As graves sequelas após erro médico em cirurgia transformaram a vida de uma idosa de 64 anos na Casa de Saúde de Santos, litoral de São Paulo. A paciente, que permaneceu em coma e foi submetida a múltiplos procedimentos após uma compressa de gaze ter sido esquecida em seu corpo durante um procedimento, enfrenta atualmente traumas emocionais e severos problemas de saúde, conforme relato de sua filha.
A situação culminou em uma condenação judicial para o hospital Casa de Saúde de Santos. A instituição foi sentenciada a pagar mais de R$ 245 mil em indenização à idosa e a seus familiares. A decisão, proferida pela 12ª Vara Cível da cidade, ainda está sujeita a recurso. Procurada, a unidade hospitalar não se manifestou até a última atualização da reportagem. A família, por sua vez, preferiu não ter a filha da paciente identificada publicamente.
Erro Médico: Idosa de Santos Tem Sequelas Após Gaze em Cirurgia
A filha da paciente manifestou profundo desapontamento com a atuação da equipe médica, sugerindo que o foco dos profissionais estaria mais voltado para questões financeiras do que para a integridade da mãe. Ela classificou a postura adotada após a intervenção inicial como “totalmente desprezível”. Segundo seu relato, durante a cirurgia, os médicos constataram um quadro de diverticulite e propuseram uma nova operação, que, sugestivamente, deveria ser realizada de forma particular, alegando que a cobertura do plano de saúde seria insuficiente. A família efetuou o pagamento de R$ 12 mil por esse procedimento particular.
A Longa Jornada de Sofrimento e Descobertas
A paciente enfrentou meses de dores intensas, internações contínuas e complicações pós-operatórias que desafiavam o diagnóstico. A descoberta da compressa de gaze, após um longo período de incerteza, desencadeou sentimentos complexos na família. “A primeira coisa foi o alívio, porque sabíamos que a partir daquele momento as coisas poderiam melhorar. Mas também veio a revolta pelo erro médico”, detalhou a filha. Ela reiterou a convicção de que a responsabilidade é inerente à instituição: “A compressa deixada foi dentro do hospital, pela equipe que atende dentro do hospital. Então eles (Casa de Saúde) são responsáveis sim pela equipe que atende lá dentro.”
De acordo com o veredito judicial, o juiz Rodrigo Garcia Martinez compreendeu que, apesar de não ter sido possível determinar o momento exato da falha, a compressa de gaze só poderia ter sido esquecida no decorrer de um ato cirúrgico. O magistrado salientou que a Casa de Saúde não conseguiu apresentar provas que descaracterizassem sua responsabilidade no evento, tornando-a, portanto, accountable. A filha da idosa considerou a deliberação do tribunal como justa. “Uma compressa de gaze só é esquecida dentro de um ser humano quando existe uma cirurgia. A única cirurgia que ela fez foi dentro da Casa de Saúde, então só podia ter sido dentro da Casa de Saúde”, argumentou.
Os Danos e o Impacto na Vida da Idosa
Ao tomar ciência do erro que causou seus sofrimentos, a idosa teve uma reação de intenso abalo emocional, chorando profusamente, embora, conforme sua filha, ainda não conseguisse assimilar a dimensão completa do problema. Atualmente, a paciente apresenta melhoria no quadro físico, mas segue em tratamento psicológico e psiquiátrico contínuo. Ela faz uso regular de medicamentos específicos e é acompanhada por profissionais de ambas as especialidades para lidar com a ansiedade, depressão e diarreia constante que decorre da retirada de pedaços de intestino.
Entenda o Caso Detalhadamente
Em março de 2023, a idosa procurou o pronto-socorro do hospital em Santos, apresentando um quadro de dor abdominal, náuseas e enjoos. O primeiro atendimento resultou no diagnóstico de infecção urinária, com medicação e subsequente liberação. Contudo, a persistência dos sintomas a fez retornar ao hospital. Dessa vez, o diagnóstico foi de cálculo renal, e após nova medicação, ela foi novamente liberada. Diante da ausência de melhora, a paciente retornou à unidade hospitalar pela terceira vez ainda em março, quando foi internada. Após exames mais aprofundados, os médicos indicaram a necessidade de uma intervenção cirúrgica.
Ela foi submetida a uma videolaparoscopia, um método minimamente invasivo que envolve pequenas incisões para inserção de uma câmera de alta definição e instrumentos cirúrgicos. Durante este procedimento inicial, foram realizados a retirada do apêndice e a drenagem de um abscesso abdominal. No entanto, o sofrimento da paciente não cessou, e com dores persistentes, uma nova internação se fez necessária. Em 10 de abril, ela foi encaminhada para uma segunda cirurgia. Este procedimento, também iniciado por videolaparoscopia, teve de ser convertido para uma cirurgia aberta, exigindo acesso direto à cavidade abdominal.
Durante essa intervenção mais complexa, parte do intestino da paciente foi retirada, e uma bolsa de ileostomia foi implantada – um dispositivo conectado ao intestino delgado para a coleta de material fecal. Contudo, os problemas não tiveram fim. Episódios de febre e inflamação nos pontos cirúrgicos se seguiram, culminando em uma nova internação, dessa vez para tratamento com curativo a vácuo. A idosa permaneceu internada por dois meses, entre 18 de abril e 6 de junho de 2023. Nesse período, fístulas intestinais (pequenos rasgos) foram detectadas, com a saída de fezes através do curativo.

Imagem: g1.globo.com
A Gaze Finalmente Encontrada e Novas Cirurgias
Mesmo após a alta hospitalar, o corte cirúrgico da idosa permanecia aberto, e ela continuava a sentir dores, febre e a exalar um odor forte da região operada. Diante da falta de respostas satisfatórias do hospital, a família decidiu buscar uma segunda opinião especializada, consultando um gastroenterologista em São Paulo. Lá, uma nova colonoscopia foi realizada, e o exame confirmou o que parecia inconcebível: a presença de um corpo estranho, uma compressa de gaze, alojada no interior da paciente, que estava por trás de todos os seus sintomas graves.
A tentativa de remoção da compressa durante a colonoscopia foi infrutífera. Dada a gravidade do caso, a idosa foi imediatamente submetida a uma terceira cirurgia de emergência em um hospital na capital paulista. Além da retirada da gaze, os médicos procederam à remoção da vesícula e de mais um segmento intestinal. A complexidade e o alto risco da operação foram acentuados pelo estado debilitado em que a paciente se encontrava.
O período pós-cirúrgico foi igualmente desafiador: a idosa passou três dias em coma, seguidos por 31 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais nove dias na unidade semi-intensiva, antes de finalmente ser transferida para a enfermaria e, posteriormente, receber alta hospitalar.
A Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) constantemente publicam informações e normativas sobre a ética médica e a segurança do paciente, temas centrais em casos como este, onde a negligência pode levar a desfechos trágicos. A batalha legal e os custos da assistência médica, incluindo tratamentos psicológicos e uso contínuo de medicação para lidar com a ansiedade, depressão e problemas gastrointestinais graves, evidenciam as múltiplas camadas de sofrimento enfrentadas pela vítima.
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A situação desta idosa de Santos sublinha a gravidade de erros médicos e o impacto duradouro na vida das vítimas e suas famílias. Fique atento às últimas notícias sobre saúde e direitos do consumidor, e explore mais conteúdos da nossa editoria de Cidades para se manter informado.
Crédito da imagem: Foto: Reprodução
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