo não possui a capacidade de invadir a Europa. Ele chega a prognosticar dificuldades para Putin em sobreviver a essa “aventura”, com a possibilidade de um golpe interno e o pior pesadelo da Federação Russa se concretizando: o desmembramento da federação em múltiplas repúblicas independentes, transformando-a apenas em Rússia.

A invasão da Ucrânia é vista por Gouveia e Melo como um divisor de águas, mas também como a culminação de um processo anterior: o recuo militar dos Estados Unidos na Europa, iniciado na administração Obama e visivelmente intensificado sob Donald Trump. Ele argumenta que os EUA, potências economicamente superiores, têm questionado a falta de esforço europeu em despesas de defesa. A administração Trump, definida como “transacional” pelo almirante, foca em interesses imediatos em detrimento de aspectos históricos ou ideológicos. Contudo, Gouveia e Melo prevê o fracasso do trumpismo, descrevendo seu modelo econômico mercantilista como defasado e insustentável a longo prazo, levando os EUA a um “America last”, e não “first”. A nação americana, em sua visão, precisaria da Europa, África e América do Sul para manter sua grandeza global.

Visão para uma Nova Economia Transatlântica

O candidato presidencial de Portugal articula uma estratégia ambiciosa para a cultura ocidental. Para competir com o vigor econômico do Índico e do Pacífico, o Ocidente precisaria de um robusto motor econômico centrado no Atlântico. Isso, para ele, implica uma profunda conexão que transcenda o Atlântico Norte, envolvendo ativamente a América do Sul e a África. A justificativa para essa proposta reside principalmente na demografia: enquanto todos os demais continentes se encaminham para um “inverno demográfico”, a África projeta duplicar sua população nos próximos 15 anos.

Nesse contexto, Gouveia e Melo vê Portugal, Brasil e Angola como os três pilares estratégicos da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP). A operacionalização desses vértices, ele acredita, conferiria vantagens únicas, abrangendo mercados europeus, sul-americanos e africanos, solidificando um operador global importante. Tal configuração seria, em sua análise, a única via para os EUA conservarem sua proeminência econômica frente às ascensão do Pacífico e do Índico.

Colonialismo e o Desenvolvimento Africano

Crítico à forma como a China tem atuado na África, Gouveia e Melo traça um paralelo com modelos coloniais históricos. Sua experiência familiar e seu nascimento em Moçambique, onde seus antepassados exerceram importantes cargos políticos coloniais por cerca de 300 anos, confere-lhe uma perspectiva particular. Ele compara o modelo de controle por elites para extração de produtos a baixo custo, adotado no passado por potências europeias como Portugal e Reino Unido, ao padrão atual da presença chinesa no continente africano. Para ele, o caminho correto para o desenvolvimento da África não passa por essa abordagem, mas sim pela implementação de um “plano Marshall” que verdadeiramente invista no continente e, subsequentemente, permita o benefício mútuo de um mercado próspero. Seu próprio retorno a Portugal após a Revolução dos Cravos em 1974, e a subsequente mudança de sua família para o Brasil por quatro anos devido à instabilidade política em Portugal, ilustra a complexidade dessas relações históricas e sociais.

Enquanto seus pais, um advogado e uma secretária bilíngue (inglês), buscavam uma nova vida em São Paulo, o jovem Henrique se estabeleceu em Portugal para seguir sua vocação militar, ingressando na Escola Naval. Seu irmão, no entanto, permanece no Brasil até hoje, casado com uma brasileira e com dois filhos. Henrique Gouveia e Melo construiu uma notável carreira na Marinha Portuguesa, chegando a Chefe do Estado-Maior da Armada antes de ganhar ampla notoriedade em 2021 pela eficaz coordenação da campanha de vacinação contra a Covid-19 no país. Nascido em Moçambique em 21 de novembro de 1960, ele é um candidato com profunda conexão à história e à complexidade das relações atlânticas e lusófonas.

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A candidatura de Henrique Gouveia e Melo traz uma plataforma que mescla pragmatismo econômico, uma visão geopolítica abrangente e uma sensibilidade para as questões migratórias e históricas, com um olhar particular para o Brasil e a África. Para mais notícias e análises sobre a política e a economia globais, continue acompanhando a nossa editoria de Política.

Crédito da Imagem: Patricia de Melo Moreira – 11.set.21/AFP

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