O aguardado encontro Trump e Xi Jinping, agendado para a próxima quinta-feira, 30 de outubro, na Coreia do Sul, durante a Cúpula da APEC, representa um marco decisivo nas relações diplomáticas e econômicas entre Washington e Pequim. Esta será a primeira vez que os dois líderes se reúnem presencialmente desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca, um período já caracterizado por acentuadas tensões comerciais e uma crescente rivalidade geopolítica na região do Indo-Pacífico.
Embora as expectativas sobre os desdobramentos desse encontro sejam altas, a delegação presidencial dos Estados Unidos deixa claro que o Brasil não figura entre as prioridades centrais da agenda de Trump neste giro diplomático pela Ásia. Mesmo com a possibilidade de um novo capítulo nas relações com Brasília, a Casa Branca direciona seu foco e sua equipe mais estratégica para os debates com o líder chinês, considerados essenciais para a definição de futuras diretrizes americanas.
Trump e Xi Jinping: Encontro Crucial na Ásia Define Rumos
Especialistas já haviam apontado, após o primeiro contato informal entre Lula e Trump na Assembleia Geral da ONU, que o Brasil, de fato, não ocupa atualmente uma posição de destaque na pauta americana. Enquanto Brasília ainda aguarda a confirmação de um possível encontro bilateral a ser realizado na Malásia, a preocupação primordial de Washington e a única reunião com agenda confirmada é a com o presidente Xi Jinping. Esse encontro é encarado como um momento definidor para os rumos estratégicos e econômicos dos Estados Unidos no Indo-Pacífico.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, detalhou a programação da viagem do presidente Trump, que teve início na noite de sexta-feira, às 23h, horário local de Washington. A primeira parada da comitiva americana está marcada para o domingo, 26 de outubro, na Malásia, onde Trump tem um encontro agendado com o primeiro-ministro local antes de participar do jantar de líderes da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). Após os compromissos na Malásia, o roteiro de Trump inclui uma visita ao Japão, culminando na Coreia do Sul, palco do aguardado e crucial encontro com Xi Jinping.
Paralelamente, fontes do governo brasileiro expressam otimismo em relação a uma possível reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Trump. A expectativa é que este encontro ocorra durante a passagem pela Malásia, também no domingo. No entanto, é relevante notar que a agenda oficial divulgada pela porta-voz da Casa Branca até o momento não incluiu tal compromisso bilateral com o líder brasileiro, ressaltando o foco prioritário na cúpula com a China.
Diálogo EUA-China e as Demandas Americanas
Durante uma interação com a imprensa a bordo do Air Force One, o presidente Trump compartilhou sua percepção de ter um “relacionamento muito bom com o presidente Xi” e expressou confiança na concretização de um acordo abrangente com a China. O mandatário americano indicou que a pauta do diálogo bilateral deverá cobrir áreas cruciais, como comércio e energia nuclear, além de tópicos considerados sensíveis, a exemplo da aquisição chinesa de petróleo russo e o cenário da guerra na Ucrânia.
Trump afirmou com otimismo: “Acho que vamos acabar tendo um acordo fantástico com a China, e vai ser fantástico para o mundo inteiro.” Demonstrou também a sua disposição em aliviar as tarifas sobre os produtos chineses, contanto que houvesse uma contrapartida. Ele ressaltou que, para essa redução, seria necessário “dar algo em troca”, citando especificamente o aumento das importações chinesas de soja americana, a diminuição do fluxo de insumos usados na produção de fentanil e o fim das restrições sobre os minerais raros, essenciais para as indústrias de alta tecnologia. Tais pontos ilustram a complexidade das relações e a busca por equilíbrio nos acordos bilaterais, marcando a importância das negociações sobre o comércio global entre as duas potências.
A Comitiva Estratégica de Washington
A equipe que acompanha Donald Trump nesta viagem à Ásia é vista como uma das mais estratégicas desde o início de seu novo mandato. Ela reúne figuras-chave das políticas externa e econômica dos Estados Unidos, demonstrando a seriedade e a importância dos temas em debate. O Secretário de Estado, Marco Rubio, faz parte dessa delegação, cumprindo o mesmo roteiro com paradas na Malásia, Japão e Coreia do Sul entre os dias 22 e 30 de outubro.
Anteriormente, Marco Rubio esteve em Israel, onde reafirmou o apoio do governo americano ao Plano Abrangente para o Fim do Conflito em Gaza, uma iniciativa proposta por Trump e caracterizada pelo Departamento de Estado como um esforço histórico visando “integração e paz duradoura no Oriente Médio”. Após a etapa no Oriente Médio, o Secretário se une à comitiva presidencial na Cúpula da Asean, em Kuala Lumpur, seguindo depois para a Semana de Líderes Econômicos da Apec, na Coreia do Sul.
Segundo um comunicado oficial, a missão do Secretário de Estado é “promover a cooperação e fortalecer os laços com os parceiros do Indo-Pacífico”, priorizando os aspectos de comércio e segurança regional. Outro membro proeminente da comitiva é o Representante Comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, cuja agenda também inclui a Malásia, o Japão e a Coreia do Sul. Greer, inclusive, teve um encontro prévio com o chanceler brasileiro Mauro Vieira em Washington, visando preparar uma potencial reunião bilateral entre os dois países.
