Seis anos após um desfecho trágico que abalou o início de 2019, a família de Lucas Lopes em Sorocaba permanece em uma incessante busca por justiça. O que deveria ser um momento de celebração e renovação, a virada de ano, transformou-se em luto e na árdua luta por respostas e responsabilização pela morte do jovem de 23 anos, que, segundo relatos familiares, teria sido espancado até a morte por policiais militares em 1º de janeiro de 2019.
Os fatos ocorreram no bairro Ana Paula Eleutério, popularmente conhecido como Habiteto, na zona norte de Sorocaba, São Paulo. Lucas havia saído para celebrar o Réveillon com amigos quando, de acordo com o irmão, Matheus Lopes, foi alvo de uma operação policial direcionada a bailes funk de rua. Ele estava correndo pela rua quando foi abordado, resultando em uma perseguição que terminou dentro da casa de um vizinho, onde as agressões teriam acontecido.
Família de Lucas Lopes em Sorocaba ainda busca justiça seis anos após morte
Matheus Lopes detalhou que o irmão, em meio à festa, foi perseguido por agentes que, conforme a família, atuavam em uma repressão contra os jovens que estavam nas ruas. “Ele estava curtindo com os amigos e correndo na rua, mas havia um policial que estava atrás de toda a ‘molecada’ que estava na rua, como uma forma de repressão e não ficar na rua. Eles correram em direção ao meu irmão, que foi direto para a casa de um vizinho nosso, mas foi alcançado. A partir disso, ele começou a apanhar muito”, recordou Matheus, que ainda contou que Lucas foi defendido por moradores da região, sem sucesso.
A narrativa do policial, segundo Matheus, mudou. Inicialmente, o agente teria afirmado que Lucas roubara um carro, mas, diante dos vizinhos que conheciam o jovem como trabalhador, a versão foi alterada para um suposto arremesso de pedra contra a viatura. A família só conseguiu intervir quando Lucas já estava desacordado. “Quando eu e minha mãe chegamos para socorrê-lo, ele já estava desmaiado”, afirma Matheus. A tentativa de socorro dos familiares foi, ainda de acordo com ele, recebida com hostilidade; o policial teria sacado uma arma e ameaçado atirar se eles se aproximassem. A mãe de Lucas, em seu instinto protetor, chegou a confrontar o agente, recebendo como resposta a exigência de que, para nada acontecer com o filho, ele deveria ser mantido em casa.
Mesmo inconsciente no chão, Lucas Lopes ainda fez um esforço para movimentar um dedo, buscando refutar as acusações. Apesar da gravidade do estado do jovem, os policiais teriam se recusado a prestar socorro. Lucas permaneceu cerca de meia hora desacordado antes de a família, sem apoio dos agentes, ser orientada a “tirá-lo dali”. “Eu coloquei o meu irmão no carro e dirigi com uma mão no volante e outra tentando fazer massagem cardíaca nele, mas ele não conseguia respirar e cuspia muito”, lamentou o irmão. No Pronto Atendimento, Lucas chegou a ser reanimado após perder o pulso e foi entubado antes de ser transferido para a UTI, mas, uma hora depois, veio a óbito. Na época, uma amiga da família informou ao g1 que Lucas estava sob efeito de bebidas alcoólicas.
O Legado de Lucas Lopes: Extroversão e uma Família Marcada pela Perda
Lucas Lopes era descrito pela família como uma pessoa extrovertida, cheia de amigos e com um grande apreço pela vida. Pouco antes do incidente fatal, o jovem dedicava-se à venda de roupas, comprando peças na capital paulista com o irmão mais velho, Israel, e revendendo-as no interior. “O Lucas era uma pessoa muito conhecida e amada por muita gente. Quando ele morreu, nós fizemos uma passeata como forma de protesto e, até então, eu nunca havia visto tanta gente reunida na minha vida”, compartilhou Matheus.
A união familiar, mesmo diante das adversidades, era um pilar. Os irmãos, ensinados pela mãe a seguir um caminho de retidão, expressam grande indignação pela forma como Lucas foi tratado. “Eu sou uma pessoa suspeita para falar, mas ele era uma pessoa muito feliz, que gostava de dançar, de estar perto dos amigos e de fazer todos darem risada. Se os policiais não tivessem abordado ele dessa forma, isso não teria acontecido. Eles não quiseram nem saber quem era o Lucas ou o que ele fazia da vida. Ele era só alegria”, ressalta Matheus.
Luta Por Justiça Enfrenta Dores Incomensuráveis na Família
A figura central na luta por justiça pela morte de Lucas Lopes era sua mãe, Cecília, que infelizmente faleceu há quatro meses sem presenciar o desfecho do caso do filho. Sua determinação era um pilar: “Minha mãe dizia a todo custo que não ia descansar enquanto não visse a justiça sendo feita e que ia devolver com amor tudo o que entregaram a ela com raiva”, relatou Matheus. A dor da perda motivou Cecília a intensificar suas ações filantrópicas e a criar uma ONG para auxiliar outras pessoas em luto. Além disso, a família enfrentou outra tragédia com a perda da filha de Israel, irmão de Lucas, em decorrência de leucemia, cerca de dois anos e meio após a morte de Lucas. “Mesmo assim, nós estamos de pé e enfrentando essa luta”, declara Matheus.
Diante da iminência do júri popular do policial acusado de envolvimento na morte de Lucas Lopes, foram realizadas recentes mobilizações em Sorocaba. A Câmara Municipal da cidade organizou uma audiência coletiva na sexta-feira anterior (18 de fevereiro, conforme o calendário à época da notícia original), enquanto os familiares promoveram um culto ecumênico em homenagem a Lucas no bairro de sua moradia, no dia seguinte.
Júri Popular: MP Denuncia Caso de Agressão Resultante em Morte
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP), por meio do promotor Antônio Farto Neto, denunciou o caso como agressão que resultou na morte da vítima. O promotor esclareceu que o julgamento, agendado para esta quinta-feira (22 de fevereiro), acontecerá normalmente, mesmo se o réu – um policial militar já aposentado – não comparecer. “Ele é obrigado a comparecer em todos os autos do processo e, independente disso, o policial corre o risco de ser condenado”, pontuou Farto Neto.
A decisão do MP-SP de denunciar o caso se baseia em um conjunto de provas consideradas suficientes para sustentar uma acusação. O promotor destacou a dedicação do Ministério Público em analisar exaustivamente as evidências, tanto da acusação quanto da defesa, reforçando o compromisso com a justiça e a transparência. Ele também salientou a singularidade e a importância do júri popular no sistema judicial brasileiro, onde a própria sociedade é responsável por avaliar as evidências e proferir um julgamento. “O único caso e local do país onde a própria sociedade senta, avalia a acusação, a defesa e julga é o júri. A transparência dele é importantíssima para todos nós”, frisou Farto Neto. Para mais informações sobre a estrutura e atuação do sistema judicial no país, o Conselho Nacional de Justiça oferece diversos dados. O promotor reafirmou que o assassinato é um evento “absurdo”, mesmo diante da gravidade de acidentes ou erros médicos.
Na ocasião da apuração original da notícia, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) foi contatada para se posicionar sobre o caso, mas não houve retorno até a publicação. A persistência da família Lopes em Sorocaba simboliza a incessante busca por respostas e punição pelos responsáveis na esperança de finalmente alcançar a tão aguardada justiça para Lucas.
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