Um levantamento recente destacou uma preocupante tendência: a **velocidade excessiva praticada por motociclistas** em São Paulo. Quase metade dos condutores de motos na capital paulista é flagrada acima do limite permitido, conforme revelam dados de uma pesquisa conjunta entre a Universidade Johns Hopkins (EUA) e a USP (Universidade de São Paulo). O estudo, conduzido em novembro do último ano, apontou que 43% das motocicletas circulavam em velocidades superiores às regulamentares nas vias monitoradas. Esse índice é o mais alto registrado desde o início da série histórica em 2021.
Os pesquisadores consideram o percentual de 43% um nível alarmante para a segurança no trânsito urbano. A trajetória desse dado mostra um crescimento notável. Em 2021, 33% dos motociclistas excediam os limites. Em 2022, esse número subiu para 39%, sofreu uma ligeira queda para 33% em 2023, antes de alcançar o pico atual na mais recente apuração. Essa elevação contrasta significativamente com a prevalência de infrações de velocidade entre outros tipos de veículos. Carros e utilitários leves apresentaram apenas 6% de excesso, o mesmo percentual registrado para caminhões e ônibus pesados, ressaltando o foco de risco nas motocicletas.
Estudo revela excesso de velocidade de motociclistas em SP
A pesquisa da Johns Hopkins em colaboração com a USP é abrangente, com 83.880 observações em vias escolhidas de forma aleatória na cidade. Além da velocidade, foram analisados outros fatores críticos para a segurança viária, como o uso de capacete pelos motociclistas, o cinto de segurança por ocupantes de veículos leves e a utilização de sistemas de retenção para crianças. A velocidade média das motocicletas observadas atingiu 47 km/h, enquanto veículos leves registravam 40 km/h e pesados 38 km/h, evidenciando o ritmo mais elevado imposto pelos condutores de duas rodas.
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo informou que mantém uma fiscalização contínua na cidade para coibir infrações e minimizar acidentes. Essa fiscalização é realizada por meio de equipamentos eletrônicos e rondas de agentes em campo, buscando disciplinar o tráfego, inclusive entre motociclistas. No entanto, dados alarmantes do Infosiga, o sistema estadual de monitoramento da violência no trânsito paulista, revelam que sinistros envolvendo motocicletas são a principal causa de óbitos na capital. Até agosto de 2025, foram registradas 282 mortes de condutores ou passageiros de motos, o que representa 37% do total de fatalidades no trânsito do município.
Um estudo preliminar, ainda em fase de finalização e conduzido por pesquisadores da USP, UFC (Universidade Federal do Ceará), Instituto Cordial e Vital Strategies, indicou que 70% dos motociclistas excedem o limite de velocidade nas faixas azuis. Essa sinalização viária específica, implementada pela prefeitura paulistana, visa a circulação exclusiva de motos, mas paradoxalmente parece incentivar uma condução mais arriscada. Este achado sugere que, mesmo em ambientes designados para a segurança do motociclista, o comportamento de excesso de velocidade persiste.
A especialista Mariana Novaski, coordenadora de dados e vigilância da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global, entidade que acompanha os estudos da Johns Hopkins, aponta a dificuldade de fiscalização como um fator-chave para a alta incidência de motociclistas em excesso de velocidade. Ela explica que os radares com sensores no asfalto frequentemente falham em detectar motocicletas devido ao seu baixo peso. Além disso, a facilidade em burlar os equipamentos ao circular em corredores, desviar para calçadas ou esconder a placa com a mão, contribui para a impunidade.
A própria CET reconhece os desafios inerentes à fiscalização desse tipo de veículo. Devido à característica das motocicletas de possuírem a placa apenas na traseira, a autuação eletrônica só pode ser feita por equipamentos que capturem imagens pela parte de trás. Isso impossibilita a aplicação de barreiras eletrônicas que dependem de registro frontal, como ocorre com automóveis. Mesmo com essas limitações, a empresa municipal registrou um número significativo de multas. Até agosto deste ano, foram aplicadas cerca de 314 mil autuações por excesso de velocidade a motociclistas, um aumento de quase 20% em relação às 267,5 mil do mesmo período de 2023.
