TÍTULO: Estilistas Brasileiros Valorizam Arte Popular e Raízes
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META DESCRIÇÃO: Conheça como estilistas brasileiros, incluindo Antônio Castro e Marina Bitu, estão reinventando a moda ao incorporar arte popular e raízes do país em coleções de sucesso.
A moda nacional vive um período de profunda reorientação, onde estilistas brasileiros valorizam arte popular e a intrínseca riqueza cultural do país, buscando nas raízes locais a principal inspiração para suas coleções. Essa tendência sinaliza um afastamento da hegemonia de referências europeias, celebrando a identidade genuinamente brasileira nas passarelas.
Um marco decisivo para essa virada se deu em 2015, quando o estilista Antonio Castro visitou uma exposição no museu A Casa, em São Paulo. A frase “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”, atribuída ao renomado escritor Leon Tolstói, causou-lhe uma epifania. Castro compreendeu que a via mais eficaz para se conectar a um público vasto seria através da expressão de suas referências mais pessoais e próximas, iniciando uma nova trajetória em seu processo criativo.
Dessa percepção singular, emergiu a Foz, marca de moda que introduz o artesanato e a arte popular alagoana, sua terra natal, às grandes plataformas de desfile. O estilista reconhece ter “despertado para um jeito de fazer moda que não sabia que podia ser possível”, evidenciando a capacidade da cultura local de pautar inovação e autenticidade. Esse despertar não foi exclusivo dele no cenário fashion atual.
Estilistas Brasileiros Valorizam Arte Popular e Raízes
Enquanto a moda brasileira no passado direcionava seu olhar primordialmente para a Europa em busca de novas ideias, observa-se hoje um vigoroso investimento em vestuário que captura a vivacidade das cores, a singularidade das texturas e a essência térmica do Brasil. Tal inclinação foi proeminente na São Paulo Fashion Week deste ano, onde as passarelas apresentaram criações em tons quentes e terrosos, empregando métodos artesanais consagrados como crochê, bordado, macramê e redendê.
Mais do que meramente se inspirarem nos diversos recantos do Brasil, essas coleções frequentemente se concretizam através de parcerias estratégicas com as próprias comunidades detentoras desses saberes. A marca Foz, idealizada por Antonio Castro, exemplifica essa abordagem. As vestimentas expostas na edição mais recente da SPFW foram elaboradas em colaboração com Maria de Lourdes da Silva Correia Bezerra, uma bordadeira da localidade de Entremontes, situada a cerca de 288 km de Maceió.
Antonio Castro teve seu aprendizado do ofício do bordado guiado pelas mãos de dona Lurdes, nome pelo qual a artesã é carinhosamente reconhecida em sua região. A parceria teve início quando o estilista se aproximava do final de seu curso universitário em moda. Naquele período, ele residiu por uma semana em Entremontes, participando de uma oficina intensiva ministrada pela bordadeira. Os frutos dessa mentoria se materializaram em 2018, culminando em sua coleção de formatura, inteiramente inspirada pelo artesanato brasileiro. Este trabalho visionário estabeleceu os fundamentos da Foz, empresa que viria a ser oficialmente fundada dois anos depois.
“Nosso método consiste em desenvolver conjuntamente com o artesão, a partir do repertório já existente em seu conhecimento. Essa prática se distingue da mera aquisição de artesanato ou da apropriação do que já foi criado”, salienta Castro. Ele acrescenta que, após concluir a faculdade, sua busca por oportunidades na interseção entre moda e artesanato foi frustrada pela ausência de postos de trabalho nesse segmento. Isso o impeliu a atuar como designer de produtos antes de conceber sua própria marca, notando que “a arquitetura e o design foram as áreas que melhor integraram o artesanato à sua produção”, enquanto a moda se mostrou mais reticente.
