A Exposição ‘Um rio não existe sozinho’, uma parceria inovadora e sem precedentes, está transformando o tradicional Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, em um percurso de arte viva e reflexão. Aberta ao público até o final de dezembro de 2025, esta mostra coletiva apresenta obras inéditas de nove artistas, proporcionando uma experiência profundamente imersiva. Os visitantes são convidados a testemunhar a fusão entre arte, fauna, flora e o robusto ecossistema amazônico, ecoando mensagens vitais dos povos da floresta e um alerta urgente para a preservação da maior floresta tropical do planeta.
Esta iniciativa representa a primeira grande colaboração entre o Instituto Tomie Ohtake, reconhecido como um dos mais prestigiados centros de arte do Brasil, e o Museu Paraense Emílio Goeldi, uma instituição centenária e referência inquestionável na pesquisa científica da Amazônia. Juntos, eles conceberam uma plataforma onde a ciência, o meio ambiente e a arte contemporânea convergem para ampliar o diálogo sobre sustentabilidade e herança cultural na região.
Exposição ‘Um rio não existe sozinho’ celebra arte e Amazônia
A curadora do Instituto Tomie Ohtake, Sabrina Fontenele, sublinha a relevância da localização, notando que o parque funciona como “uma ilha de biodiversidade” em meio a um cenário global de colapso ambiental, o que, para ela, serve como um “lembrete do que está em jogo”, refutando a ideia de escapismo. Vânia Leal, curadora convidada da exposição, reforça essa perspectiva ao afirmar que “a floresta não é cenário, mas um sujeito político ativo e pulsante”, desafiando concepções passivas sobre a natureza.
Todas as obras presentes na Exposição ‘Um rio não existe sozinho’ foram desenvolvidas com base em uma relação direta com o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi. As instalações, pensadas exclusivamente para este local, se integram harmoniosamente à dinâmica do ambiente, que inclui fauna em liberdade, vegetação nativa exuberante e variações de luz e umidade, fatores que enriquecem a jornada dos visitantes. A concepção dessas criações é fruto de um processo intensivo de imersão, que envolveu viagens de pesquisa e encontros construtivos entre artistas, mestres tradicionais, cientistas, arquitetos e ativistas.
Este profícuo diálogo entre distintas áreas do conhecimento forjou uma ponte robusta entre a expressão artística, os saberes ancestrais e a produção científica contemporânea. Tal sintonia é particularmente relevante em face dos debates globais sobre as mudanças climáticas, que se intensificam com a expectativa da COP30 na Amazônia, em 2025. Vânia Leal enfatiza que o projeto se define como uma “experiência sensorial e política”, cujo objetivo principal é posicionar a floresta como protagonista e não como mero plano de fundo. Ela ainda destaca que “a escolha dos materiais e métodos seguiu princípios de baixo impacto ambiental, tudo foi planejado para não interferir nos ritmos do ecossistema”, e que, nesta mostra, “a natureza não é tema — é coautora”.
Artistas e suas Visões na Floresta
A Exposição ‘Um rio não existe sozinho’ convida a uma imersão poética, explorando a íntima ligação entre natureza, cultura e memória. A goiana Sallisa Rosa, por exemplo, apresenta uma instalação em barro que reitera a interconexão fundamental entre terra e água, realçando o cuidado essencial com os rios, que são vetores de vida e união. Rafael Segatto, oriundo do Espírito Santo, concebe uma cartografia afetiva através de remos e uma paleta de cores vibrantes, remetendo a espiritualidades e memórias ligadas ao mar e revelando guias invisíveis.
Do Pará, PV Dias contribui com uma obra de vídeo mapping projetada na fachada do Museu Goeldi. Esta projeção sobrepõe imagens históricas do vasto acervo da instituição com registros atuais, trazendo à tona as contínuas transformações e os impactos ambientais muitas vezes negligenciados. Noara Quintana, de Santa Catarina, provoca reflexão sobre a fragilidade do ecossistema ao recriar espécies ameaçadas de extinção, utilizando como base documentos e registros antigos. Elaine Arruda, também paraense, elabora uma narrativa artística que aborda a travessia de três gerações às margens do Rio Tijuquaquara, por meio de bordados que expressam memórias femininas em diálogo com o incessante movimento das marés.
