Na véspera da eleição para a prefeitura de Nova York, o cenário político da metrópole é palco de intensa agitação, com a candidatura do socialista Zohran Mamdani recebendo especial atenção e críticas contundentes. Entre os comentários, destaca-se a afirmação do ex-presidente Donald Trump, que rotulou Mamdani de “lunático comunista”, elevando a temperatura da corrida eleitoral.
Zohran Mamdani, de 34 anos, um deputado estadual socialista, de fé muçulmana e ativo influenciador no TikTok, emergiu como um forte candidato ao executivo municipal. Sua campanha, lançada de maneira singular em junho enquanto participava de uma maratona e divulgada na plataforma de vídeos curtos, rapidamente o catapultou para o centro das discussões políticas. Nas primárias do Partido Democrata, Mamdani obteve uma vitória expressiva, conquistando 56% dos votos e superando o experiente ex-governador nova-iorquino, Andrew Cuomo. Esta ascensão tem sido amplamente interpretada como um símbolo de renovação para o Partido Democrata, força política que comanda Nova York desde 2014.
A ascensão meteórica de Mamdani, um político pouco conhecido até recentemente, transformou a corrida municipal em um foco de interesse global. Embora a cidade de Nova York seja um ícone mundial, suas eleições locais, que ocorrerão nesta terça-feira, 4 de dezembro, raramente despertam tal nível de atenção internacional. No entanto, a polarização em torno de temas como a migração e as críticas direcionadas a ele tornaram a discussão sobre a
Eleição Nova York: Trump Rotula Zohran Mamdani de Comunista
um tema de destaque mundial. O escritor nova-iorquino Chris Hayes, do podcast “The Ezra Klein Show” do The New York Times, por exemplo, admitiu ter tido pouco conhecimento sobre Mamdani antes de ele surgir em seu “feed” de redes sociais, destacando a estratégia digital do candidato.
A Estratégia Digital de Zohran Mamdani e as Acusações de Donald Trump
O impacto da candidatura de Mamdani foi tão significativo que gerou um verdadeiro “terremoto” no Partido Democrata. Andrew Cuomo, derrotado nas primárias, decidiu entrar na disputa como candidato independente, recebendo o apoio do atual prefeito, Eric Adams, que abriu mão da reeleição. A atenção que Mamdani conseguiu galvanizar é, segundo o escritor Chris Hayes, uma tática de sucesso que se assemelha à empregada por Donald Trump, que também explorou redes sociais e discursos assertivos para cativar o eleitorado. Os vídeos de Mamdani no TikTok, por exemplo, acumulam 1,6 milhão de seguidores e 23,6 milhões de curtidas, um testemunho do seu alcance.
Apesar da semelhança na tática de engajamento, a linha ideológica de Mamdani diverge drasticamente da de Trump. Enquanto o ex-presidente pautou sua plataforma na promessa de endurecer a política imigratória e expulsar imigrantes, o democrata, que é filho de imigrantes africanos e se autodeclara socialista, advoga por pautas sociais progressistas. Entre suas propostas estão o subsídio de supermercados, a gratuidade do transporte público e de creches, e o congelamento do aluguel para aproximadamente dois milhões de nova-iorquinos. Trump, por sua vez, chamou Mamdani de “lunático comunista”, demonstrando a polarização que circunda a candidatura.
Origem, Plataforma Social e Receptividade do Eleitorado
Nascido em Kampala, Uganda, o jovem Zohran Kwame Mamdani, filho da cineasta indiana Mira Nair e de pai ugandês, foi criado em Nova York. Sua proficiência em seis idiomas – inglês, hindi, bengali, urdu, árabe e espanhol – além de seu domínio da “língua” cultural nova-iorquina, o habilita a se conectar com diversos segmentos da população. Mamdani demonstrou um entendimento profundo para conquistar um eleitorado fundamental: trabalhadores com poder de compra, que, paradoxalmente, enfrentam sérias dificuldades financeiras devido ao altíssimo custo de vida na cidade, especialmente os custos de moradia. Segundo pesquisas de intenção de voto, Mamdani figura como favorito entre essa parcela da população.
