O Gado Purunã, raça bovina que é orgulho do Paraná, tem se destacado significativamente no cenário do agronegócio nacional. Resultado de quatro décadas de pesquisa e aprimoramento genético, essa linhagem demonstra notável eficiência produtiva e um padrão de qualidade de carne que a posiciona como um dos expoentes da pecuária brasileira.
O percurso até a criação da raça Purunã exemplifica como a persistência em pesquisas e testes pode culminar em excelência e inovação. A história, assim como a teoria da gravidade de Newton ou a missão Apollo XI, frequentemente revela que avanços significativos são construídos sobre inúmeras tentativas e aprendizados passados. No agronegócio, essa filosofia se materializou no desenvolvimento de uma raça considerada ideal através de meticulosos estudos genéticos.
Gado Purunã: Eficiência Produtiva e Qualidade de uma Raça Pioneira
A gênese da raça, a única genuinamente paranaense e exclusiva de um estado brasileiro, ocorreu a partir de extensos trabalhos conduzidos pelos pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), antiga instituição Iapar (Instituto Agronômico do Paraná). Foi na Estação Experimental Fazenda Modelo, localizada em Ponta Grossa, cidade reconhecida como a capital dos Campos Gerais paranaenses, que a equipe iniciou em 1980, na primavera, os estudos que buscavam desenvolver essa nova linhagem.
As Raízes da Criação: Quarenta Anos de Estudo Genético
O propósito inicial da pesquisa era a concepção de uma nova raça através de cruzamentos seletivos entre diversas linhagens bovinas já existentes. As raças selecionadas para compor o perfil genético do Purunã foram o caracu, charolês, aberdeen angus e canchim. Este meticuloso processo, que envolveu inúmeros testes e cruzamentos ao longo de 40 anos, culminou no reconhecimento da raça Purunã como uma inovação da pecuária.
O nome “Purunã” é uma homenagem à majestosa Serra do Purunã, uma formação geográfica emblemática que se estende entre Ponta Grossa, onde os estudos, cruzamentos e a seleção do rebanho ocorreram, e Curitiba, a capital paranaense. A associação com essa região robustece a identidade e a singularidade dessa linhagem.
Impacto e Crescimento da Raça Purunã no Brasil
Atualmente, o impacto do Gado Purunã se estende por todas as regiões do Brasil, contando com o apoio de 32 associados da Associação dos Criadores de Purunã. A soma do rebanho registrado ultrapassa os 12 mil animais em todo o território nacional. Notavelmente, o estado do Paraná mantém sua posição de destaque, concentrando 40% dos criadores dessa raça inovadora.
Entre os criadores que personificam o sucesso da raça está Ernesto Dall Agnol, proprietário da Fazenda Santo Antônio, situada no distrito de São Salvador, em Cascavel. Com uma trajetória diversificada que incluiu consultoria contábil, pós-graduação rural e a direção do Colégio Agrícola de Toledo, Ernesto aplicou sua vasta experiência ao campo. Em 2017, após dez anos de aposentadoria, ele iniciou a criação do gado Purunã, buscando um refúgio da vida urbana. “Eu estava cansado. Dez anos aposentado, decidi fugir da cidade e comprei a primeira área… para não ficar parado, comecei com o gado”, compartilha o pecuarista, cuja fazenda, hoje em plena expansão, se destacou por essa escolha.
Características Marcantes: Precocidade e Habilidade Materna
Ernesto conheceu o Gado Purunã em 2016, durante o Show Rural Coopavel, uma das maiores feiras de agronegócio da América Latina. Lá, uma palestra ministrada pelo então Iapar (hoje, Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – IDR-Paraná) e a exposição dos animais cativaram-no. “Me encantou a precocidade. Enquanto as outras raças vendem dois lotes de animal, você vende três, e com 18 a 20 meses, o purunã vai para o frigorífico”, afirma Ernesto, ressaltando o ganho produtivo. Além disso, ele destaca a docilidade da raça, o bom marmoreio da carne e a excepcional habilidade materna das fêmeas, tornando o Purunã uma opção completa para a pecuária.

Imagem: g1.globo.com
Com um rebanho inicial de Purunã puro, que hoje soma 150 cabeças em São Salvador, Ernesto também realiza cruzamentos estratégicos com nelore, devon e tabapuã. Esses cruzamentos, conhecidos por gerarem “choque de sangue”, resultam em animais mais robustos. A raça Purunã imprime características como a precocidade, permitindo que os animais atinjam entre 18 e 20 arrobas para abate aos 16 a 18 meses. As vacas Purunã também transmitem a habilidade materna do caracu — mansas, dóceis e com boa produção de leite — enquanto as qualidades de carne do charolês, canchim e o marmoreio do angus são também herdadas, conferindo uma raça versátil e de alta qualidade.
Um dos pontos que mais impressionou Ernesto foi a notável precocidade do bezerro Purunã. “O purunã nasce pequeno, em média de 28 a 35 quilos, então isso é uma facilidade de parto. Em 25 dias, ele já vai para 65 quilos. Ele se desenvolve rápido, é um bezerro precoce e a mãe tem bastante leite”, explica o pecuarista. Essas características tornam o Purunã ideal não só para frigoríficos, devido ao bom rendimento de carcaça e acabamento da carne, mas também para o consumidor, que desfruta de uma carne macia e com excelente marmoreio, e para os pecuaristas, que se beneficiam da rusticidade, facilidade de parto, bom ganho de peso e forte habilidade materna.
Projeções Futuras e a Expansão da Raça
Ernesto tem planos de expandir seu rebanho para 300 cabeças de gado. “Hoje nós já estamos com 50% do plantel de matrizes. Devagarinho vai, não adianta pensar em ser grande, porque nós não temos área para cá”, finaliza o produtor rural, demonstrando uma visão estratégica e realista sobre o crescimento.
Outro criador que enxergou o potencial do Gado Purunã foi Piotre Laginski, pecuarista do distrito de Rio do Salto, também em Cascavel. Antes, sua fazenda, junto com seu pai, dedicava-se à criação de canchim. O contato de Piotre com a raça Purunã se deu durante a faculdade em Curitiba, na Feira do Paraná. Ele ficou intrigado pela sua origem focada em atender as exigências dos consumidores. “Foi uma escolha técnica, uma paixão”, complementa o veterinário.
Em 2009, Piotre iniciou a criação, focado no melhoramento genético. Sua meta não é apenas comercializar touros, mas garantir que cada animal ofereça um retorno significativo à propriedade. Além de otimizar a genética, Piotre almeja expandir a raça Purunã para outras regiões do país. “Os planos da nossa propriedade são levar uma parcela do rebanho puro do purunã para o Nordeste, com o objetivo de regionalizar ele mais no país e com volume de produção”, revela o pecuarista, demonstrando um plano de nacionalização da raça.
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A saga do Gado Purunã é um testamento do potencial da ciência aplicada à pecuária e da dedicação de criadores que buscam inovação e excelência. Sua notável eficiência, aliada à qualidade superior da carne, solidifica o Purunã como um investimento valioso para o futuro do agronegócio brasileiro. Para mais informações e notícias sobre inovações e desenvolvimento rural, continue explorando o Hora de Começar.
Crédito da imagem: Divulgação/Vinícius Schmitt
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