A crise climática ganha expressão visual marcante nas “paisagens térmicas” de Mari Nagem, de Minas Gerais. Sua arte transforma dados da severa seca de 2023 no Lago Tefé em um poderoso alerta sobre a emergência climática global. O ativismo indígena ressoa nas obras instaladas de Gustavo Caboco, do povo Wapichana, que desafia nomenclaturas coloniais, como a vitória-régia, para reivindicar e afirmar a memória e a territorialidade ancestral. Déba Tacana, de Rondônia, tece conexões entre ancestralidade e visões de futuro por meio da cerâmica e do vidro fundido, instigando reflexões profundas sobre direitos humanos e a complexa relação com o meio ambiente.
Finalizando este grupo, Francelino Mesquita utiliza materiais naturais, como o miriti, para elaborar esculturas que simbolizam a resistência pela preservação da floresta e a persistência dos saberes tradicionais. Ele adverte que, embora a leveza do material inspire, a mensagem que ele carrega é densa: a ausência da floresta inviabiliza o futuro.
Como a Mostra Foi Concretizada
A idealização da exposição começou em 2024, com uma série de encontros, viagens exploratórias e seminários, como os “Diálogos São Paulo” e “Diálogos Belém”. Essas sessões reuniram um ecossistema de conhecimento: mestres tradicionais, artistas engajados, cientistas rigorosos, arquitetos visionários e ativistas comprometidos. No desenvolvimento da instalação no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, cada deliberação — seja a altura de uma peça, a área ocupada ou a escolha dos materiais e seus métodos de descarte — foi cuidadosamente tomada para não perturbar os ritmos inerentes do local, em pleno respeito à rotina de um museu que se aproxima dos seus 130 anos.
Sue Costa e Pedro Pompei, representantes do Museu Goeldi, ressaltam a importância de integrar ciência e arte como meio de criar laços afetivos mais profundos com o patrimônio da Amazônia e de estimular uma consciência crítica apurada. Eles argumentam que “para entender a Amazônia, precisamos de precisão científica e abertura poética”, destacando a dualidade essencial abordada pela mostra. A urgência da ação climática e o papel da Amazônia nesse cenário são cruciais, e o país se prepara para sediar a COP30 em Belém, no ano de 2025, um marco para a discussão global sobre sustentabilidade e conservação. Para mais detalhes sobre as iniciativas climáticas e a importância dessas conferências, você pode consultar informações sobre a COP30.
A viabilização desta grandiosa Exposição ‘Um rio não existe sozinho’ é resultado do apoio de diversas instituições e patrocinadores. Entre eles, destacam-se o Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), o Nubank, atuante como mantenedor institucional do Instituto Tomie Ohtake, e o próprio Instituto Tomie Ohtake, em parceria estratégica com o Museu Paraense Emílio Goeldi. O projeto ainda conta com o patrocínio fundamental da AkzoNobel, Aché Laboratórios Farmacêuticos e PepsiCo. Adicionalmente, a PepsiCo também atua como patrocinadora institucional do Instituto Tomie Ohtake por meio do ProAC, vinculado à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo.
Serviço da Exposição:
- Exposição: Um rio não existe sozinho
- Local: Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi – Centro de Exposições Eduardo Galvão (Av. Gov. Magalhães Barata, 376 – São Brás, Belém)
- Período: Até 30 de dezembro de 2025
- Visitação: De terça a domingo, das 9h às 17h (a bilheteria funciona até as 16h)
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Em síntese, a Exposição ‘Um rio não existe sozinho’ oferece uma plataforma crucial para debater temas urgentes como a crise climática e a relevância dos povos indígenas, através de uma abordagem artística envolvente. Este projeto ressalta a capacidade da arte de catalisar a reflexão e inspirar a ação em prol do meio ambiente amazônico. Convidamos você a explorar outras matérias e análises sobre cultura, ciência e meio ambiente, mantendo-se atualizado sobre esses e outros debates importantes em nossa editoria de Análises.
Crédito da imagem: Oswaldo Forte
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