Drones do Tráfico Lançam Explosivos em Policiais: Escalada no RJ

Economia

As recentes e preocupantes imagens do Rio de Janeiro evidenciaram uma nova e perigosa escalada na confrontação entre criminosos e forças de segurança. Durante uma megaoperação conduzida nos complexos da Penha e Alemão, na Zona Norte da cidade, registrou-se a utilização de drones do tráfico lançando explosivos contra policiais. Esse avanço representa uma significativa elevação no poderio bélico à disposição das organizações criminosas no Brasil.

A Polícia do Rio de Janeiro já vinha monitorando a inserção desses equipamentos no arsenal do crime organizado desde o ano passado. Contudo, as primeiras observações ocorreram majoritariamente em conflitos internos entre facções rivais, especificamente entre o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando Puro (TCP) na própria região. O cenário atual, de ataques diretos contra agentes de segurança, marca um novo patamar de ousadia e violência por parte dos traficantes.

Drones do Tráfico Lançam Explosivos em Policiais: Escalada no RJ

Uma investigação conduzida pela Polícia Federal (PF) trouxe à tona um detalhe alarmante sobre a sofisticação logística dessas operações: o envolvimento de um militar. Um cabo da Marinha, por exemplo, foi identificado sob suspeita de não apenas pilotar os drones em nome do tráfico, mas também de oferecer treinamento a outros membros das facções para a manipulação desses aparelhos. Este tipo de cooperação sublinha a complexidade e a profissionalização crescente das estratégias criminosas.

Os drones utilizados para esses ataques bélicos são modelos com modificações específicas. Eles são equipados com uma espécie de garra adaptada, que tem uma semelhança funcional com as garras das máquinas de pegar pelúcias, frequentemente vistas em centros de diversão. Esta modificação permite aos criminosos acoplar diversos artefatos explosivos, inclusive granadas sem pino de segurança, facilitando seu lançamento sobre os alvos desejados.

A mecânica do ataque é engenhosa: os criminosos operam remotamente a aeronave não tripulada, direcionando-a precisamente até o local pretendido. Uma vez sobre o alvo, o operador aciona a garra remotamente, que então se abre, permitindo que o explosivo ou a granada caia com precisão. Essa tática eleva o risco para os agentes em solo, adicionando uma dimensão aérea aos ataques já perigosos. As forças de segurança brasileiras têm intensificado o combate ao tráfico de armas e outras infrações que abastecem o crime organizado, como reportado em diversas operações nacionais, conforme noticiado por agências oficiais, como a Agência Brasil.

Além do Rio de Janeiro, as investigações da Polícia Civil do estado revelaram uma dimensão interestadual na aquisição desses equipamentos. Foi identificado que criminosos de outras regiões do Brasil se deslocam para o Rio com o objetivo de buscar e comprar drones equipados com as garras de lançamento no mercado ilegal da cidade. Essa movimentação ressalta a importância da metrópole carioca como um ponto central no comércio clandestino de tecnologias que servem ao crime.

Um caso notável ocorrido em 2024 exemplifica essa tendência: um indivíduo foi detido acusado de tentar transportar um drone modificado, com garra, para o estado de Goiás. O objetivo seria utilizar a aeronave não tripulada para realizar o transporte de produtos ilícitos, como drogas e telefones celulares, para dentro de presídios goianos. Este incidente ilustra a versatilidade e a abrangência da utilização desses dispositivos no esquema do crime organizado, transcendendo o combate direto a policiais.

Historicamente, o uso de drones para ataques ofensivos foi documentado pela primeira vez em um confronto direto entre facções. As investigações indicam que o equipamento foi empregado em uma ofensiva do Comando Vermelho (CV) do Complexo do Alemão contra o Complexo de Israel, território que é controlado pela facção rival, o Terceiro Comando Puro (TCP). A partir desse episódio, a eficácia do aparelho na intensificação de ataques rapidamente se popularizou entre os criminosos.

Um dos elementos cruciais para a proliferação dessa tecnologia foi revelado por outra frente investigativa da Polícia Federal. Ela apontou o cabo da Marinha Rian Maurício Tavares Mota não só pilotava ativamente os drones a serviço do Comando Vermelho, mas também atuava como instrutor. Mota estaria treinando outros membros do tráfico no manuseio das aeronaves e auxiliando diretamente na montagem dos equipamentos, configurando uma transferência de conhecimento técnico especializado para as organizações criminosas.

A profundidade do envolvimento do militar foi evidenciada por um áudio, divulgado pelo programa Fantástico, em que ele detalha a necessidade de aquisição de componentes específicos. “Nós precisamos comprar o dispensador, chefe. É um dispositivo que bota no drone, que ele libera a granada, entendeu? Sendo que vem um cabinho segurando no pino, né? Bota o pino no drone e a granada nesse dispositivo”, enviava o militar a um traficante. Esta mensagem destaca o conhecimento técnico e a demanda por componentes específicos para otimizar os ataques.

Paradoxalmente, o uso crescente de drones, tanto por facções rivais para lançar granadas quanto pela própria polícia para fins de monitoramento e vigilância do movimento dos traficantes, começou a gerar um considerável incômodo para as lideranças das facções criminosas no Rio de Janeiro. A percepção de estarem sendo observados ou sob ameaça levou os chefes a buscar, também ilegalmente, tecnologias de contramedida: os equipamentos antidrones.

Nesse sentido, uma operação mais recente da Polícia Federal, focada em desmantelar o braço político da facção, revelou articulações sofisticadas para a compra de fuzis antidrones. Parte desses armamentos, destinados a neutralizar a ameaça aérea, teria sido comercializada por Luiz Eduardo Gonçalves da Cunha, conhecido como Dudu, ex-assessor do ex-deputado TH Jóias. Mensagens interceptadas pela Polícia Federal mostram Dudu intermediando a compra de bazucas antidrones para traficantes do Complexo do Alemão e, de maneira ainda mais audaciosa, oferecendo-se para viajar aos Estados Unidos com o propósito de adquirir tais equipamentos. Atualmente, Dudu e o ex-deputado encontram-se detidos e sustentam sua inocência frente às acusações.

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Em suma, a incursão dos drones no universo do crime organizado representa um marco na escalada da violência no Rio de Janeiro, alterando as dinâmicas de confronto e forçando as autoridades a desenvolverem novas estratégias de combate. A colaboração militar no uso de tecnologias de ponta por facções criminosas, aliada à busca por contramedidas antidrones, pinta um cenário complexo e desafiador para a segurança pública. Continue acompanhando a nossa editoria de Cidades para mais análises sobre os eventos que moldam o cotidiano brasileiro e os esforços contínuos das forças de segurança.

Crédito da imagem: Marcelo D. Sants/Futura Press/Estadão Conteúdo

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