Um cenário de alívio e esperança emerge após o cessar-fogo entre Israel e o grupo Hamas. A avaliação de que um retorno ao conflito é “pouco provável” domina as análises, conforme o historiador João Miragaya em diálogo com Natuza Nery, transmitido no podcast “O Assunto” da última sexta-feira, 10 de maio. Para Miragaya, especialista com mestrado em História pela Universidade de Tel Aviv e assessor do Instituto Brasil-Israel, existem “todos os indicativos para ser otimista em muito tempo” em relação à durabilidade da trégua.
O estudioso apontou que as condições aceitas pelo grupo Hamas para o acordo de cessar-fogo são fortes sinais de que a guerra se aproxima de um desfecho definitivo. A principal moeda de barganha do grupo, os reféns israelenses mantidos desde outubro de 2023, teria sido “aberta mão” apenas mediante garantias explícitas de que Israel não retaliaria novamente a Faixa de Gaza. Essas garantias, de acordo com diversas fontes citadas por Miragaya, foram oferecidas pelos Estados Unidos e pelo Catar.
Fim da Guerra Israel Hamas? Retorno É Pouco Provável, Diz Expert
A implicação, segundo o historiador, é profunda. “A gente pode ter bastante confiança que, desta vez, é muito pouco provável que a guerra volte”, declarou. Os Estados Unidos, por sua vez, teriam um interesse geopolítico em sustentar o acordo. Apoiar novos ataques a Gaza significaria trair a confiança de importantes aliados no mundo árabe-islâmico, como o Catar, a Turquia e o Egito, nações que exerceram pressão para que as garantias fossem concedidas pelo governo Trump. Assim, de fato, “dessa vez a gente pode ficar confiante que o acordo vai sair e essa guerra vai terminar”, concluiu Miragaya.
Detalhes da Implementação do Cessar-Fogo em Gaza
O cessar-fogo oficial na Faixa de Gaza teve início às 6h (horário de Brasília) na sexta-feira, 10 de maio, conforme comunicado pelo Exército israelense. A trégua foi instaurada horas depois que o governo de Israel ratificou o acordo de paz estabelecido com o grupo terrorista Hamas. Quase que imediatamente, milhares de palestinos, que haviam sido deslocados por conta do avanço das tropas israelenses, iniciaram seu percurso de retorno às suas residências, em uma imagem que reflete a esperança de normalização após longos meses de conflito.
Agências de notícias internacionais documentaram imagens impactantes de longas colunas de pessoas deslocando-se em uma estrada costeira na mesma sexta-feira. A agência Reuters chegou a registrar nuvens de fumaça sobre o céu de Gaza mesmo após o início do cessar-fogo, sobre o que o governo israelense não emitiu manifestações até a última atualização da reportagem original. Em nota, o Exército de Israel mencionou que “continuará eliminando qualquer ameaça imediata”, sem especificar, no entanto, a natureza dessas ameaças ou como essa eliminação se alinharia com a nova fase de trégua.
Uma parte crucial do acordo envolveu o recuo estratégico das tropas israelenses dentro de Gaza. Elas se reposicionaram para uma linha previamente acordada, passando a ocupar aproximadamente 53% do território palestino, uma redução significativa em comparação aos 75% que estavam sob seu domínio antes da trégua. Um porta-voz do Exército israelense orientou os palestinos a não acessarem as áreas que ainda permanecem sob controle militar, visando “garantir o cumprimento do acordo e a segurança de todos” e prevenir novos confrontos que pudessem abalar a fragil trégua.
O Acordo de Paz: Termos Principais e Negociações Envolvidas
A ratificação formal do acordo para um cessar-fogo e a devolução dos reféns pelo Hamas foi aprovada pelo governo de Israel na noite de quinta-feira. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu havia comunicado que a interrupção das hostilidades entraria em vigor em até 24 horas após essa aprovação. O plano, inicialmente proposto pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estipula a libertação de 48 reféns israelenses detidos pelo Hamas em um período de 72 horas a partir do começo do cessar-fogo. Este prazo já começou a correr, segundo informações de Netanyahu, representando uma janela crítica para a resolução do cativeiro.