A crise imobiliária de Nova York, onde o aluguel médio superou a marca de US$ 4 mil (cerca de R$ 21,8 mil) em junho, conforme o site StreetEasy, tornando-se mais que o dobro da média nacional, serve como pilar central da plataforma de Mamdani. Suas propostas incluem não apenas o congelamento dos preços de aluguéis para dois milhões de inquilinos e a construção de novas moradias, mas também pautas abrangentes contra a desigualdade social, o racismo e o preconceito contra a população muçulmana e LGBTQIA+. Embora tenha defendido uma tributação progressiva para grandes fortunas, o candidato se mostrou aberto a negociações, declarando publicamente que não acredita na existência de milionários, em uma crítica direta aos grandes financiadores de seu próprio partido.
Críticas Internas e Ataques de Adversários
A postura e as ideias de Mamdani geraram críticas significativas dentro do próprio Partido Democrata. Lideranças conservadoras e até mesmo outros democratas descreveram-no como “muito de esquerda”, considerando suas propostas como irrealistas e fiscalmente arriscadas para atrair eleitores além do tradicional reduto democrata de Nova York. Suas críticas às ações de Israel na Faixa de Gaza, por exemplo, tocaram em um ponto sensível para a grande população judaica de Nova York, tradicionalmente eleitora democrata. Além disso, a imprensa americana revelou que Mamdani teria expressado abertamente, durante a campanha, que não acredita que deveriam existir milionários, uma fala que adicionou combustível às controvérsias.
O atual prefeito, Eric Adams, declarou publicamente apoio a Andrew Cuomo na semana passada, pedindo aos eleitores que não confiassem em Mamdani. Adams, ex-policial, argumentou que o candidato não respeita o Departamento de Polícia de Nova York (NYPD) e não prioriza a segurança, pauta central na campanha de Cuomo. Os apoiadores de Cuomo, que utilizam o slogan “Diga não a Zo”, têm se referido a Mamdani como “extremista islâmico”. O próprio Mamdani tem feito pouco para desencorajar esses epítetos, afirmando não ser responsável pelas palavras de terceiros, o que levantou acusações de que sua campanha estaria abraçando a islamofobia.
Em sua fala de 24 de outubro no Centro Islâmico do Bronx, Zohran Mamdani se manifestou contra as calúnias, revelando incidentes como um apresentador de rádio que, na presença de Andrew Cuomo, sugeriu que ele celebraria outro 11 de Setembro. Ele também citou declarações de Eric Adams, que teria comparado seu movimento a extremistas violentos e dito que a cidade não poderia “se tornar a Europa”, além de acusações de Curtis Sliwa, que afirmou seu apoio à “jihad global” durante um debate. Mamdani lamentou a tolerância a “certas formas de ódio” na cidade. No mesmo contexto, o ex-presidente Donald Trump reiterou sua posição em julho, afirmando que “não vai deixar esse lunático comunista destruir Nova York”, prometendo “salvar a cidade e torná-la ‘quente’ e ‘grandiosa’ novamente”.
Perspectivas e Desfecho da Votação
Apesar do intenso embate e dos ataques recebidos, as pesquisas de intenção de voto mais recentes apontam Zohran Mamdani como líder, seguido por Andrew Cuomo e Curtis Sliwa. Com 5,1 milhões de eleitores registrados em fevereiro e uma população total de 8,4 milhões, a votação em Nova York ocorrerá em turno único, conforme o sistema eleitoral local. Além da votação presencial, o processo de voto a distância teve início neste último sábado, 1º de dezembro, permitindo uma maior participação. O novo prefeito de Nova York tomará posse em 1º de janeiro de 2026, com o desfecho desta disputada eleição definindo os rumos da metrópole nos próximos anos.
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A eleição para a prefeitura de Nova York com a participação de Zohran Mamdani demonstra a crescente polarização na política norte-americana e a emergência de novas figuras com discursos e métodos inovadores. Para mais debates e análises sobre o cenário político atual e seus desdobramentos, explore outros artigos em nossa editoria de Política, onde você encontra cobertura aprofundada de temas relevantes.
Crédito da Imagem: Ryan Murphy/Reuters; Ted Shaffrey/AP; Montagem/Reuters


