A história de Celso Gonçalves, um ex-morador de rua que superou adversidades para ser aprovado em um concurso público em Araras (SP), surge como um potente testemunho de resiliência e a possibilidade de um novo começo. Após enfrentar 17 anos em situação de rua, Celso, agora com 47 anos, prepara-se para empossar-se em um cargo público, virando uma página importante em sua vida.
Este sucesso pessoal reflete um panorama mais amplo na cidade paulista, onde se observa um aumento no número de pessoas que conseguiram deixar a vida nas ruas. Esse êxito é atribuído a uma combinação de fatores, incluindo programas de acolhimento, apoio institucional contínuo e, crucialmente, a firme determinação individual de cada um para recomeçar.
Ex-morador de Rua em Araras Conquista Cargo Público
A aprovação de Celso Gonçalves no certame público é um marco significativo, sublinhando que a dignidade e a oportunidade de reinserção social são alcançáveis com o devido suporte. O futuro servidor público ocupará o cargo de servente, simbolizando não apenas uma mudança profissional, mas uma completa transformação de vida após anos de adversidade.
Durante seu tempo nas ruas, Celso atravessou diversos estados brasileiros, como Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Brasília, vivenciando o lado mais desafiador da condição. Seu período mais crítico, ele relata, foi passar dois meses na Cracolândia, em São Paulo, local que ele descreve como um “inferno” e “sepultura”. A decisão de buscar ajuda de uma assistente social naquele período foi, em suas palavras, a ação de um “anjo que Deus colocou”, desencadeando a virada em sua trajetória. Ele afirmava categoricamente que não queria mais a vida nas ruas.
Desde então, Celso passou a receber acompanhamento do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua Dr. Narciso Gomes (Centro POP) de Araras. Este órgão, em conjunto com outras instituições como a Casa de Passagem, o Instituto de Difusão Espírita (IDE) e o Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS AD), desempenha um papel fundamental na assistência a indivíduos em situação de vulnerabilidade. Neste ano, essas parcerias já viabilizaram a saída de 20 pessoas da condição de rua em Araras.
Sidinei de Pontes, coordenador do Centro POP, ressalta que o desejo intrínseco de mudança por parte do indivíduo é o elemento principal para o recomeço. Contudo, esse desejo precisa ser solidificado por uma robusta rede de serviços e apoio. “Sem uma rede de apoio fica difícil para essas pessoas retornarem ao convívio social. E Araras hoje a gente tem esse suporte e estamos vendo muitos resultados positivos e com histórias maravilhosas”, explica Pontes, validando a eficácia do sistema de acolhimento na cidade.
Para o Centro POP, a conquista de Celso Gonçalves foi celebrada com grande entusiasmo. A instituição oferece suporte direto aos acolhidos, incluindo orientação social e acompanhamento para estudos com estagiários de psicologia da Fundação Hermínio Ometto (FHO), preparando-os para desafios como concursos públicos. O coordenador enfatiza a importância da inclusão profissional como um pilar essencial para uma nova fase na vida dessas pessoas.
A transformação alcançada por Celso Gonçalves é um exemplo do sucesso do trabalho desenvolvido. “O trabalho de preparação para o concurso, que incluiu estudo e acompanhamento contínuo, foi um exemplo de como o apoio especializado pode transformar vidas”, afirma o coordenador. Essas iniciativas mostram como o amparo em programas de proteção social é fundamental para a recuperação e reintegração da população em situação de rua no Brasil, como detalhado em recursos do governo sobre a política de proteção à população em situação de rua.
Imagem: g1.globo.com
Outra história comovente de superação é a de Márcia Fonseca, 44 anos. Sua trajetória foi marcada por dependência química e extrema vulnerabilidade social, memórias que ainda hoje a emocionam profundamente. Márcia relata os temores e as agressões vivenciadas nas ruas. “Mulher na rua é muito amedrontado na parte da noite, sabe? Se tiver sozinha, para comer, para tomar banho, é muito dificultoso, é muito difícil. Já teve tentado estupro, mas eu consegui correr e me defender. Mas já fui agredida”, contou ela. Márcia percebeu que a dependência a levaria a um fim trágico: “É cadeia ou cemitério”.
Atualmente, Márcia vive em uma casa alugada e encontra grande alegria em atos que para muitos são triviais: cozinhar a própria comida e ter o que comer. “Agora eu tenho meu cantinho, né? Minha casinha, mesmo alugada, mas está ali, é minha. Tenho minhas coisas, onde eu posso fazer minha comida, e posso comer. Eu sofri muita humilhação. Não quero isso nunca mais”, compartilha, feliz com sua nova vida em Araras.
O coordenador do Centro POP reforça a perspectiva humanizada sobre as pessoas em situação de rua: “A pessoa está em situação de rua, ela é um ser humano, ela tem a sua dignidade, seus desejos. A gente tem que respeitar isso.” Ele conclui com uma recomendação valiosa: “Se você quer ajudar uma pessoa em situação de rua, converse com ela, encaminhe ela para um serviço especializado, para ela ser tratada com dignidade. Isso é muito importante”, destaca Sidinei de Pontes.
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As histórias de Celso Gonçalves e Márcia Fonseca ilustram o poder da resiliência humana e a vital importância de uma rede de apoio em cidades como Araras para oferecer novas chances. Suas conquistas em um novo recomeço para uma vida digna servem de inspiração e reforçam o compromisso de instituições na inclusão social. Continue acompanhando outras histórias inspiradoras e notícias de Araras e outras regiões na nossa editoria de Cidades, em Hora de Começar.
Foto: EPTV
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