EUA Avaliam Retirada de Alumínio de Vacinas Infantis

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Autoridades federais de saúde nos Estados Unidos estão conduzindo uma análise aprofundada sobre a viabilidade de eliminar os sais de alumínio das vacinas, uma medida que, segundo especialistas em imunização, poderia comprometer substancialmente o abastecimento nacional de inoculações infantis. Tal alteração afetaria diretamente imunizantes vitais contra enfermidades como coqueluche, poliomielite e as cepas mais agressivas da gripe, responsáveis pela proteção de milhões de crianças anualmente.

A iniciativa da Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora americana, surgiu em decorrência de declarações proferidas pelo então presidente Donald Trump. Durante uma coletiva de imprensa, ele listou o alumínio em vacinas como potencialmente nocivo, no contexto de uma suposta e não comprovada associação entre o analgésico Tylenol e o autismo, reacendendo debates de longa data sobre a composição desses imunizantes essenciais.

EUA Avaliam Retirada de Alumínio de Vacinas Infantis

Presentes nas formulações vacinais desde a década de 1920, os sais de alumínio são empregados como adjuvantes, componentes adicionados para intensificar a resposta do sistema imunológico aos agentes infecciosos, como vírus e bactérias. Robert F. Kennedy Jr., figura de destaque no cenário nacional de saúde, tem sido um crítico contumaz da presença de alumínio em vacinas, aventando uma possível relação, nunca comprovada cientificamente, com o desenvolvimento do autismo em crianças.

O Papel e o Histórico dos Adjuvantes de Alumínio nas Vacinas

Os adjuvantes à base de alumínio desempenham uma função crítica na indução de uma imunidade duradoura, conforme reforçam cientistas e médicos especializados em vacinologia. Eles explicam que a minúscula quantidade de sais de alumínio contida nas vacinas, frequentemente medida em milionésimos de grama, possui um histórico robusto e comprovado de segurança ao longo de décadas. Sua presença é considerada indispensável para assegurar a eficácia dos imunizantes contra uma gama de doenças preveníveis.

Qualquer esforço para desenvolver vacinas completamente livres de sais de alumínio exigiria a criação de formulações inteiramente novas. Esse processo, de acordo com especialistas, demandaria anos de meticulosos testes de segurança, um investimento de centenas de milhões de dólares e, em um cenário de substituição imediata, potencialmente exporia milhares de bebês a moléstias fatais. Essa preocupação se intensifica diante da exigência, levantada por Kennedy, de que novas vacinas deveriam ser rigorosamente testadas em seres humanos, utilizando placebos como comparação, um procedimento que acarreta questões éticas e de saúde pública de grande peso.

Consequências de uma Alteração nos Componentes Vacinais

Donald Trump, em suas declarações, admitiu que as evidências contra o alumínio são limitadas, comparando a situação à do mercúrio, elemento que foi removido das vacinas infantis há mais de duas décadas. “Já retiramos e estamos em processo de retirar o mercúrio e o alumínio agora”, afirmou o ex-presidente. “E houve rumores sobre ambos por muito tempo, mas estamos fazendo com que sejam retirados.” Essas afirmações reforçaram a necessidade de investigações por parte das autoridades de saúde.

Bruce Gellin, que dedicou mais de uma década ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) em funções relacionadas à segurança de vacinas e que hoje é professor adjunto na Universidade de Georgetown, descreve a natureza dos rumores. Para ele, essas especulações são como “ouvir um detector de fumaça disparar”: pode haver um incêndio, ou talvez seja apenas a hora de trocar a bateria. Gellin enfatiza que embora seja prudente prestar atenção aos sinais, é fundamental investigar e determinar a causa-raiz antes de agir impulsivamente.

A Revisão Oficial e a Posição de Robert F. Kennedy Jr.

Em resposta a questionamentos sobre a possível remoção do alumínio, Andrew Nixon, porta-voz do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, não confirmou planos concretos. No entanto, ele informou que um influente comitê de vacinas dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) está atualmente “revisando o conjunto de ciência relacionada ao alumínio e outros possíveis contaminantes em vacinas infantis.” É importante notar que Robert F. Kennedy Jr., no verão anterior, havia demitido os membros desse comitê, substituindo-os por indivíduos notavelmente céticos em relação às vacinas, o que gerou debates acerca da imparcialidade da revisão. O consenso científico estabelecido reitera a segurança das pequenas quantidades de alumínio presentes nas vacinas. Além disso, o alumínio é um dos elementos mais abundantes do planeta, inalado diariamente na poeira e ingerido em alimentos e bebidas.

