Estoques de Grãos em Alta no País Após Safra Recorde

Os estoques de grãos do Brasil registram um aumento considerável na transição de uma safra para a seguinte, cenário impulsionado por colheitas volumosas. Esta conjuntura traz benefícios diretos para os consumidores, com um alívio potencial na pressão inflacionária, ao mesmo tempo em que apresenta desafios para os produtores, que observam a ausência de uma recuperação significativa nos preços das commodities.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), instituição referência para dados do setor agrícola no país, projeta um superávit notável no final da safra de 2024/25. Para o arroz, a estimativa é de um excedente de 2,1 milhões de toneladas. Este volume, que representa o maior saldo desde o ciclo 2017/18, demonstra uma robusta disponibilidade do cereal no mercado brasileiro ao término do ano comercial, que ocorre no final de fevereiro.

Estoques de Grãos em Alta no País Após Safra Recorde

Diversos fatores internos e externos contribuem para a configuração de um cenário de maiores estoques. No âmbito doméstico, o Brasil viu sua produção de arroz escalar para 12,8 milhões de toneladas, superando o consumo nacional, que se mantém em torno de 11 milhões de toneladas. Em relação ao comércio internacional, as projeções para exportações e importações se equilibram em um patamar de 1,5 milhão de toneladas para cada, evidenciando uma balança comercial do cereal relativamente estável. O mercado global também exerce influência significativa; uma oferta mundial de 730 milhões de toneladas, confrontada com um consumo de 542 milhões de toneladas, eleva os estoques globais para 187 milhões de toneladas. Essa fartura mundial de arroz limita as oportunidades para as exportações brasileiras e contribui para a manutenção dos preços em níveis menos favoráveis para os produtores.

O setor do milho igualmente exibe um cenário de estoques elevados ao final do ano-safra. Com a estimativa de 12,8 milhões de toneladas disponíveis, o país atingirá o maior volume desde o ciclo 2020/21. Este patamar recorde é justificado por uma produção projetada em 140 milhões de toneladas, segundo a Conab, volume significativamente superior ao consumo interno, que deve alcançar 91 milhões de toneladas. As exportações de milho, por sua vez, permanecem estáveis, oscilando perto dos 40 milhões de toneladas.

Milho e Outros Cereais no Cenário de Excedentes

Contudo, a dinâmica internacional impõe limites às exportações de milho brasileiras, reforçando a permanência do excedente no país. Nos Estados Unidos, a expectativa é de uma colheita recorde de 427 milhões de toneladas, com previsão de exportar cerca de 76 milhões de toneladas. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção mundial de milho deverá totalizar 1,29 bilhão de toneladas na safra 2025/26, o que resultará em um aumento nos estoques finais globais para 281 milhões de toneladas. Esse volume expressivo na oferta global desfavorece uma reação de preços e uma ampliação das exportações brasileiras, solidificando o estoque interno.

Diferentemente do arroz e do milho, a situação do feijão se mostra menos confortável. Embora a produção da primeira safra tenha apresentado um crescimento de 13%, as projeções para a segunda e a terceira safras indicam uma redução. A colheita anual total do feijão está prevista para 3,1 milhões de toneladas, um recuo de 4% em relação ao ciclo anterior. Esta diminuição na produção, combinada com uma demanda consistente, leva a um aumento nos preços do grão no mercado interno. Consequentemente, os estoques finais da safra 2024/25 de feijão estão projetados para 162 mil toneladas, representando o menor nível desde 2020/21, o que acende um alerta sobre a disponibilidade futura.

Situação Específica de Feijão e Trigo

Para o trigo, os estoques de passagem de safra para safra tendem a subir para 1,5 milhão de toneladas, marcando o maior volume registrado desde 2020. No entanto, a produção nacional do cereal apresenta uma queda para 7,5 milhões de toneladas, enquanto o consumo doméstico se mantém em patamares elevados, estimado em 11,8 milhões de toneladas. Essa diferença entre produção e consumo acarreta um aumento significativo nas importações, que atingem 6,4 milhões de toneladas, suprindo a demanda interna.

Imagem: www1.folha.uol.com.br

No cenário global, a oferta de trigo também se expande. Países como Austrália, União Europeia e Canadá projetam incrementos em suas colheitas. A produção mundial está estimada em 816 milhões de toneladas, contribuindo para elevar os estoques mundiais do cereal para 264 milhões de toneladas. Tal abundância global, assim como nos outros grãos, tende a moderar os preços internacionais e afetar a dinâmica do comércio.

Finalmente, a soja, com uma safra recorde de 171 milhões de toneladas colhidas neste ano, também gera um aumento expressivo nos estoques finais da oleaginosa no Brasil. Dados atualizados da Conab apontam que o excedente será de 10,5 milhões de toneladas, superando os 7,2 milhões registrados no mesmo período do ano anterior. Esse volume produtivo robusto oferece sustentação aos estoques, mesmo com uma exportação recorde prevista de 107 milhões de toneladas e um esmagamento interno de 59 milhões de toneladas.

No cenário mundial, a produção de soja é estimada em 426 milhões de toneladas, com os estoques globais alcançando 124 milhões de toneladas. A conjugação desses fatores para as principais commodities agrícolas demonstra um panorama de abundância que, embora favorável ao controle da inflação para o consumidor, impõe desafios econômicos persistentes aos produtores rurais, que precisam gerenciar o cenário de preços enfraquecidos.

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Em suma, a atual conjuntura de safra recorde elevou os estoques de grãos no Brasil, com arroz, milho, trigo e soja registrando altos volumes, enquanto o feijão aponta para uma redução de suas reservas. Manter-se atualizado sobre as análises e projeções do mercado de commodities é fundamental para entender o impacto desses números na economia. Continue acompanhando a nossa editoria de Economia para mais insights sobre o agronegócio e seus desdobramentos.

Crédito da imagem: Maiara Rauber – 1.nov.24/Finapop