Exportação de Suco de Laranja: Safra tem volume menor, receita recorde

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A exportação de suco de laranja, um dos principais produtos agrícolas brasileiros, enfrentou um cenário misto no início da safra 2024/25. Dados compilados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), campus da USP em Piracicaba (SP), com base em informações do governo federal, revelam que o volume exportado entre julho e setembro de 2025 apresentou uma queda em comparação com o mesmo período da safra anterior. Apesar dessa retração inicial, a receita com os embarques da safra completa anterior (2024/25, encerrada em junho) atingiu um patamar histórico, o maior em quase três décadas.

No recorte parcial do início da safra 2024/25, as exportações registraram uma receita aproximadamente 15% menor, evidenciando uma fase de reajustes no mercado global. Um novo panorama nos países de destino, entretanto, marcou esse período, com Estados Unidos e Europa mantendo o mesmo volume de compra. O estudo do Cepea destacou uma rara paridade, com cada um desses blocos absorvendo cerca de 48% do volume exportado, uma igualdade inédita em muitos anos.

Exportação de Suco de Laranja: Safra tem volume menor, receita recorde

De acordo com os detalhes fornecidos pela Comex Stat, a quantidade total de suco de laranja embarcado somou 199,7 mil toneladas em equivalente concentrado no período analisado. Esse montante representa uma redução de 4% em relação ao intervalo correspondente do ano anterior. A receita gerada pelas exportações também seguiu essa tendência de declínio, alcançando US$ 751,3 milhões, uma queda de 15%. A principal justificativa apontada pelo Cepea para a retração nos valores recebidos pelos exportadores é o enfraquecimento dos preços internacionais, impulsionado pela ampliação da oferta global e uma postura mais cautelosa por parte dos compradores, particularmente na Europa.

Contexto Tarifário e Acordos Bilaterais

Um ponto crucial para a manutenção dos embarques para os Estados Unidos foi a isenção de uma sobretaxa de 40%, conforme indicado pelos pesquisadores do setor de hortifrúti do Cepea. Contudo, essa política favorável não se estendeu aos produtos derivados da laranja, como óleos e farelo, que continuam a ser penalizados por uma alíquota de 50%. Este contraste sublinha a urgência de acordos bilaterais robustos para garantir a competitividade do setor, especialmente para os subprodutos.

Pesquisadores do Cepea explicaram, em boletim divulgado em agosto, que “Apenas o suco de laranja, mas não seus subprodutos, foi isento da sobretaxa de 40%, permanecendo sujeito à tarifa de 10% acrescida da taxa fixa de US$ 415 a tonelada”. Essa distinção tarifária molda as estratégias de exportação e a resiliência do setor. A fase atual, de acordo com as análises, exige “menos euforia e mais estratégia”, com o futuro dependendo da inovação e da conquista de novos mercados em um ambiente de margens mais estreitas.

Acesse o portal do Cepea/Esalq para mais informações sobre o setor citrícola e análises econômicas.

Mudança Geográfica dos Destinos e Impacto nos Preços

A composição dos destinos de exportação evidenciou uma mudança notável no começo da safra atual. Houve um avanço de 13% nas vendas para o mercado norte-americano, apesar da persistência da tarifa residual de 10%. Tal crescimento ressalta a forte dependência dos Estados Unidos do suco de laranja brasileiro. O diretor da CitrusBR, inclusive, comentou que “Estamos casados com os EUA e eles com a gente”, destacando a relação estratégica entre os dois países após o suco escapar do tarifaço mais severo. Por outro lado, a União Europeia, tradicionalmente o principal destino, apresentou uma retração de 8%. Esse declínio foi influenciado pela diminuição da demanda após um período de altos preços e desafios de qualidade observados na safra precedente.

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Imagem: g1.globo.com

Retrospecto da Safra Anterior e Desafios Futuros

A safra 2024/25, finalizada em junho deste ano, registrou o menor volume de suco de laranja exportado pelo Brasil em quase 30 anos. Contudo, surpreendentemente, a receita gerada pelos embarques atingiu um recorde de US$ 3,48 bilhões, um crescimento de 28,4% em comparação com a safra anterior, conforme estudo do Cepea de julho. Este feito notável foi impulsionado pela oferta restrita do Brasil, que minimizou o impacto da elevação de 10% nas tarifas na ocasião, apesar do cenário de incerteza global e da previsão de uma safra “turbulenta”, nas palavras dos pesquisadores da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq-USP).

Ainda assim, o futuro do setor citrícola permanece incerto. Agentes do mercado demonstram preocupação com a possível estagnação do consumo internacional e os efeitos imprevisíveis dos aumentos tarifários anteriormente anunciados pelo então Presidente Donald Trump, que chegavam a até 50% sobre os produtos brasileiros, incluindo o suco de laranja. A magnitude desses efeitos futuros ainda é objeto de especulação, especialmente diante da perspectiva de um possível aumento da produção nacional nas próximas temporadas. Mesmo com esses desafios, a capitalização significativa obtida pelas exportações na temporada 2024/25 concedeu ao setor um fôlego financeiro importante para enfrentar as adversidades vindouras.

O Impacto do Greening na Citricultura

Para complicar o cenário, o greening, uma bactéria amplamente reconhecida como a mais devastadora para a citricultura mundial, continua a ser uma ameaça significativa. Seus sintomas incluem folhas amareladas e flores murchas, afetando diretamente a saúde da planta e a produção de frutos. A doença é transmitida por um inseto vetor, o psilídeo, e tem tido uma alta incidência no “miolo” do estado de São Paulo, em regiões como Limeira, Avaré e Bebedouro, onde as maiores populações do inseto são encontradas. Consequentemente, estas áreas registram as maiores taxas de transmissão da doença. Em entrevista à EPTV em setembro de 2024, Guilherme Rodriguez, supervisor de projetos do Fundecitrus, explicou que o aumento do greening nas laranjeiras nessas regiões contribui diretamente para a alta dos preços da fruta, que em São Paulo, atingiram o maior patamar em 30 anos.

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Em suma, a exportação de suco de laranja navega por águas turbulentas, com uma dicotomia entre volume reduzido no início da safra e recorde de receita na temporada passada. O cenário é de constantes ajustes frente às tarifas internacionais e uma crescente necessidade de acordos bilaterais, enquanto a indústria busca inovação para se manter competitiva. Para acompanhar de perto as tendências e os desafios do agronegócio e da economia brasileira, continue acompanhando nossa editoria de Economia.

Crédito da imagem: Jornal Nacional/ Reprodução

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