Em recentes manifestações, Jamieson Greer explicitou que as tarifas de 50% aplicadas sobre produtos brasileiros constituem uma resposta a questões vinculadas ao Estado de Direito, censura e direitos humanos no Brasil. Embora não tenha nomeado o Supremo Tribunal Federal, o representante comercial citou o ministro Alexandre de Moraes, mencionando que um juiz brasileiro teria “censurado empresas americanas por meio de ordens secretas”, com o propósito de controlar a disseminação de informações referentes ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Adicionalmente, a comitiva inclui o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, e outros assessores de alto escalão da Casa Branca, incluindo membros do Conselho de Segurança Nacional. Indagada pela PBS sobre os detalhes da agenda, a porta-voz da Casa Branca, Anna Kelly, limitou-se a declarar que o presidente participaria de “reuniões e eventos que resultarão em grandes acordos para o país”, finalizando com um enigmático: “Fiquem atentos.”
Expectativas Brasileiras e Pontos de Tensão
O governo brasileiro mantém elevada expectativa para um encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente americano Donald Trump, previsto para o domingo, dia 26 de outubro, na Malásia. O evento, que aconteceria à margem da Cúpula da Asean, é tratado com cautela pelo Itamaraty, mas visto como uma etapa importante para reabrir os canais de diálogo e buscar uma redução das tarifas impostas sobre produtos brasileiros desde o início da nova gestão Trump.
A articulação para essa reunião tem se desenvolvido ao longo de semanas por diplomatas dos dois países, desde a conversa informal que Lula e Trump tiveram durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York. Na primeira ligação telefônica entre os chefes de Estado, Lula apresentou três alternativas para o encontro: um convite para a Cúpula do G20 em Belém, uma visita bilateral separada ao Brasil, ou um encontro mais breve na Malásia. Trump optou pela terceira opção, a mais imediata, que o governo brasileiro enxerga como a que oferece maior chance de resultados concretos ainda neste semestre.
Assessores de Lula indicam que o presidente pretende ser claro em sua posição de que o Brasil está pronto para negociar questões comerciais e diplomáticas, mas não aceitará discussões sobre decisões do Poder Judiciário brasileiro. Esta é uma linha vermelha que se refere, em particular, aos processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Para Brasília, a defesa dessa autonomia judicial é uma questão de soberania nacional e de salvaguarda da democracia brasileira, um ponto intransigente em qualquer diálogo.
Entre os temas potenciais para a conversa bilateral entre Lula e Trump estão a regulamentação das plataformas digitais, uma pauta prioritária do governo brasileiro no Congresso, e a investigação iniciada pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) sobre o sistema de pagamentos Pix, com o argumento de que este criaria barreiras de mercado para empresas americanas. Outro tópico que poderá surgir na mesa de discussões é a situação da plataforma Rumble, que teve seu funcionamento bloqueado no Brasil desde fevereiro e se tornou um símbolo da pressão americana por maior abertura no setor digital. Diplomatas brasileiros, em conversas de bastidores, avaliam que essa reunião tem o potencial de redefinir o tom das relações entre Lula e Trump, até então marcadas por uma desconfiança mútua, mas também por um interesse recíproco em desburocratizar o comércio e mitigar as tensões políticas.
A Questão Venezuelana na Agenda de Lula
Diplomatas brasileiros antecipam que a escalada da crise contra a Venezuela será um dos pontos a serem abordados por Luiz Inácio Lula da Silva durante seu encontro com Donald Trump, previsto para a Malásia. O presidente brasileiro planeja discutir a situação venezuelana em um tom de alerta, conforme indicam fontes do Palácio do Planalto. A intenção de Lula é deixar explícito a Trump que uma intervenção militar americana na Venezuela poderia acarretar um efeito desestabilizador em toda a região, abrindo precedentes para a expansão do narcotráfico e para um cenário de migração forçada.
Fontes diplomáticas ressaltam a extrema cautela do governo brasileiro devido à falta de clareza total sobre os objetivos da Casa Branca em relação à Venezuela. Permanece a dúvida, inclusive, se Washington e Caracas ainda mantêm algum canal de diálogo ativo, especialmente após os eventos de bombardeio que resultaram em 37 mortes e a destruição de nove embarcações, sendo sete venezuelanas e duas colombianas. O Brasil sinaliza a possibilidade de atuar como mediador na crise, mas somente se houver uma manifestação de interesse por ambas as partes envolvidas, sem se oferecer formalmente para tal papel até o momento. Enquanto isso, informações apontam que Trump autorizou operações secretas da CIA em território venezuelano e admitiu a possibilidade de avaliar ataques terrestres contra cartéis de drogas, uma medida que, para muitos especialistas, ampliaria as tensões geopolíticas no continente sul-americano.
Em um discurso recente, proferido no dia 20 de outubro no Palácio do Itamaraty, Lula reiterou a postura brasileira: “Manter a América Latina e o Caribe como zona de paz é prioridade do Brasil. Intervenções estrangeiras podem causar danos maiores do que os que se pretende evitar.” Sem mencionar diretamente os Estados Unidos ou a Venezuela, Lula enfatizou que a região atravessa um período de “polarização e instabilidade crescente”, o que, em sua visão, reforça a urgência do diálogo e da prudência diplomática como eixos centrais da política externa brasileira.
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Em suma, a cúpula entre Trump e Xi Jinping se destaca como o epicentro da viagem asiática do presidente americano, prometendo definir os rumos das intrincadas relações EUA-China em questões comerciais e de segurança global. Enquanto isso, o Brasil, embora não seja a prioridade imediata, segue atento às expectativas de um diálogo bilateral que poderá impactar a dinâmica política e econômica da América Latina. Continue explorando as últimas notícias sobre política internacional em nossa editoria de Política para ficar por dentro dos principais desdobramentos globais.
Crédito da Imagem: Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York.


