A discussão em torno da produção energética ganhou destaque global, e a energia nuclear nos EUA ressurge como pilar estratégico em meio à crise climática. À medida que o planeta busca equilibrar o aumento da demanda por eletricidade com a urgência de reduzir a poluição, os Estados Unidos revisitam sua matriz energética, colocando novamente as usinas nucleares no centro do debate.
Recentemente, a abordagem norte-americana sobre energia atômica foi objeto de uma análise aprofundada, com foco especial na iminente COP30, em Belém. Esta nova fase remete a um período de expansão urbana e tecnológica, que no século XX foi largamente impulsionado por grandes fontes de energia.
O Ressurgimento da Energia Nuclear no Debate Americano
A metrópole de Nova York, um símbolo global de modernidade e vida ininterrupta, foi durante décadas suprida por uma infraestrutura crucial: a usina nuclear de Indian Point, localizada a cerca de 60 quilômetros ao norte da Times Square. Em seu auge, esta instalação era responsável por fornecer aproximadamente um quarto da eletricidade consumida pela cidade. Operacional por um longo tempo, a sala de comando da usina, descrita por um funcionário como “um filme dos anos 1970”, operava com monitoramento constante. No entanto, um botão de emergência tinha a função vital de desligar o sistema, medida que foi tomada pela última vez em 2021.
O encerramento definitivo da Indian Point em 2021 representou um marco. Para engenheiros mecânicos como Brian Vangor, que dedicou 32 anos à sala de controle da usina, o desligamento foi um momento de tristeza. Indian Point não foi um caso isolado; diversas usinas nucleares em todo o mundo compartilharam um destino semelhante após eventos históricos que moldaram a percepção global sobre a segurança nuclear.
Um dos episódios mais marcantes foi o desastre de Fukushima, no Japão. Após um terremoto seguido por um tsunami, os reatores da usina explodiram, liberando material radioativo por toda a região e espalhando um temor global. As cenas de ruas abandonadas e casas saqueadas em Fukushima, onde áreas permanecem contaminadas, são um lembrete vívido dos perigos associados. Consequentemente, muitos países endureceram as regulamentações para operação de usinas, tornando os custos operacionais mais elevados e acelerando o processo de desativação de diversas instalações.
Apesar do receio, o processo de desativação é complexo e demorado. Em Fukushima, por exemplo, a desativação completa é estimada apenas para 2080. A lentidão do processo foi observada de perto na usina de Nova York, onde equipes de reportagem se prepararam com uniformes de proteção para entrar em zonas de alta radiação. Em uma visita ao reator 2 de Indian Point, previsto para ser completamente desativado apenas em três décadas, o correspondente Felipe Santana relatou a necessidade de cuidado extremo, evitando contato com superfícies contaminadas e a própria face. Brian Vangor explicou o desafio: para desativar o reator, a cavidade que antes abrigava o núcleo nuclear precisou ser cheia de água para conter a radiação. Guindastes equipados com serras cortam o reator em fatias, comparado ao processo de cortar um “grande salame”, que depois são acondicionadas em barris e removidas. Tudo isso deve ser feito debaixo d’água, o que adiciona uma camada extra de dificuldade e tempo ao trabalho.
A percepção da energia nuclear nos EUA começou a mudar notavelmente em maio de 2025. O ex-presidente Donald Trump fez um anúncio significativo sobre o futuro energético do país, acompanhado pelo secretário do Interior, Doug Burgum, que sinalizou uma intenção de “voltar 50 anos no tempo” e “reverter décadas de regulação”. A meta dos Estados Unidos é ambiciosa: quadruplicar sua capacidade nuclear. Brian Vangor calcula que para reativar uma usina como Indian Point seria necessário um investimento de 10 bilhões de dólares e anos de trabalho para reconstruir seus componentes. Desde 2015, uma demanda crescente por energia impulsionou um novo cenário na economia americana, especialmente na Califórnia, lar de gigantes da tecnologia. Empresas como os data centers consomem quantidades massivas de energia, estimulando o surgimento de startups e empresas menores dedicadas à pesquisa de novas formas eficientes de produzir energia nuclear.
Uma dessas empresas na Califórnia, a Kairos Power, está inovando na tecnologia de combustível nuclear. Diferente dos métodos tradicionais que usavam urânio em barras de quatro metros, a Kairos desenvolveu um sistema onde o urânio é contido em pequenas “bolinhas”, envolvidas em um revestimento robusto. Essas bolinhas são então imersas em sal derretido, que age como um resfriador, gerando vapor para girar as turbinas e produzir energia. Mike Laufer, CEO da Kairos Power, afirma que a promessa é evitar o superaquecimento e explosões, como ocorreu em Fukushima. Segundo Laufer, caso houvesse um incidente, o urânio permaneceria contido dentro das bolinhas, espalhando-se como “bolinhas de gude” pelo chão, o que mitigaria o impacto sobre a população. Este avanço é um fator chave no debate sobre a segurança da energia nuclear nos EUA.

Imagem: energia nuclear via g1.globo.com
Para se aprofundar nos regulamentos e avanços tecnológicos que permeiam o setor energético global, você pode consultar fontes oficiais. O Departamento de Energia dos EUA oferece informações detalhadas sobre a energia nuclear e sua evolução dentro do país, demonstrando o empenho em políticas robustas para o setor.
Esta nova onda de otimismo em relação à energia nuclear encontra até mesmo ressonância entre alguns ambientalistas, devido ao fato de não emitir gases do efeito estufa, um grande trunfo no combate à crise climática. Contudo, o grande dilema persiste no material radioativo em si: o urânio enriquecido. Uma exposição extrema pode ser letal em poucos dias, e o material mantém sua radioatividade indefinidamente. Atualmente, as usinas armazenam esses resíduos em grandes tambores de concreto, projetados para serem resistentes a explosões, fogo, terremotos e inundações. A pergunta de Brian Vangor sobre o destino desses resíduos “daqui a 100 anos” continua sem uma resposta definitiva, com a esperança de que o governo assuma a responsabilidade de encontrar um local de descarte permanente.
As novas tecnologias, embora mais seguras na operação, enfrentam o mesmo problema fundamental da gestão de resíduos. A estratégia da Kairos Power, por exemplo, é similar: acondicionar o combustível em contêineres e aguardar desenvolvimentos de longo prazo para seu descarte final. A crescente demanda energética, impulsionada em parte pela expansão da inteligência artificial, que requer data centers com alto consumo de eletricidade, só intensifica essa discussão. A matriz energética é uma questão de poder, e as grandes potências mundiais relutam em alterar suas estratégias. Contudo, as mudanças climáticas já geram tragédias globais e prometem intensificar-se, colocando o mundo diante de uma equação complexa que culminou em debates internacionais como a COP30. A ausência dos Estados Unidos nesses diálogos globais complica ainda mais uma das discussões mais urgentes de nossa era, vital para o modo de vida que prezamos, incluindo a possibilidade de viver em cidades que “nunca dormem”.
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Em síntese, o retorno da energia nuclear nos EUA ao cenário estratégico é impulsionado por um misto de demanda energética, crise climática e inovações tecnológicas. Os desafios, como o gerenciamento de resíduos e a herança de desativações complexas, ainda persistem, mas a busca por soluções eficientes e seguras define a agenda futura do setor. Para aprofundar-se em outros debates sobre o futuro energético e seus impactos na sociedade, explore nossa editoria de Economia e mantenha-se informado.
Crédito da imagem: Jornal Nacional/Reprodução