Antes das recentes declarações de Trump, Kennedy não havia divulgado planos formais sobre a remoção do alumínio dos imunizantes. Contudo, ao longo de sua trajetória como ativista contra as vacinas, ele apoiou pesquisadores que tentaram estabelecer um vínculo entre o alumínio nas vacinas e o autismo. Esses estudos foram amplamente criticados pela comunidade científica global devido a falhas metodológicas e falta de evidências consistentes, um consenso que é endossado por diversas organizações de saúde como o CDC dos EUA, que fornece informações detalhadas sobre a segurança e os benefícios da vacinação no país. (Para mais informações sobre as vacinas, consulte o site do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), uma autoridade global em saúde pública.)

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Imagem: www1.folha.uol.com.br

Estudos Contrários e Críticas à Ciência Tradicional

Em 2020, Kennedy se referiu ao pesquisador Christopher Exley como “a principal autoridade mundial em toxicidade do alumínio”, citando sua pesquisa sobre o alumínio e as vacinas como “documentação de graves efeitos tóxicos”. O ativista revelou no website de seu antigo grupo sem fins lucrativos que havia tentado doar 15 mil dólares (equivalente a cerca de R$ 81 mil) para apoiar os estudos de Exley, mas a universidade do pesquisador no Reino Unido recusou e devolveu o cheque.

Em 2018, Exley publicou um estudo que analisou a presença de alumínio em cérebros doados de cinco indivíduos diagnosticados com autismo, levantando a hipótese de que isso poderia “implicar” o alumínio no desenvolvimento do transtorno. Questionado a detalhar sua pesquisa, Exley comunicou por e-mail que não possuía informações sobre o histórico vacinal dos doadores dos cérebros devido às normas de confidencialidade. Em uma postagem em seu Substack de 1º de outubro, Exley afirmou ter escrito a Kennedy antes da coletiva de imprensa de Trump, lembrando ao secretário que o alumínio “é a causa do autismo profundo”. Posteriormente, em um e-mail ao The New York Times na semana passada, ele reafirmou: “O Secretário Kennedy pede meu conselho sobre alumínio em adjuvantes, pois sou a principal autoridade em exposição humana ao alumínio”.

Em julho, durante uma entrevista concedida na reunião da Associação Nacional de Governadores, Kennedy mencionou que os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) estavam investigando possíveis vínculos entre alumínio e alergias. Um novo grupo de trabalho do CDC também declarou que se dedicará a examinar se há uma correlação entre distintos adjuvantes de alumínio e o risco de asma, evidenciando que a pesquisa científica em áreas de fronteira continua, mas deve ser avaliada com base em evidências robustas.

Visão da Indústria Farmacêutica e Obstáculos Regulatórios

Ofer Levy, diretor do programa de vacinas de precisão no Hospital Infantil de Boston, destacou que o NIH já investiu dezenas de milhões de dólares no desenvolvimento de adjuvantes de próxima geração. Ele reconhece a existência de questionamentos sobre o papel do alumínio em alergias, considerando sua capacidade de estimular certas células imunológicas. Contudo, Levy ressalta que novos estudos sobre a segurança das vacinas são sempre bem-vindos e fundamentais para o avanço da medicina.

Grandes fabricantes de vacinas infantis, incluindo Merck, Pfizer, GSK e Sanofi, através de seus representantes, afirmaram que os adjuvantes de alumínio possuem um histórico de segurança amplamente compreendido. Eles salientaram que substitutos para esses componentes seriam necessariamente novos e demandariam avaliações individualizadas para cada patógeno e doença a ser coberta, eliminando a eficiência das vacinas combinadas que atualmente protegem contra múltiplas enfermidades em uma única aplicação. Curiosamente, vários representantes das empresas indicaram não ter recebido qualquer contato formal das autoridades federais de saúde a respeito do assunto da remoção do alumínio.

Caso Kennedy optasse por agir decisivamente contra o alumínio em vacinas, ele teria que recorrer à FDA para iniciar o processo. A agência tem a prerrogativa de retirar produtos do mercado se surgirem fortes evidências de danos ou falta de eficácia, mas tal processo, se contestado, poderia arrastar-se por anos. Alternativamente, o comitê de vacinas do CDC poderia optar por enfraquecer suas recomendações para imunizantes contendo sais de alumínio. Essa medida teria um impacto significativo, corroendo ainda mais a confiança pública nas vacinas e, consequentemente, reduzindo o uso de vacinas infantis, especialmente em estados cujas regulamentações estão vinculadas às decisões desse comitê.

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A discussão em torno dos sais de alumínio em vacinas evidencia a complexidade da saúde pública, onde ciência, política e percepção popular se entrelaçam. Acompanhar as futuras análises e decisões da FDA e do CDC será crucial para entender os rumos da imunização no país. Para se manter atualizado sobre os desdobramentos dessa e outras questões relevantes na esfera política e da saúde, continue navegando em nossa editoria de Política e não perca nenhuma informação crucial para o Brasil.

Crédito da imagem: – Jonathan Ernst/Reuters

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