Flup 2025: Conceição Evaristo é a 1ª Homenageada em Vida

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A escritora Conceição Evaristo é destaque na 15ª edição da Festa Literária das Periferias (Flup), no Rio de Janeiro, com uma distinção inédita. Considerada uma das vozes mais significativas da literatura contemporânea brasileira, Evaristo se torna a primeira personalidade a ser homenageada em vida na história do renomado festival, marcando um momento de celebração e reconhecimento profundo de sua obra e impacto cultural.

De acordo com Julio Ludemir, diretor, curador-geral e idealizador da Flup, a escolha da autora celebra a “escrevivência”, conceito que Evaristo cunhou, como um ato tanto político quanto poético. Este gesto, segundo Ludemir, tem o poder de “reencantar o mundo”, redefinindo narrativas a partir das perspectivas de vozes negras e oriundas das periferias.

Flup 2025: Conceição Evaristo é a 1ª Homenageada em Vida

A decisão de honrar a escritora em vida representa um novo capítulo na tradição da Flup, que historicamente celebrava legados postumamente ou de forma coletiva. Em edições anteriores, o festival reconheceu figuras de grande relevância, como a historiadora Beatriz Nascimento (2024), Machado de Assis e Mãe Beata de Iemanjá (2023), Pixinguinha (2022), Aldir Blanc (2021), e duplas como Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus (2020), todas em cenários e momentos diversos, consolidando a Flup como um espaço crucial para a valorização da cultura e memória brasileira.

Julio Ludemir sublinha que, embora a Flup tenha um histórico de homenagens e tributos, esta é a primeira vez que o festival assume o “desafio de honrar um autor em vida”. Esse fato, segundo ele, aumenta a responsabilidade e a oportunidade de “partilhar com Conceição toda e qualquer ideia” no processo de celebração e festejo, destacando a aceitação mútua desse compromisso entre a escritora e a organização do evento. A história da própria Flup, na visão do idealizador, espelha o percurso e a influência de Conceição Evaristo.

O diretor da Flup ainda afirmou à Agência Brasil que o crescimento constante do festival e a visibilidade alcançada nos últimos anos dialogam intimamente com a ascensão do público leitor de Conceição Evaristo, cujo trabalho ganha cada vez mais admiradores. Essa expansão de ambos os fenômenos é um reflexo do “Brasil da Conceição Evaristo”, que consistentemente atrai novos leitores e olhares. A homenagem, para Ludemir, transcende a figura da escritora e simboliza o reconhecimento de um novo panorama nacional, moldado pelas ações afirmativas e cotas raciais. Tal processo tem promovido uma dessensibilização e transformação impulsionadas, em grande parte, por políticas públicas efetivas.

Julio Ludemir avalia que, no Brasil, as ações afirmativas tiveram um impacto mais amplo e acelerado do que em outros lugares. Elas foram fundamentais para o surgimento de uma “nova intelectualidade” e uma “nova classe artística”, movimentos que Conceição Evaristo representa com maestria. Homenagear a autora é, portanto, celebrar sua vasta obra, sua militância incansável e sua inspiradora biografia. A relevância dessas facetas reside precisamente em seu profundo diálogo com o “Brasil popular”, com as “mulheres negras”, e com um país que, persistentemente, produz utopias. Em um comentário de forte impacto, Ludemir citou a visão da mulher negra grávida como um símbolo eterno de esperança e futuro para um povo que, apesar de toda a opressão da escravidão, “jamais deixou de olhar para o futuro”, acreditando na essência do “crescei e multiplicai-vos”, em uma perspectiva de fé e perseverança.

Ludemir pontua que, ao prestigiar Conceição Evaristo, a Flup celebra não apenas uma artista, mas a voz, o corpo, a trajetória e a produção literária desse “Brasil novo”. Esse é um país que, apesar de enfrentar desafios persistentes como homofobia, transfobia e a violência contra mulheres, é também o palco para o surgimento de um fenômeno global como Evaristo. Sua obra tem a capacidade de tocar o coração das pessoas de forma similar à que Jorge Amado alcançou no imaginário brasileiro, proporcionando uma conexão imediata com a história e o cotidiano do país a cada vírgula lida.

Para Ludemir, além de seu papel literário e social, Conceição Evaristo consegue despertar o amor de uma maneira rara na história do Brasil. Sua presença reverbera nas crianças e mulheres negras que a idolatram, assim como naqueles que buscam sua proximidade para fotos. Isso, conforme o idealizador da Flup, não se trata de mero “fascínio de fã”, mas de um processo de “se ver na Conceição Evaristo”. Ao homenageá-la, a Flup reverencia o próprio Brasil: um país que resistiu a ditaduras, um país que condenou Bolsonaro, ao contrário dos Estados Unidos em um de seus processos recentes. A honraria simboliza, em essência, o legado de um povo que “nunca desistiu da possibilidade de criar um país melhor para seus filhos”.

