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Eleições na Moldova: Intervenção Russa Ameaça Integridade

As eleições na Moldova deste domingo (28) acontecem em um cenário de intensa polarização e sob forte alegação de intervenção externa. O país, considerado um dos mais economicamente frágeis da Europa, se vê em meio a um turbilhão político, caracterizado por ações de oligarcas, questionamentos judiciais e uma vasta campanha de desinformação. O envolvimento da […]

As eleições na Moldova deste domingo (28) acontecem em um cenário de intensa polarização e sob forte alegação de intervenção externa. O país, considerado um dos mais economicamente frágeis da Europa, se vê em meio a um turbilhão político, caracterizado por ações de oligarcas, questionamentos judiciais e uma vasta campanha de desinformação. O envolvimento da Igreja Ortodoxa também é apontado como um fator complicador.

As denúncias de patrocínio russo a essa complexa situação são persistentes e vêm sendo vocalizadas tanto pelo governo moldavo quanto por entidades de direitos civis e pela própria União Europeia. Essa ingerência é descrita como uma estratégia deliberada para impedir que a nação, estrategicamente posicionada entre a Romênia e a Ucrânia, concretize sua ambição de se integrar ao bloco econômico europeu.

Eleições na Moldova: Intervenção Russa Ameaça Integridade

Em um pronunciamento feito no início do mês, perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, a presidente da Moldova, Maia Sandu, descreveu o cenário como “uma guerra híbrida ilimitada, em escala nunca vista desde a invasão da Ucrânia”. Seu apelo por auxílio europeu ressaltou a vulnerabilidade do país, especialmente após a percepção de um “abandono” por parte dos Estados Unidos. Sandu, que sobreviveu a duas ofensivas russas no ano anterior – uma contra sua própria reeleição e outra contra um plebiscito que buscava apoio para a adesão à União Europeia – se viu agora sem o financiamento estadunidense, que via Usaid apoiava a estrutura de segurança cibernética da nação. Esse corte no suporte, parte das políticas do segundo governo Donald Trump conforme reportado pelo site Politico, expôs a Moldova a ataques híbridos, que variam desde a proliferação de desinformação por influenciadores remunerados até táticas rudimentares de compra de votos.

Ações da Rússia e o Arsenal Híbrido

A interferência russa, embora negada pelo Kremlin, é minuciosamente detalhada em diversos relatórios. Em agosto, o Parlamento moldavo foi alvo de um ataque cibernético que resultou na exposição de mais de 300 mil e-mails de figuras políticas. A Microsoft, em uma análise recente, declarou que grupos ligados ao Kremlin têm se dedicado a influenciar a campanha eleitoral da Moldova desde abril, evidenciando um nível de antecedência e coordenação incomum em outros processos eleitorais. O Google, no último fim de semana, reforçou essas alegações ao anunciar o desativamento de mais de mil canais digitais envolvidos em uma “operação coordenada visando interferir na Moldova”, reiterando a magnitude da campanha.

O “arsenal completo” de Moscou, termo usado pela presidente Sandu para descrever as táticas russas aos deputados europeus, também englobaria volumosos recursos financeiros. Milhões de euros teriam sido direcionados para influenciar os resultados das eleições. Um exemplo notável de tal aplicação de recursos inclui o financiamento de viagens para habitantes da Transnístria – uma região separatista pró-Rússia na fronteira com a Ucrânia – para que pudessem votar na Moldova, manipulando o corpo eleitoral.

Igreja Ortodoxa e Financiamento Estrangeiro

Um levantamento da agência Reuters expôs outro mecanismo singular de influência: padres da Igreja Ortodoxa na Moldova foram agraciados com uma viagem a Moscou no ano anterior, com direito a vouchers e cartões de débito. Após seu retorno ao território moldavo, novos depósitos seriam feitos nesses cartões, provenientes de um banco estatal russo. O objetivo era que esses clérigos pudessem alertar a população sobre os “perigos” da integração do país com a Europa ocidental. Esta estratégia capitaliza a influência histórica e cultural: a Moldova, ex-república soviética que conquistou sua independência em 1991, mantém sua Igreja Ortodoxa subordinada ao Patriarcado de Moscou. Este vínculo remonta ao século XIX, quando o território moldavo estava integrado ao Império Russo, forjando uma intrincada teia de relações.