Pontos Essenciais do Plano de Paz para Gaza
O plano de paz completo foi apresentado em fins de setembro pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, e teve a mediação crucial de nações como Egito, Catar e Turquia, fundamentais para estabelecer um canal de diálogo entre as partes em conflito. A seguir, os principais termos acordados que visam estabilizar a região:

Imagem: g1.globo.com
- Situação dos Reféns: Israel contabiliza que 48 dos 251 indivíduos sequestrados durante o ataque terrorista de 2023 ainda estão em poder do Hamas. Destes, estima-se que apenas 20 estejam vivos. O plano norte-americano estabelece um período de 72 horas para que o Hamas liberte todos os reféns, tanto os vivos quanto os corpos dos falecidos. Houve relatos na imprensa americana de que o grupo terrorista solicitou mais tempo para localizar os corpos das vítimas, alegando desconhecimento de todos os locais de enterro e a necessidade de realizar buscas complexas. Em contrapartida, espera-se que Israel liberte cerca de 2 mil prisioneiros palestinos, o que incluiria aqueles condenados à prisão perpétua, configurando uma troca significativa.
- Cessação dos Ataques em Gaza: Uma das cláusulas mais esperadas é o encerramento imediato dos bombardeios e operações militares na Faixa de Gaza. Trump indicou que as Forças de Defesa de Israel recuariam para linhas previamente acordadas com o Hamas, sinalizando a permanência de tropas israelenses em porções do território palestino em uma nova configuração tática. A GloboNews, após consulta às Forças de Defesa de Israel, confirmou que o país concordou em reduzir sua área de ocupação em Gaza de 75% para 57% na fase inicial. Já a Casa Branca havia previsto uma retirada progressiva das tropas do território. O chefe do Estado-Maior de Israel instruiu as tropas a se prepararem para diversas eventualidades e para a complexa operação de retorno dos reféns. A mídia israelense também noticiou ordens para a redução da ofensiva militar já nos dias anteriores ao acordo formal.
- Definição do Início Efetivo do Cessar-Fogo: Embora a data de início oficial de todos os aspectos do acordo ainda não esteja completamente clara para o público em geral, a votação interna do governo israelense, realizada na quinta-feira, foi um procedimento formal e fundamental para a legalização da trégua. Processos semelhantes foram observados nos dois acordos de cessar-fogo anteriores, firmados em novembro de 2023 e janeiro de 2025. A agência AFP informou que a assinatura formal do acordo deveria ocorrer às 6h da quinta-feira (horário de Brasília). Donald Trump tem planos de visitar Israel nos próximos dias, convidado a discursar no Parlamento, e mencionou a possibilidade de também visitar a Faixa de Gaza, o que evidenciaria a importância americana na articulação do acordo.
Aspectos Pendentes e Desafios para a Estabilidade Regional
Apesar do anúncio do acordo, vários detalhes ainda demandam esclarecimento. Não está confirmado, por exemplo, se a totalidade do plano apresentado pela Casa Branca foi aceita integralmente por Israel e pelo Hamas, ou se foram introduzidas modificações substantivas. Em declaração por meio de rede social, Trump descreveu este momento como a “primeira fase” e os “primeiros passos” rumo à paz, sugerindo que pontos adicionais precisarão ser discutidos para a implementação completa e sustentável do plano. No entanto, a imprensa israelense divulgou que as questões consideradas mais sensíveis do acordo já teriam sido resolvidas nos bastidores das negociações.
Permanece a incerteza sobre a transição governamental na Faixa de Gaza, um tema que a Casa Branca propôs mas não teve os detalhes confirmados publicamente pelas partes. Da mesma forma, não há confirmação pública de que o Hamas tenha assumido o compromisso de desarmar-se, uma questão crucial para a segurança e estabilidade regional de longo prazo. O caminho para a paz definitiva ainda reserva desafios complexos e a necessidade de engajamento contínuo, mas o cessar-fogo atual representa um avanço significativo nas negociações do conflito.
A relevância deste acordo internacional não se restringe apenas ao Oriente Médio; ela ressoa globalmente, influenciando o cenário geopolítico e as dinâmicas de poder entre grandes nações e seus aliados. O papel dos mediadores e dos Estados Unidos é crucial, indicando a complexidade e a delicadeza envolvidas em cada etapa de negociação para a estabilização da região e para a garantia de que os acordos serão cumpridos. Para mais detalhes sobre a política externa americana na região, confira análises em instituições de renome.
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Este cenário de negociação complexa e as implicações geopolíticas profundas serão temas que continuaremos a acompanhar de perto. Para aprofundar seu entendimento sobre questões políticas e estratégicas que afetam o Brasil e o mundo, continue explorando nossa editoria de Política e fique por dentro das últimas análises e desenvolvimentos, contribuindo para uma visão mais completa e informada dos acontecimentos globais.
Crédito da imagem: REUTERS/Dawoud Abu Alkas



