A ancestral **tradição das erveiras do Ver-o-Peso**, em Belém do Pará, permanece um pilar inestimável da cultura amazônica, encapsulando conhecimentos ancestrais e práticas de cura que misturam o terreno e o espiritual. Essas mulheres, guardiãs de um saber passado de geração em geração, dedicam-se a preservar o uso de plantas típicas da região na criação de óleos, pomadas, banhos e garrafadas, voltados tanto para a saúde física quanto espiritual.
A expertise das erveiras é reconhecida por suas singulares misturas de ervas e essências, materializadas em frascos coloridos que exibem nomes intrigantes como “abre caminho”, “chama dinheiro” e “passa no concurso”. Tais produtos, facilmente encontrados no mercado Ver-o-Peso, configuram o renomado “banho de cheiro paraense”, uma manifestação genuína da conexão da população com a riqueza da floresta. A relevância dessa prática é tanta que foi oficialmente declarada patrimônio cultural e imaterial do estado do Pará, consolidando a importância dessas figuras na identidade regional.
Erveiras do Ver-o-Peso: Tradição Amazônica e Patrimônio Cultural
O universo das erveiras do Ver-o-Peso, embora enraizado em práticas antigas, ganhou destaque global recentemente. Durante uma visita oficial ao Museu Paraense Emílio Goeldi, o Príncipe William, da Coroa Britânica, foi agraciado com um desses icônicos frascos. O presente foi oferecido por representantes do Instituto Cojovem, uma organização paraense focada nas juventudes e nas questões climáticas da Amazônia.
O momento descontraído gerou ampla repercussão nas redes sociais, suscitando inicialmente uma confusão. Muitos internautas cogitaram que o item entregue ao príncipe fosse o famoso “Óleo da Bôta”, um “perfume amazônico” conhecido por suas características afrodisíacas e suas conexões com rituais de sedução e lendas regionais. Contudo, essa especulação foi prontamente esclarecida.
Conforme explicado por Carla e Pedro Mota, coordenadores de pesquisa do Instituto Cojovem, o presente era, na verdade, o ‘cheirinho Atrai Políticas Públicas para a Juventude’. Este produto foi concebido pela própria organização como um símbolo marcante. “É um símbolo do nosso desejo de afastar a crise climática e atrair direitos e orçamento para a juventude amazônica”, enfatizou Carla, evidenciando o propósito político e social por trás do gesto.
A Profunda Significação da Tradição das Erveiras
No efervescente mercado Ver-o-Peso, as erveiras transcendem o papel de meras comerciantes; elas são depositárias de um conhecimento vasto sobre plantas medicinais e aromáticas. Mantendo viva uma prática que harmoniza espiritualidade, natureza e uma herança cultural robusta, elas preparam o “banho de cheiro” utilizando uma diversidade de ervas, incluindo arruda, manjericão, alecrim, jasmim, alfazema e a raiz amazônica priprioca. Esta última é especialmente valorizada pelo seu perfume terroso e intenso, adicionando uma camada única à complexidade dos preparados.
Cada formulação é meticulosamente pensada para um objetivo específico. Existem banhos para atrair o amor, outros para abrir caminhos na vida, alguns para afastar o azar, e muitos outros focados em trazer prosperidade e bem-estar. Essa sabedoria é um amálgama de influências indígenas, caboclas e africanas, criteriosamente transmitidas de geração em geração, conferindo à prática uma riqueza cultural incomparável.

Imagem: g1.globo.com
Mais do que simplesmente um produto típico, o “banho de cheiro” é encarado como um verdadeiro ritual de fé e proteção. As erveiras o preparam com rezas e intenções claras, imbuindo cada planta com um significado simbólico que ecoa a cosmovisão amazônica. Esse costume ancestral não se restringe a festividades específicas; é amplamente empregado em momentos de renovação pessoal, transições de vida e celebrações religiosas de grande porte, como o icônico Círio de Nazaré e as celebrações de Ano Novo.
A importância dessas práticas vai além do indivíduo. A tradição das erveiras e seus “banhos de cheiro” é um espelho do modo singular como a população amazônica se relaciona com a floresta. Não é vista como um mero cenário natural, mas como uma fonte perene de cura, sabedoria popular e de onde emanam os elementos essenciais para a vida. Esta ligação intrínseca entre homem e natureza reforça a necessidade de preservação desse ecossistema vital e do conhecimento a ele associado.
O reconhecimento como patrimônio cultural imaterial do Pará é uma salvaguarda para que essa valiosa tradição continue a prosperar, ensinando novas gerações sobre o valor intrínseco das plantas, a importância da fé e a perpetuidade de uma herança que define a essência de uma região. Para mais informações sobre a preservação de bens imateriais, um tema crucial para a cultura nacional, o portal do Iphan oferece um rico acervo de conhecimentos.
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A tradição das erveiras do Ver-o-Peso simboliza a riqueza cultural do Pará e a profunda sabedoria de seu povo na interação com a natureza amazônica. Seus “banhos de cheiro” e produtos naturais não são apenas remédios, mas rituais que reforçam a identidade e a fé local. Continue explorando as riquezas e particularidades do Brasil em nossa editoria de Cidades no blog.
Crédito da imagem: Jéssica Gatti / G1 e Arquivo pessoal



