O crescimento da economia chinesa desacelerou consideravelmente no terceiro trimestre deste ano, atingindo o menor patamar anual. Dados oficiais divulgados nesta segunda-feira (20) apontam um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,8% em comparação ao mesmo período do ano anterior. A revelação coincide com o início de um encontro crucial do Partido Comunista Chinês, focado na elaboração do planejamento econômico de longo prazo da nação.
O Escritório Nacional de Estatísticas (ONE) detalhou que o avanço de 4,8% para os meses de julho a setembro representa uma redução em relação aos 5,2% registrados no trimestre anterior. Essa desaceleração é atribuída principalmente a perturbações no comércio global e à diminuição persistente do consumo doméstico, evidenciando desafios multifacetados para Pequim.
Economia Chinesa: Crescimento desacelera no terceiro trimestre
A taxa de crescimento de 4,8% valida as projeções da Agence France-Presse (AFP), baseadas em uma pesquisa com analistas, e marca a mais lenta expansão desde o terceiro trimestre do ano passado, quando o PIB chinês cresceu 4,6%. A divulgação desses números ocorre em um momento estratégico, às vésperas de negociações entre altos funcionários da China e dos Estados Unidos, que podem abrir caminho para um encontro entre o presidente Donald Trump e seu homólogo chinês, Xi Jinping.
Recentemente, Trump ameaçou impor tarifas de 100% sobre produtos chineses a partir de 1º de novembro, em retaliação aos controles de exportação de Pequim sobre o setor de terras raras. À medida que as tensões comerciais aumentam, especialistas sugerem que a China precisa fazer uma transição para um modelo econômico menos dependente de investimentos em infraestrutura e exportações, e mais impulsionado pelo consumo interno. Essa mudança estrutural é vista como crucial para a sustentabilidade do desenvolvimento econômico chinês. O contexto macroeconômico global, inclusive a forma como diferentes países encaram o gigante asiático, é frequentemente abordado por entidades de alta autoridade como o Fundo Monetário Internacional (FMI) em suas análises sobre a economia mundial.
No período acumulado dos três primeiros trimestres do ano, o investimento em ativos fixos apresentou uma leve queda de 0,5% em comparação com o ano anterior, conforme dados do ONE. Esse declínio é largamente atribuído a uma acentuada retração nos investimentos do setor imobiliário, um componente significativo da economia chinesa. A diminuição dos investimentos neste segmento sinaliza uma cautela no mercado e impactos diretos no crescimento geral.
Zhiwei Zhang, da Pinpoint Asset Management, classificou a queda como “incomum e alarmante”. Em uma nota a clientes, Zhang apontou que as recentes iniciativas de estímulo econômico “deveriam contribuir para mitigar a pressão de baixa sobre o investimento” no quarto trimestre. No entanto, ele ponderou que “o risco para o crescimento do PIB no quarto trimestre provavelmente continuará sendo de baixa”, sublinhando a persistência dos desafios para a recuperação da economia.
Queda do Consumo Doméstico: um desafio contínuo
O gasto doméstico, motor crucial da economia, tem sido particularmente afetado nos últimos anos e ainda não conseguiu uma recuperação plena dos efeitos prolongados da pandemia de covid-19. Esse fator contribui significativamente para a desaceleração do crescimento global da China. A fragilidade do consumo interno é um sinal de alerta para as autoridades chinesas, que buscam equilibrar a balança econômica.
Como mais um indicativo dessa fragilidade, o ONE reportou que o crescimento das vendas no varejo desacelerou para 3% em termos anuais no mês de setembro. Embora essa cifra esteja dentro das estimativas de uma pesquisa da agência Bloomberg, representa uma queda em relação a agosto e marca a menor taxa de crescimento registrada desde novembro do ano passado. Essa redução evidencia as dificuldades em reaquecer o poder de compra da população e dinamizar o comércio.

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Julian Evans-Pritchard, da Capital Economics, alertou em um comunicado que “o crescimento da China depende cada vez mais das exportações, que estão compensando uma desaceleração na demanda interna”. Ele enfatizou a insustentabilidade desse padrão de desenvolvimento a longo prazo, sugerindo a urgência de uma reorientação econômica. O foco excessivo nas exportações pode fragilizar a economia frente a oscilações do mercado global, destacando a necessidade de fortalecer as bases internas.
A percepção do cidadão comum reflete esses desafios. Alin, uma assistente administrativa em uma seguradora, em Pequim, expressou à AFP que considera “os atuais subsídios ao consumo não totalmente suficientes” para revitalizar a economia. A mulher, de 40 anos, ressaltou preocupações dos chineses com a segurança no emprego, os preços dos imóveis e os gastos relacionados à educação, apontando que se trata de “um problema mais global”.
Produção Industrial: um ponto positivo em meio aos desafios
Em um panorama de dados econômicos desafiadores, um ponto positivo foi o aumento de 6,5% na produção industrial no mês passado, de acordo com as estatísticas oficiais. Este crescimento superou as expectativas de uma pesquisa da Bloomberg, que previa uma alta de 5%. Esse dado sugere que, apesar da queda no consumo e dos problemas no comércio, alguns setores da indústria chinesa mantiveram um ritmo robusto de atividade.
Com o fim previsto para quinta-feira, as atenções estão agora voltadas para os resultados da reunião do Partido Comunista. Espera-se que deste encontro saia um plano detalhado que delineará os objetivos políticos, econômicos, sociais e ambientais do país, buscando traçar o rumo da nação diante dos desafios presentes e futuros.
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Em resumo, a economia chinesa enfrenta um momento de desaceleração impulsionado por tensões comerciais e uma fraca demanda interna, conforme os dados do terceiro trimestre. As decisões que emergirem das reuniões do Partido Comunista serão cruciais para definir as estratégias de superação desses obstáculos e a reorientação para um crescimento mais equilibrado. Continue acompanhando as últimas notícias sobre economia global e as perspectivas do mercado em nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: bur-pfc/reb/dan/rnr/an/fp Agence France-Presse

