O ativismo político da Geração Z na Ásia tem redesenhado o panorama sociopolítico de diversos países, culminando em profundas transformações e, em alguns casos, na queda de governos. Nascida em um contexto totalmente digital, esta nova geração – compreendendo indivíduos que vieram ao mundo aproximadamente entre 1997 e 2012 – demonstrou uma notável capacidade de mobilização, impulsionada pelo uso estratégico da mídia digital e pela presença marcante nas ruas. Sua agenda tem se voltado contra o autoritarismo, a corrupção generalizada e a persistente desigualdade econômica.
De invasões a palácios de governo a episódios de fuga de chefes de Estado, o impacto do movimento liderado por jovens asiáticos é inegável. Eventos recentes no Nepal, Indonésia e Bangladesh ilustram a crescente insatisfação e a força dessa geração. Eles evidenciam como o vasto conhecimento digital e o engajamento cívico da Geração Z se consolidaram como uma nova força motriz política em uma região que tradicionalmente experimenta desafios relacionados à governança.
Geração Z Lidera Protestos na Ásia: Surge Nova Era de Ativismo
As ondas de contestação varreram o Nepal na semana passada, quando jovens manifestantes, irritados com a proibição de redes sociais e denúncias de corrupção, protagonizaram a derrubada do governo do primeiro-ministro Khadga Prasad Oli. Os protestos escalaram com a invasão e o incêndio de prédios governamentais e residências de ministros, resultando na dissolução do Parlamento e na convocação de novas eleições. Na Indonésia, a insatisfação pública com benefícios considerados excessivos concedidos a congressistas motivou manifestações significativas. O governo do presidente Prabowo Subianto conseguiu, por pouco, manter-se no poder, cedendo às exigências dos jovens ao demitir ministros e revogar certas regalias. Em Bangladesh, protestos estudantis massivos em julho e agosto de 2024 foram instrumentais para encerrar os 15 anos de mandato da primeira-ministra Sheikh Hasina, forçando sua fuga para a Índia. No Sri Lanka, tumultos em 2022, em meio a uma profunda crise econômica, culminaram na deposição do então presidente Gotabaya Rajapaksa.
A Ascensão do Ativismo Digital na Região Asiática
O surgimento desses movimentos tem levado especialistas a estabelecer paralelos com a Primavera Árabe, uma série de protestos que ocorreram no Oriente Médio e Norte da África no início da década de 2010. Aqueles eventos foram impulsionados por uma insatisfação disseminada com a corrupção e dificuldades econômicas, resultando na queda de vários governos, incluindo os da Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen. No entanto, o desfecho da Primavera Árabe frequentemente levou a anos de instabilidade e transições de poder frágeis.
Apesar das particularidades políticas de cada nação asiática, as razões subjacentes que desencadeiam a agitação são notavelmente similares às que alimentaram a Primavera Árabe. Especialistas apontam para uma frustração generalizada com a corrupção, as adversidades econômicas e a má governança como fatores predominantes no Sri Lanka, Bangladesh e Nepal. Um artigo detalhado sobre as raízes dos movimentos sociais na região pode ser encontrado em fontes como a Al Jazeera, que frequentemente cobre temas de ativismo juvenil e política no continente.
Redes Sociais e a Formação de Novas Lideranças
A professora Annisa R. Beta, da Universidade de Melbourne, sublinha o papel crucial das redes sociais na amplificação do descontentamento e na facilitação das manifestações coordenadas por jovens. Ela argumenta que a facilidade de comunicação e organização provida pela mídia digital tornou quase impossível o controle centralizado sobre essa geração. Em entrevista à agência Deutsche Welle, Beta destacou que “as gerações mais jovens, a geração Z, a geração Alfa, não estão interessadas em ser lideradas por apenas uma figura carismática”. Os jovens, ela observa, identificam-se mais com movimentos descentralizados, focados firmemente em objetivos comuns, em contraste com modelos de liderança tradicionais.
Ishrat Hossain, pesquisadora do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), corrobora essa perspectiva, observando que “em muitos casos, as plataformas digitais sociais amplificaram o impacto dos protestos nas ruas e forneceram meios para o surgimento de líderes não tradicionais, como rappers e hackers”. Essa capacidade de auto-organização e a aceitação de diferentes formas de liderança representam um desvio significativo das estruturas hierárquicas observadas em movimentos passados, mostrando a força inerente ao ativismo digital.
Uma Mudança Geracional: Os Despertadores Políticos do Amanhã
No epicentro do movimento da Geração Z no Nepal, o músico Rajat Das Shrestha emergiu como uma das figuras mais proeminentes. Ele defende que, apesar das particularidades de cada nação, as causas subjacentes da agitação na Ásia são consistentemente as mesmas. “Acredito que a corrupção e a mentalidade autoritária dos governos não são problemas apenas do Nepal ou de Bangladesh. Elas existem em graus variados em toda a região”, afirmou Shrestha, que identifica um padrão emergente em toda a Ásia.
Para Shrestha, as mensagens de Bangladesh e Sri Lanka foram inequívocas: “governos podem cair quando os jovens se levantam.” Ele alerta que, se os governantes persistirem em “ignorar os sonhos e as frustrações dos jovens”, eventos semelhantes fatalmente ocorrerão em outros países da região. Annisa Beta reitera que este movimento juvenil transcende um fenômeno passageiro, configurando uma verdadeira mudança geracional. “Esperamos um processo contínuo, um despertar político contínuo, marcado pela Geração Z. Mas também veremos isso muito claramente entre as gerações Alfa e Beta”, concluiu, referindo-se aos nascidos a partir de 2010.
Caminhos Diversos e o Futuro dos Movimentos
Embora as causas e os catalisadores desses movimentos na Ásia compartilhem semelhanças, o trajeto pós-protesto de cada país segue uma trajetória única. O Sri Lanka, por exemplo, tem demonstrado uma notável capacidade de recuperação. Nos últimos três anos, o país restaurou sua estabilidade política e econômica, e sua economia apresenta crescimento em um ritmo aceitável, sinalizando uma forte recuperação de sua crise financeira mais grave em décadas. A Indonésia, por sua vez, conseguiu manter seu sistema político atual, superando os recentes protestos sem instabilidade sistêmica profunda.
Bangladesh, em contrapartida, encontra-se em uma posição de maior fragilidade. O país navega em um impasse complexo entre a necessidade de reformas abrangentes e a pressão por eleições democráticas, correndo o risco de mergulhar em um caos ainda maior. Hossain, do Giga, mantém-se “cautelosamente otimista” quanto aos próximos passos da região. Ela enfatiza que “sem a institucionalização de demandas de protesto mais amplas – por meio de mecanismos legais, alocação orçamentária e estruturas de supervisão – as vitórias de hoje podem se tornar a nostalgia de amanhã”. Isso ressalta a importância de transformar o fervor das ruas em mudanças estruturais duradouras.
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O ativismo da Geração Z está inequivocamente redefinindo a política asiática, mostrando a resiliência e a influência do engajamento juvenil em um mundo cada vez mais conectado. Para acompanhar as últimas novidades sobre a influência desses movimentos e suas repercussões, explore mais artigos em nossa editoria de Política.
Foto: AP Photo/Niranjan Shrestha
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