Nos dias que antecederam o pleito, a já intensa campanha religiosa foi amplificada por sucessivas ondas de desinformação com temáticas anti-LGBTQIA+. Mensagens massivas tentavam ligar o partido governista, o Partido Ação e Solidariedade (PAS), a uma suposta “ideologia gay” que seria imposta às crianças em um país com fortes valores religiosos. Este apelo conservador é uma plataforma central do Bloco Patriótico, uma coalizão política abertamente alinhada aos interesses da Rússia. Um de seus principais líderes, o ex-presidente Igor Dodon, do Partido Socialista, é autor de um projeto de lei anti-LGBTQIA+ que claramente se inspira em legislações similares da Rússia e da Hungria.

Oligarcas, Fraudes e Reações Governamentais

A situação de tensão na Moldova se intensificou nos últimos dias com as ações do governo e os desenvolvimentos envolvendo figuras-chave. A presidente Maia Sandu declarou, na última semana, que “as pessoas são intoxicadas diariamente com mentiras. Centenas de indivíduos são pagos para provocar desordem, violência e espalhar o medo”. Dias depois dessa declaração, as autoridades moldavas agiram e detiveram 74 indivíduos sob a acusação de planejar protestos violentos, com o intuito de desestabilizar o país. Entre os presos, um deles seria o principal responsável pelo financiamento da operação, cujos recursos viriam de criptomoedas de origem russa. Em resposta a essas acusações, Maria Zakharova, porta-voz do Kremlin, classificou as alegações como “ataques russofóbicos que não são compreendidos nem apoiados pela população da Moldova”.

Em outra frente de reação institucional, a Justiça da Moldova suspendeu as atividades de partidos políticos como o Coração da Moldova e o Moldova Maior, que compõem o Bloco Patriótico. Irina Vlah, uma das líderes afetadas pela medida, prontamente criticou a decisão, chamando-a de “manobra política flagrante”, ressaltando a polarização crescente.

Para complicar ainda mais o cenário eleitoral e geopolítico, na quinta-feira (25) o oligarca Vladimir Plahotniuc, acusado de um gigantesco esquema de fraude bancária que desviou 847 milhões de euros (equivalente a R$ 5,24 bilhões) e foragido desde 2019, foi repatriado à capital Chisinau sob algemas, após ser deportado pela Grécia. Sua prisão havia ocorrido em julho, quando tentava embarcar para Dubai, em uma operação da Interpol. Plahotniuc, ao lado de Ilan Shor – outro oligarca que recebeu asilo na Rússia no ano anterior –, são apontados como os principais financiadores do Bloco Patriótico, agindo em conluio com a administração de Vladimir Putin. As últimas pesquisas eleitorais, realizadas antes das suspensões dos partidos, indicam que a maioria detida pelo governista PAS no Parlamento desde 2021 está agora sob risco real, evidenciando a fragilidade da atual conjuntura política.

Confrontado com essa delicada situação, o líder do PAS e atual presidente do Parlamento, Igor Grosu, afirmou que as eleições iminentes “vão definir o futuro do país não apenas para os próximos quatro anos, mas para muitos e muitos anos à frente”. Em sua declaração, Grosu simplificou a complexidade do pleito em uma escolha drástica: “As coisas se tornaram muito claras: é paz com a UE ou guerra com a Rússia”. Esta retórica sublinha a gravidade da decisão que os eleitores moldavos enfrentarão.

Analistas internacionais acompanham o processo com preocupação. O ministério da Defesa do Reino Unido emitiu um comunicado reforçando a quase certeza de uma campanha de interferência por parte de Moscou. Segundo a avaliação britânica, em caso de vitória do PAS, o foco da narrativa russa “mudará rapidamente para acusações sobre a integridade das eleições”, com um potencial elevado para perturbar a ordem interna na Moldova. Em contrapartida, a Comissão Europeia manifestou apoio concreto ao acionar, pela primeira vez, o Ato de Solidariedade Cibernética, direcionando recursos vitais para que agentes privados trabalhem no fortalecimento da segurança digital moldava. Este apoio reforça o objetivo da Moldova de alcançar o status de Estado-membro da UE até 2030, para o qual o país é candidato desde 2022. No entanto, este caminho, aparentemente, dependerá não apenas das urnas, mas também das persistentes manobras da Rússia, um cenário que você pode aprofundar sobre os esforços da União Europeia em fortalecer a resiliência cibernética global.

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As eleições parlamentares na Moldova representam um ponto crucial na sua trajetória, com a população enfrentando a difícil tarefa de definir o futuro do país sob a sombra da influência externa. Os desafios incluem a luta contra a desinformação e a preservação da soberania em meio a um contexto geopolítico complexo. Continue acompanhando as análises sobre geopolítica e temas globais em nossa editoria de Política para se manter informado.

Crédito da imagem: Daniel Mihailescu/AFP

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