Neste sábado, 18 de maio, enquanto Brasil e Reino Unido celebravam 200 anos de suas relações bilaterais, a embaixadora britânica Stephanie Al-Qaq, 49 anos, destacou a importância da COP30 para o multilateralismo. Em uma entrevista detalhada concedida em Brasília, onde está no cargo desde 2022, a diplomata abordou temas cruciais que interligam os dois países, desde os desafios enfrentados por líderes progressistas como Lula e o primeiro-ministro Keir Starmer, até as dinâmicas dos sistemas públicos de saúde e as expectativas para a próxima Conferência do Clima.
A celebração dos dois séculos de diplomacia serve como pano de fundo para discussões sobre tendências políticas contemporâneas, como a ascensão de grupos de ultradireita, e as estratégias adotadas por figuras de esquerda que, ao se reposicionarem para o centro, buscaram e conquistaram o poder. Al-Qaq, que no ano anterior enfrentou um grave quadro de dengue e recebeu um transplante de fígado na capital federal, também trouxe à tona a proximidade entre o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro e o Serviço Nacional de Saúde (NHS) britânico, e as reformas recentes na política migratória do Reino Unido.
Embaixadora do Reino Unido: COP30 é teste do multilateralismo
Sistemas de Saúde Públicos: Diálogo entre SUS e NHS
Ambas as nações, Brasil e Reino Unido, compartilham o mérito de manter robustos sistemas públicos de saúde. Embora reconheça as críticas existentes, a embaixadora Stephanie Al-Qaq ressalta a relevância desses modelos em comparação com realidades de países onde a ausência de uma rede pública de atendimento agrava dramaticamente a situação das populações mais vulneráveis. “Devemos nos orgulhar de nossos sistemas”, afirmou Al-Qaq, enquanto enfatiza a necessidade de constante aprimoramento. O SUS, notoriamente inspirado no NHS, é motivo de orgulho para o Reino Unido, indicando uma profunda conexão histórica e de políticas públicas entre os países. A diplomata sugeriu que a modernização contínua de ambos os sistemas abre portas para um intercâmbio valioso de conhecimentos e práticas. Ela mencionou que um plano decenal do NHS já incorpora programas focados em atenção primária à saúde, área de interesse discutida em recente visita do ministro da Saúde brasileiro, Alexandre Padilha, ao Reino Unido. Além disso, destacou a presença consolidada de empresas farmacêuticas e de saúde britânicas, como GSK, AstraZeneca, Halion e Reckitt, operando ativamente dentro da estrutura do SUS.
A Política de Imigração Britânica e seus Desafios
Sobre o cenário imigratório, Al-Qaq esclareceu que a nação europeia mantém seu desejo de atrair profissionais qualificados, como médicos e enfermeiros, que desempenham um papel vital no NHS e fortalecem o sistema com sua diversidade e experiência internacional. No entanto, ela enfatizou que as recentes atualizações nas leis de imigração do Reino Unido visam coibir a migração irregular. O principal objetivo é combater o crime organizado que orquestra a travessia de indivíduos pelo Canal da Mancha em embarcações de pequeno porte. A embaixadora assegurou que essa medida não representa um abandono da responsabilidade britânica de acolher aqueles que possuem motivos legítimos para residir no país, reafirmando um compromisso de longa data. A prioridade é impedir a entrada de indivíduos sem o direito legal de permanência no Reino Unido, distinguindo a busca por talentos da prevenção da ilegalidade.
Multilateralismo em Debate: A Importância da COP30
O Reino Unido se posiciona como um dos maiores defensores da reforma do sistema internacional. A embaixadora Al-Qaq salientou a crença britânica de que o multilateralismo oferece a melhor via para uma representação equitativa da maior parte da população mundial, apesar de reconhecer que o sistema enfrenta atualmente um “forte ataque”. Ela ponderou que há resistência à reforma, seja pela preferência ao status quo, seja pelo desejo de minar completamente as estruturas multilaterais. Assim, ao buscar reformas na Organização das Nações Unidas (ONU) e em instituições financeiras globais, é imperativo agir de maneira a preservar o arcabouço do sistema existente. Embora o ritmo das reformas não seja o ideal, nem para o Reino Unido nem para o Brasil, Al-Qaq sublinhou a necessidade de um pragmatismo paciente. Para mais detalhes sobre as iniciativas globais no âmbito multilateral, consulte as políticas do governo britânico em organizações multilaterais neste site. Neste contexto, a COP30, a ser realizada no Brasil, adquire uma dimensão colossal, representando um “grande teste para o multilateralismo” em um momento de incerteza global sem precedentes. Há uma grande expectativa de que o Brasil consiga garantir o êxito da conferência, evitando um cenário de enfraquecimento do sistema multilateral.
