Uma escola quilombola do Amapá alcançou o primeiro lugar na segunda fase da prestigiada Olimpíada Brasileira de Cartografia (Obrac), com um projeto notável na área rural de Macapá. Estudantes da Escola Estadual Professor David Miranda dos Santos destacaram-se ao criar um jogo de tabuleiro inovador que narra a rica história afro-amapaense, especificamente da comunidade quilombola São José do Matapi.
A instituição se diferenciou das demais escolas participantes em todo o Brasil, sendo a única a receber a pontuação máxima em um dos rigorosos critérios da competição. O jogo, batizado de “Caminhos Quilombola: Raízes do Matapi”, é fruto do empenho das alunas Kathleen Daniele, Viviane Santos, Maria Eduarda Tavares e Dyelen Karine, que contaram com a orientação especializada do professor Bruno Brandão. O projeto também recebeu suporte técnico fundamental do Núcleo de Pesquisas Arqueológicas (NuParq), vinculado ao Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa).
Escola Quilombola do Amapá Brilha na Olimpíada de Cartografia
De acordo com o professor Bruno Brandão, a ideia de inscrever-se na Olimpíada de Cartografia surgiu organically dentro do projeto pedagógico “Identidade Cultural”. Essa iniciativa escolar tem como objetivo principal instruir os alunos sobre a história afro-brasileira e fortalecer o profundo laço deles com a comunidade em que estão inseridos. Por meio de diversas atividades engajadoras, o projeto busca consolidar o sentimento de pertencimento e valorização entre os estudantes e a vibrante cultura quilombola. “Com o projeto Identidade Cultural, promovemos ações de educação antirracista que valorizam a comunidade. Queremos que os alunos se sintam parte do lugar onde vivem e que tradições como o marabaixo não sejam esquecidas. Foi daí que surgiu a ideia de participar da Olimpíada”, explicou o professor Bruno.
A competição foi estruturada em duas fases desafiadoras. Na primeira, ocorrida entre 9 de junho e 12 de julho, os estudantes se dedicaram à elaboração de um mapa técnico detalhado, que identificava as áreas da comunidade quilombola impactadas pelo racismo ambiental. Para comprovar a execução da tarefa, um vídeo explicativo e um relatório completo foram submetidos à comissão avaliadora da Olimpíada. Todo esse processo foi conduzido de forma remota, utilizando plataformas online para interação e envio de materiais.
Já a segunda fase, realizada entre 11 de agosto e 17 de setembro, focou na criação do jogo de tabuleiro, seguindo o tema “Por uma educação antirracista”. Esta etapa também foi desenvolvida a distância, culminando na atribuição de 100 pontos ao grupo e garantindo-lhes a tão almejada vaga para a etapa nacional da Olimpíada. A grande final está programada para ocorrer presencialmente na cidade do Rio de Janeiro, com datas estabelecidas entre 17 e 22 de novembro. Todos os custos relacionados à viagem e à participação nesta fase decisiva serão integralmente custeados pela Universidade Federal Fluminense (UFF), demonstrando o apoio à excelência educacional e à relevância da cartografia como ferramenta social.
O jogo “Caminhos Quilombola: Raízes do Matapi” tem seu funcionamento inspirado em tabuleiros clássicos. Cada jogada de dado dispara uma ação específica, intrinsecamente conectada à realidade vivenciada pela comunidade quilombola. Os comandos e os desafios do jogo são ditados por um conjunto de cartas, cuidadosamente elaboradas com base no minucioso mapeamento prévio realizado pelas alunas. Uma das características mais cativantes do projeto é que as próprias peças do jogo são representações em miniatura 3D das estudantes que idealizaram e desenvolveram a iniciativa.
Além da atividade de mapeamento da própria comunidade, as jovens alunas realizaram importantes visitas técnicas. Entre os destinos explorados, destaca-se a Fortaleza de São José de Macapá, um monumento histórico que representa um dos marcos mais significativos da colonização no Estado. Para o professor Bruno Brandão, a concepção do jogo vai além do entretenimento; é uma ferramenta pedagógica lúdica que ensina de maneira divertida sobre os costumes, o cotidiano e a complexa história da formação quilombola no Amapá. “Acreditamos que a educação liberta. A sala de aula não precisa se limitar às quatro paredes. Tentamos incluir todos os alunos, principalmente os que vivem longe do centro. Nosso objetivo é motivá-los e dar a visibilidade que merecem”, pontuou o educador.

Imagem: g1.globo.com
A conquista é ainda mais marcante pelo fato de ser a primeira participação da Escola Professor David Miranda dos Santos na Olimpíada Brasileira de Cartografia, evento que já acumula dez anos de história. A diretora Socorro Silva expressou seu entusiasmo e orgulho: “Eu não sei nem explicar qual é o sentimento. Ainda estamos em êxtase. É claro que tudo saiu aqui da nossa escola, mas estamos representando o Estado e toda a Região Norte. É um reconhecimento do nosso trabalho e de tudo que fazemos aqui na escola. Temos pessoas muito comprometidas em nossa equipe e o reconhecimento é o maior prêmio”, afirmou a gestora.
A Olimpíada Brasileira de Cartografia (Obrac) é uma competição bienal, que ocorre entre os meses de maio e dezembro. Escolas de todo o país têm a oportunidade de inscrever até três equipes, cada uma composta por quatro alunos e um professor orientador. O programa abrange estudantes do 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio, tanto de escolas públicas quanto privadas, localizadas em áreas urbanas e rurais. O propósito central da Olimpíada é despertar o interesse pela cartografia e fomentar o uso do conhecimento espacial como um instrumento de cidadania. Adicionalmente, a iniciativa se dedica a apresentar e difundir novas metodologias de ensino para os professores participantes, enriquecendo a prática pedagógica.
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Este triunfo da escola quilombola do Amapá na Olimpíada de Cartografia transcende o mérito individual, ressaltando o poder da educação antirracista e o impacto transformador de projetos que valorizam a identidade e a cultura local. Convidamos você a continuar explorando nossas matérias sobre educação e cultura, aprofundando-se em iniciativas que impulsionam o desenvolvimento comunitário e fortalecem o senso de pertencimento, como outras notíicias em nossa editoria de Cidades.
Crédito da imagem: Bruno Brandão/Arquivo pessoal
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