O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi oficialmente confirmado para este domingo, dia 26. A Casa Branca anunciou que a reunião bilateral ocorrerá na Malásia. De acordo com informações obtidas junto ao governo brasileiro e confirmadas pela correspondente da TV Globo, Raquel Krahenbuhl, o diálogo está previsto para as 4h30 (horário de Brasília), que corresponde às 15h30 no horário local de Kuala Lumpur.
Ambos os líderes encontram-se no país asiático para uma série de compromissos com membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). Este será o primeiro contato oficial direto entre Lula e Trump desde a implementação de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, e marca a primeira vez que se veem pessoalmente desde que Trump assumiu a presidência norte-americana. A expectativa é que este encontro presencial leve as discussões para um patamar mais elevado e fundamental para o futuro das relações bilaterais, atualmente abaladas por desentendimentos comerciais e diplomáticos.
Lula e Trump Confirmam Encontro Oficial na Malásia
O presidente brasileiro expressou, no último sábado (25), sua confiança de que o encontro possa resultar em soluções concretas para as diferenças entre os dois países. “Trabalho com otimismo para que a gente possa encontrar uma solução”, declarou Lula, afastando a existência de exigências prévias de ambas as partes. “Vamos colocar na mesa os problemas e tentar encontrar uma solução. Então, pode ficar certo que vai ter uma solução.” A afirmação do presidente Lula ocorreu horas após Donald Trump, em declarações a jornalistas a bordo de seu avião presidencial, ratificar a ocorrência da reunião. O líder americano, por sua vez, sugeriu a possibilidade de reavaliar as sobretaxas sobre produtos brasileiros, desde que as “circunstâncias certas” estejam presentes. Questionado por um repórter sobre a redução das tarifas durante o embarque para a Ásia, Trump foi taxativo: “Sob as circunstâncias certas.”
Há grande expectativa de que a reunião seja o ponto de partida para a reestruturação da relação bilateral. A sintonia entre os dois mandatários começou a ser reconstruída desde setembro, com um encontro casual na Assembleia das Nações Unidas que ambos descreveram como tendo “boa química”. Em um passo posterior, no início deste mês, os presidentes conversaram por aproximadamente 30 minutos em uma chamada telefônica mediada pelas diplomacias de ambos os países, o que foi um indicativo de aproximação.
Disputas Comerciais: Tarifas e Sobretaxas
Durante a conversa telefônica prévia, Lula havia pleiteado a Trump a revogação de sanções direcionadas a autoridades brasileiras e solicitou a retirada de uma sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros, em vigor desde agosto, aplicadas para entrada nos EUA. É esperado que esses tópicos figurem entre as prioridades de Lula no diálogo deste domingo. Auxiliares do presidente brasileiro também consideram que Lula possa usar a ocasião para discutir as recentes investidas de Trump contra Venezuela e Colômbia, manifestando seu desacordo com intervenções externas na América do Sul e Caribe, defendendo a prevalência do diálogo e cooperação diplomática. Essa postura do governo brasileiro sublinha a importância da soberania e estabilidade regional como pilares da política externa.
O “tarifaço”, um dos pontos cruciais na pauta, refere-se à imposição de uma sobretaxa de 50% sobre bens brasileiros. Na justificativa para essas medidas, Trump alegou questões econômicas, citando um suposto déficit comercial com o Brasil – alegação que contrasta com dados oficiais, que não confirmam tal desequilíbrio. Além disso, o mandatário norte-americano vinculou as taxas a questões políticas, como o processo envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a “liberdade de expressão de cidadãos americanos”. Esses fatores adicionam camadas de complexidade às negociações comerciais.
Sanções a Autoridades Brasileiras e a Lei Magnitsky
Adicionalmente às questões tarifárias, os Estados Unidos impuseram sanções a membros da Suprema Corte brasileira. Em julho, Marco Rubio, secretário de Estado do governo Trump, informou a revogação dos vistos americanos do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, e de outros sete ministros. O ministro Moraes foi ainda sancionado com base na Lei Magnitsky. Este mecanismo legal permite que os Estados Unidos apliquem sanções a estrangeiros acusados de graves violações de direitos humanos ou de corrupção em larga escala. Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, mencionou publicamente uma suposta “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, da qual o ministro seria alvo, gerando forte desconforto entre Brasília e Washington. Tais medidas impactam diretamente o corpo jurídico brasileiro, causando um clima de tensão diplomática sem precedentes na relação.

Imagem: g1.globo.com
Tensão na Venezuela e a Posição Brasileira
A escalada militar dos EUA na Venezuela também deverá ser abordada. A presença de navios de guerra, aeronaves de combate, tropas e o porta-aviões USS Gerald R. Ford no Caribe, sob a alegação de combate ao narcotráfico, tem elevado consideravelmente a tensão na área. Desde 2 de setembro, foi registrada a destruição de, ao menos, dez lanchas supostamente ligadas ao tráfico, com a resultante de 43 mortes. Caracas, por meio do governo de Nicolás Maduro, acusa Washington de instigar um conflito fabricado para depô-lo, alertando para o risco de uma ameaça militar de maior alcance para a América Latina. O presidente brasileiro, alinhado à defesa da não-intervenção, reitera que se opõe a qualquer tentativa de intromissão em nações da região. Lula argumenta que tais ações desestabilizam a área e comprometem a soberania, priorizando a diplomacia. Em suas palavras, ele defenderá que o diálogo prevaleça sobre ações militares, buscando manter o continente como uma zona de paz e estabilidade. Sobre a diplomacia brasileira, mais detalhes podem ser encontrados no portal oficial do Ministério das Relações Exteriores.
Análise da Relação Delicada e o Papel de Brasília
No Palácio do Planalto, a avaliação corrente é de que este encontro direto entre Lula e Trump é um marco fundamental. Representa um avanço que “eleva as discussões para um outro patamar” e é um passo indispensável para “reorganizar a relação entre Trump e Lula e a pauta entre os dois países” após meses de fortes tensões. Há a percepção de que a relação foi “destravada”, especialmente depois da reunião “muito positiva” entre o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o chanceler brasileiro, Mauro Vieira. A história de ambos os líderes mostra uma relação inicialmente distante. Durante as eleições presidenciais americanas de 2024, Lula havia manifestado preferência pela então candidata Kamala Harris, considerando sua vitória um caminho mais “seguro para fortalecer a democracia”. Ele criticou as ações de Trump no ataque ao Capitólio, descrevendo o evento como impensável em um país que se via como modelo democrático. Após Trump assumir o cargo, Lula chegou a expressar falta de interesse em dialogar com ele, e a relação esfriou ainda mais quando, em abril deste ano, tarifas de 10% foram aplicadas a produtos de vários países, incluindo o Brasil. Naquela ocasião, Lula reforçou que o Brasil não abriria mão de sua soberania.
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Este domingo marcará um momento crucial para a diplomacia entre Brasil e Estados Unidos. Com o foco em superar as barreiras impostas por tarifas e sanções, e na discussão de temas delicados como a segurança regional, o encontro entre Lula e Trump tem o potencial de redefinir a pauta bilateral. Para acompanhar as análises e desdobramentos de políticas externas e internas, continue navegando em nossa seção de Política.
Crédito da imagem: Ricardo Stuckert / PR