O Engajamento da Família Real Britânica na Agenda Climática
A pauta ambiental tem um lugar de destaque nas relações entre o Brasil e a Família Real Britânica. O Rei Charles III mantém uma ligação profunda e de longa data com o Brasil, com múltiplas visitas realizadas ainda como Príncipe de Gales e um interesse ativo nas questões do país. A luta contra as mudanças climáticas e a preservação ambiental é um trabalho de uma vida para Sua Majestade. Contudo, reconhece-se a importância de engajar as novas gerações e de focar em soluções e oportunidades, em vez de ceder ao pessimismo. É nesse cenário que entra o Príncipe William, o Príncipe de Gales, que partilha do compromisso com o clima e a natureza de seu pai, mas com uma abordagem focada em inovação. William busca iluminar, identificar, aprimorar e expandir as inovações ambientais em escala global. Sua decisão de realizar a cerimônia do prêmio Earthshot — uma premiação criada por ele para reconhecer iniciativas de proteção ambiental — no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, e de representar seu pai na COP30, sublinha a relevância estratégica da agenda ambiental no cenário bilateral e global.
Crescimento da Ultradireita e a Defesa da Democracia
A embaixadora expressou sua surpresa e choque diante de uma grande manifestação da ultradireita em Londres em setembro do ano anterior, que resultou em confrontos e um alto número de detidos e policiais feridos. Stephanie Al-Qaq manifestou sua convicção de que tal agressividade não reflete o sentimento da maioria da população britânica. O primeiro-ministro Keir Starmer, em resposta, atuou energicamente para “recuperar” a bandeira nacional, que simboliza a união de todos os cidadãos do Reino Unido, independentemente de sua origem ou classe social. A embaixadora traçou um paralelo com a experiência brasileira, que também enfrentou a questão da apropriação de símbolos nacionais. Ela notou que o problema do crescimento da ultradireita e do “sequestro” de símbolos não é exclusivo do Reino Unido e destacou a ocorrência de interferências estrangeiras na narrativa, citando publicamente a fala de Elon Musk durante a manifestação. Mais uma vez, Starmer foi enfático ao declarar que o Reino Unido não tolerará qualquer forma de interferência externa em sua democracia.
A Trajetória de Líderes Progressistas no Centro Político
A embaixadora britânica analisou a complexidade do espaço político ocupado por líderes progressistas como Keir Starmer, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o premiê canadense Mark Carney. Ela descreveu esse espaço como “pequeno e difícil”, exigindo forte convicção e moralidade para que tais líderes mantenham sua posição em meio aos ataques vindos de ambos os lados do espectro político. A opção mais simples, mas menos eficaz, seria abandonar o centro e adotar posições extremistas. No entanto, Al-Qaq ressaltou que essa abordagem se resume a “frases de efeito” e não gera resultados concretos para a sociedade. A verdadeira mudança e entrega de resultados, segundo ela, vêm da capacidade de permanecer firme no centro, focado em valores e na pragmatismo.
Stephanie Al-Qaq, com 49 anos, foi nomeada em 2022 para a Embaixada do Reino Unido em Brasília. Antes disso, sua trajetória inclui atuação como enviada britânica ao Irã e como diretora de Segurança Regional no Ministério de Relações Exteriores. Sua carreira no governo começou em 2002, precedida por passagens em organizações como Anistia Internacional, Human Rights Watch, e Reuters, além de trabalho na Câmara dos Comuns. É formada em política internacional pela Universidade de Birmingham e possui mestrado em relações internacionais pela Universidade de Londres, sendo casada e mãe de três filhos.
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A análise da embaixadora Stephanie Al-Qaq oferece uma perspectiva aprofundada sobre as dinâmicas globais e a relevância das relações Brasil-Reino Unido, desde a saúde pública e imigração até os desafios do multilateralismo na COP30 e as tendências políticas da ultradireita e do centro progressista. Para continuar acompanhando notícias e análises sobre política internacional e outras editorias importantes, siga explorando o conteúdo do nosso portal e mantenha-se informado.
Crédito da imagem: Embaixada do Reino Unido/Divulgação