Historicamente, a moda brasileira tendia a encarar as manufaturas com reservas, privilegiando os ditames das tradições europeias. Estilistas como Zuzu Angel, em momentos isolados, desafiaram esse panorama ao infundir elementos da cultura popular em suas criações. Entretanto, a coordenadora do curso de design de moda do Centro Universitário Belas Artes, Valeska Nakad, aponta que o país “considerava chique uma moda que era gringa”, confirmando a prevalência da influência de Paris nas decisões estéticas. Conforme Nakad, essa perspectiva começou a mudar diante do crescente apreço pela produção regional e de uma preocupação acentuada com a sustentabilidade, valores impulsionados, em grande parte, pelo período pós-pandêmico. “As pessoas começaram a olhar mais para dentro de seus universos. Além disso, o consumidor está pensando muito em questões relacionadas à sustentabilidade, então faz sentido prestar atenção nos materiais usados, nos recursos humanos e nas técnicas empregadas para fazer as roupas”, explica a especialista. Para aprofundar-se no tema de valorização do trabalho manual no cenário econômico brasileiro, é relevante consultar dados oficiais do Sebrae, que reiteram a importância econômica do setor.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
A despeito dos avanços observados, um grupo de estilistas adverte que o artesanato e a brasilidade ainda são alvo de preconceito no setor. Esta é a visão de Patrick Fortuna e Vinícius Santana, visionários por trás do Ateliê Mão de Mãe, cuja produção tem o crochê como um dos pilares. Fortuna lamenta que “ainda se vive uma realidade muito eurocêntrica na moda”, onde o que provém do exterior frequentemente desfruta de maior reconhecimento. Ele exemplifica que clientes, por vezes, contestam os preços praticados pela marca nacional, mas não hesitam em adquirir produtos estrangeiros, mesmo que mais onerosos, o que demonstra a complexidade da valorização do que é nacional. A realidade de que “o artesanato brasileiro ainda não tem o protagonismo que deveria ter” reflete a necessidade de maior conscientização.
Para Marina Bitu, fundadora da marca que leva seu nome, parte do preconceito enraíza-se no fato de que o artesanato é, em grande parte, uma atividade conduzida por mulheres. “São mulheres que fazem isso em seu tempo de descanso. Por isso, não é visto como um trabalho de fato, e sim quase como uma distração, quando na verdade é muito mais do que isso. Muitas vezes, as atividades se tornam o sustento delas”, esclarece Bitu, que compartilha a gestão de sua marca com a sócia Cecília Baima. A fim de criar a coleção apresentada na edição mais recente da São Paulo Fashion Week, a dupla estabeleceu uma colaboração com a Associação Fibrarte, entidade sediada em Missão Velha, no Ceará, que agrupa mulheres dedicadas à confecção de produtos artesanais a partir da fibra de bananeira.
Bitu ressalta que as parcerias de sua marca são um caminho fundamental para disseminar técnicas artesanais ameaçadas de desaparecer. Ela enfatiza o compromisso com a “manutenção desses ofícios para o futuro” e com a criação de plataformas para “estabelecer diálogos com os mais jovens”. A preservação das práticas manuais é, sem dúvida, um desafio monumental, uma vez que muitas dessas técnicas são transmitidas por meio da oralidade. Essa dinâmica, no entanto, encontra-se fragilizada pelo declínio do número de artesãos e pela diminuta receptividade das novas gerações em absorver tais saberes.
Um exemplo alarmante desse risco é o bordado labirinto, no povoado Mata da Onça, localizado nas margens do rio São Francisco, na divisa entre Sergipe e Alagoas, cuja existência está ameaçada. Rosélia Corrêa, uma bordadeira da comunidade, expressa preocupação: “A produção do labirinto está acabando porque a gente tem poucas pessoas fazendo.” Ela explica que “quem sabe mais são as mulheres mais velhas”, muitas das quais já não praticam a arte devido a problemas de visão, agravando a dificuldade na transmissão do conhecimento. Corrêa enfatiza que a manutenção dessas tradições é vital para a sobrevivência das comunidades. “Muita gente não tem estudo para ter um emprego formal, então o bordado é de onde a gente tira o nosso sustento”, conclui, sublinhando a importância econômica e social do artesanato.
No esforço pela preservação desse legado, Celina Hissa, fundadora da marca Catarina Mina, está entre as estilistas ativamente engajadas. Ela incorporou em suas bolsas um QR Code que permite aos consumidores acessar um perfil digital sobre a artesã que confeccionou o item. Esse perfil oferece informações sobre a biografia da artista, fomentando uma conexão direta entre o produto e seu criador. Hissa ressalta a profundidade de seu trabalho, afirmando que “proteger a cultura artesanal é preservar outras maneiras de olhar o mundo”, constituindo-se em um ato de respeito à ancestralidade e de zelo pela história coletiva do país.
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O movimento que leva estilistas brasileiros a valorizarem a arte popular e a resgatarem as raízes do país na moda vai muito além das tendências passageiras, representando um importante passo para a valorização cultural e a sustentabilidade de saberes milenares. Essa abordagem não só enriquece o design, mas também impulsiona a economia criativa local e salvaguarda a identidade nacional. Para continuar a acompanhar a evolução do mercado e as inovações que surgem da fusão entre cultura e economia, convidamos você a explorar mais sobre o tema em nossa editoria de Economia.
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