Programação da Flup 2025

Com o tema central “Ideias para Reencantar o Mundo: Escrevivências, Sonhos e Batidões”, a Flup 2025 acontecerá em duas etapas, entre os dias 19 e 23 de novembro e de 27 a 30 de novembro. Os eventos se distribuirão por importantes locais como o Viaduto de Madureira e a Central Única das Favelas (CUFA), ambos no bairro de Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro. No primeiro fim de semana, a CUFA sediará o Festival Literário da Igualdade Racial (FLIIR), que contará com mesas de debate e oficinas dedicadas à valorização da literatura negra e indígena. Concomitantemente, o espaço Zê êne receberá as semifinais do Slam BR, o Campeonato Brasileiro de Slam Poetry, com duas competições de poesia falada, marcadas para 19h às 21h e das 21h30 às 23h30. No segundo fim de semana, o Zê Êne receberá atividades das editoras parceiras, e a CUFA terá uma exposição especial em homenagem ao renomado cineasta britânico Steve McQueen.

Flup 2025: Conceição Evaristo é a 1ª Homenageada em Vida - Imagem do artigo original

Imagem: Hildemar Terceiro via agenciabrasil.ebc.com.br

Considerada uma das festas literárias mais significativas do Brasil, a Flup é um ambiente vibrante de convergência entre palavra, corpo e território. O evento celebra vigorosamente a imaginação e a escrita como práticas de resistência e de reconstrução simbólica. A programação da 15ª edição da Flup agregará escritores, artistas e pensadores oriundos de diversas partes do mundo, incluindo Brasil, África, Caribe, América do Norte e Europa. Além da presença confirmada de Conceição Evaristo em todos os dias do festival, participarão personalidades como Achille Mbembe, Ana Maria Gonçalves, Mireille Fanon Mendès-France, Eliana Alves Cruz e o já mencionado Steve McQueen. No segmento musical, estão previstas performances de grandes nomes como Sandra Sá, Mano Brown, Luedji Luna, Jonathan Ferr e Majur.

A curadoria internacional da Flup, uma continuidade da edição anterior, é assinada pela professora e pesquisadora franco-senegalesa Mame-Fatou Niang. Ela expressou sua surpresa e considerou um desafio profundo a tarefa de compreender a complexa presença negra na cultura brasileira, conforme declarou em texto divulgado pela Flup. Niang, que cresceu assistindo a novelas brasileiras, admirando Pelé e o Carnaval, relatou não ter plena consciência de que o Brasil era um país majoritariamente negro, por não ser essa a imagem predominante divulgada.

Flup e a Temporada Cultural França-Brasil

Inserida na programação oficial da temporada cultural França-Brasil, a Flup assume uma função de protagonismo, reforçando sua vocação como espaço essencial para o intercâmbio de saberes periféricos, a preservação de línguas ancestrais e a celebração de músicas e tradições que perpassam o tempo e diversos territórios. Ludemir destaca a França, o Instituto Francês e a embaixada francesa como os parceiros mais constantes e dedicados na trajetória do festival, assegurando suporte financeiro e presenças importantes mesmo em períodos de escassez cultural no Brasil, incluindo os governos Temer e Bolsonaro, quando não havia Ministério da Cultura. Essa sólida parceria franco-brasileira levou à inclusão natural da Flup no Ano França-Brasil.

Ludemir salienta que a Flup, enquanto iniciativa, primeiro conquistou reconhecimento internacional antes de se firmar plenamente no Brasil. A ideia de criar um festival literário em uma favela do Rio de Janeiro foi abraçada pela França logo no início, abrindo portas e viabilizando o projeto. Essa visão inovadora tem sido recompensada e, recentemente, a Flup restabeleceu sua parceria com o Reino Unido, obtendo apoio através de edital do British Council. Para informações mais aprofundadas sobre ações culturais de promoção à igualdade racial, é possível consultar fontes de agências de notícias oficiais, que frequentemente abordam políticas e eventos nesse campo.

Este reconhecimento a Conceição Evaristo na Flup 2025 não é apenas uma celebração de sua genialidade literária, mas também um eco de um Brasil que, por meio de vozes potentes e da cultura, se reafirma e busca reencantar seu próprio destino. A Festa Literária das Periferias continua a ser um farol de resistência e um catalisador de mudanças, oferecendo uma plataforma para que novas perspectivas sejam ouvidas e valorizadas.

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Crédito da imagem: Hildemar Terceiro/Divulgação

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