O aumento constante na frota de motocicletas em São Paulo, que atualmente se aproxima de 1,4 milhão de unidades cadastradas na capital, é outro fator considerado responsável pelo crescimento do percentual de excesso de velocidade. Soma-se a isso a intensa pressão exercida pelas empresas de entrega sobre os motoboys, que, muitas vezes, são incentivados a cumprir prazos apertados, o que pode levar a um desrespeito generalizado das normas de trânsito. Essa dinâmica de trabalho contribui para um cenário de risco ainda maior nas vias da cidade.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Mariana Novaski reforça a necessidade de municípios adotarem medidas, ainda que “impopulares”, para conter esse problema. Ela sugere investimentos em radares mais modernos, que sejam eficazes na detecção de motocicletas, e o aumento do efetivo de agentes de trânsito nas ruas para aplicar multas e coibir infrações. Novaski descreve essas ações como um “sabor amargo que protege as pessoas”, indicando que, embora possam gerar resistência, são essenciais para salvar vidas.
A especialista também propõe um redesenho do ambiente urbano como estratégia de segurança. Ela sugere o estreitamento de ruas e avenidas para naturalmente dificultar altas velocidades, a instalação de redutores de velocidade, como lombadas, e a criação de quarteirões mais curtos sempre que possível. Segundo Novaski, “Quando se transforma o ambiente em locais mais lúdicos, com o asfalto pintado, por exemplo, você diz à pessoa que aquele espaço ali é diferente,” criando uma percepção de local que demanda mais atenção e velocidade reduzida dos condutores.
A análise específica das vias revelou hotspots de excesso de velocidade. Na Avenida Francisco Morato, que conecta regiões do Butantã (zona oeste) e do Morumbi (zona sul), 25% dos veículos observados (sem distinção de tipo) trafegavam acima do limite. Este foi o percentual mais alto entre as vias pesquisadas. Logo em seguida, na Avenida Jornalista Roberto Marinho, localizada na região do Itaim Bibi (zona oeste), 24% dos veículos apresentavam velocidade superior à permitida. Em ruas coletoras, onde o limite geralmente é de 30 km/h, um preocupante índice de 38% dos veículos foi registrado em velocidade acima do máximo estipulado.
A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirma que, nas vias com maior incidência de velocidade excessiva, a fiscalização é realizada por meio de radares fixos e lombadas eletrônicas. A seleção dos locais para observação no estudo da Johns Hopkins e USP foi feita de forma proporcional ao fluxo de tráfego, levando em conta a densidade de semáforos em cada região administrativa. As observações ocorreram entre 8h15 e 17h30, abrangendo tanto dias úteis quanto fins de semana. Para aferir a velocidade dos veículos, os pesquisadores utilizaram radares de mão.
Outros dados preocupantes foram identificados no estudo, além da **velocidade de motociclistas em SP**. Apenas 17% dos passageiros do banco traseiro de veículos leves utilizavam cinto de segurança. No que se refere às crianças, somente 18% daquelas com idade entre 5 e 11 anos estavam protegidas por dispositivos de retenção infantil adequados à sua faixa etária. A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) salienta que o uso do cinto de segurança é fundamental, reduzindo o risco de morte em 60% para ocupantes dos bancos dianteiros e em 44% para os do banco traseiro. Além disso, foi constatado que a prevalência de velocidade excessiva era maior aos domingos, atingindo 20% dos veículos, e, entre os períodos do dia, o pico se deu de 18h30 às 21h, com 18% dos veículos em alta velocidade.
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A elevada porcentagem de **motociclistas em velocidade excessiva em São Paulo** demonstra um desafio complexo para a segurança viária, envolvendo desde questões de fiscalização até hábitos de condução e infraestrutura urbana. A integração de diferentes estratégias, incluindo fiscalização modernizada e redesenho de vias, é fundamental para reverter esse cenário de alto risco na cidade. Para continuar a acompanhar as últimas notícias sobre mobilidade e segurança no trânsito, explore nossa editoria de Cidades: Horadecomecar.com.br/cidades.
Crédito da imagem: Rafaela Araújo/Folhapress
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