Nesta sexta-feira, 10 de maio, a cotação do dólar registrou leve queda na abertura do pregão, marcando uma movimentação do mercado financeiro impulsionada por expectativas. Os investidores concentram sua atenção em uma série de pronunciamentos aguardados de figuras governamentais de destaque no Brasil, enquanto avaliam dados econômicos importantes oriundos dos Estados Unidos.
Às 9h04, a moeda americana apresentava uma desvalorização de 0,14%, sendo negociada a R$ 5,368. No cenário internacional, o dólar exibia um comportamento mais estável, com o índice DXY – que compara a divisa norte-americana a uma cesta de outras seis moedas fortes – operando próximo à estabilidade, com uma ligeira variação de 0,09%. Este cenário reflete uma cautela generalizada no mercado global, à medida que os participantes ponderam sobre os rumos das políticas monetárias e fiscais tanto no Brasil quanto nas principais economias globais.
Dólar em Queda: Autoridades e Dados dos EUA Movem Mercado
As atenções domésticas estavam voltadas para a participação de importantes autoridades do governo brasileiro em um evento programado para ocorrer em São Paulo na manhã de hoje. Entre os nomes que suscitam grande interesse do mercado estão o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo. A expectativa é que suas declarações possam oferecer clareza sobre a condução econômica do país, afetando diretamente a percepção de risco e, consequentemente, a valorização ou desvalorização do câmbio.
Adicionalmente, os operadores do mercado acompanham de perto a divulgação da leitura preliminar do índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Este indicador é considerado relevante para mensurar a confiança dos consumidores na economia americana, o que pode influenciar decisões de consumo e investimento e, por extensão, o comportamento global da moeda. É importante ressaltar que o cenário econômico dos EUA é complicado por um impasse legislativo. Atualmente, os congressistas não conseguiram resolver uma disputa orçamentária federal, o que resultou na paralisação de agências federais e na suspensão da divulgação de novos dados oficiais, aumentando a incerteza no mercado internacional.
A quinta-feira anterior (9) encerrou com a moeda americana em valorização de 0,6%, cotada a R$ 5,374, enquanto a Bolsa de Valores registrou uma queda de 0,3%, alcançando 141.708 pontos. Essa oscilação diária do dólar reflete uma constante reavaliação dos investidores em face de noticiário político e econômico.
Impacto da Derrota Governamental no Congresso
No cenário político nacional, a Câmara dos Deputados impôs uma significativa derrota ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva ao remover da pauta a Medida Provisória (MP) que previa o aumento de impostos. Na prática, essa decisão resulta no arquivamento definitivo da medida, que o governo considerava crucial para fortalecer a arrecadação e viabilizar a redução de despesas obrigatórias para o ano de 2026, que será um ano eleitoral.
A votação que selou a retirada da MP da pauta ocorreu na noite da última quarta-feira, com um placar de 251 votos favoráveis à remoção e 193 contrários. Esse evento aconteceu no último dia de vigência da referida MP, o que implicará sua perda de validade. Conforme analistas, essa decisão terá implicações diretas sobre o orçamento. A derrubada da medida deve acarretar um bloqueio nas despesas para o ano de 2025, incluindo as emendas parlamentares, e tornará necessário um ajuste de R$ 35 bilhões no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026.
Para integrantes da base governista, o resultado da votação corrobora o entendimento de que partidos do Centrão e a bancada ruralista buscaram restringir a margem de manobra fiscal do presidente Lula em um ano chave para uma eventual busca pela reeleição.
A Resposta Presidencial e as Reações do Mercado Financeiro
Em reação à decisão da Câmara, o presidente Lula afirmou publicamente que a retirada da MP não constitui uma derrota infligida diretamente ao seu governo, mas sim ao povo brasileiro. O presidente defendeu que a medida visava corrigir distorções, promovendo uma cobrança justa de quem possui maiores rendimentos e lucros. “Impedir essa correção é votar contra o equilíbrio das contas públicas e contra a justiça tributária. O que está por trás dessa decisão é a aposta de que o país vai arrecadar menos para limitar as políticas públicas e os programas sociais que beneficiam milhões de brasileiros. É jogar contra o Brasil”, publicou o chefe de estado em uma rede social, sublinhando a gravidade das consequências.
Para os agentes do mercado financeiro, a notícia da derrubada da MP gerou uma percepção ambivalente, mesclando alívio e preocupação. De um lado, a decisão elimina a perspectiva de cobrança de uma alíquota de 18% de Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos de certas aplicações financeiras, como fundos de investimento e letras de crédito imobiliário e do agronegócio (LCIs e LCAs). Ricardo Trevisan Gallo, CEO da Gravus Capital, destacou que “isso preserva a atratividade do mercado e impede migrações forçadas de recursos e distorções setoriais, fomentando maior liquidez e atração de capitais para o crescimento sustentável do setor”.
Por outro lado, a preocupação fiscal permanece acentuada. Ao remover uma fonte de receita para os próximos anos, o Congresso torna a tarefa do governo de atingir as metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal mais desafiadora. Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX, explicou que “o governo ainda pode atingir essas metas, mas terá de fazer cortes a contragosto, e investidores vão buscar saber exatamente que áreas serão represadas. Além disso, a derrubada mostra que o governo não tem força para avançar sua pauta econômica no Congresso”. A percepção de Mattos é que “o cenário mais desafiador para as metas fiscais e a baixa articulação política do governo tendem a aumentar a percepção de risco para os ativos brasileiros”, o que desincentiva investimentos em ativos como o real e as ações negociadas na bolsa de valores.
Estratégias Governamentais Pós-MP e o Cenário do IOF
Em meio à viagem oficial, o presidente Lula indicou que planeja se reunir com membros de sua equipe de governo na semana vindoura para deliberar sobre soluções para o impasse orçamentário. Uma das pautas levantadas inclui como assegurar que as empresas de tecnologia financeira, as “fintechs”, “paguem os impostos devidos”. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por sua vez, garantiu que apresentará múltiplas alternativas ao presidente. Ele reiterou em Brasília que a redução dos gastos tributários é uma determinação constitucional, acrescentando que o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou “prerrogativas do presidente” em relação a certas matérias tributárias.
O ministro fez referência à recente decisão da Suprema Corte que restaurou a validade da maior parte de um decreto presidencial relacionado ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), após o Congresso Nacional ter votado pela sua revogação. A constitucionalidade e a validade desse decreto específico foram alvo de intensas discussões entre o Executivo e o Legislativo no âmbito do STF. Posteriormente, o governo, por meio de negociações com o Congresso, propôs a própria Medida Provisória, agora arquivada, justamente como um substitutivo para o incremento do IOF que havia sido previamente determinado por decreto. Haddad considera que esse histórico oferece um “conforto” ao Executivo na gestão das finanças até o final do ano.
O Impacto do IPCA e a Política Monetária
As negociações e as expectativas de mercado também foram moldadas pelos recentes dados de inflação, medidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que os preços no país avançaram 0,48% em setembro, revertendo a deflação de 0,11% registrada em agosto. Este resultado, no entanto, ficou aquém da mediana das projeções do mercado financeiro, que estimava um aumento de 0,52%, de acordo com informações da agência Bloomberg, com um intervalo de expectativas variando entre 0,47% e 0,57%.
O principal fator para essa alta foi o aumento de 10,31% na energia elétrica residencial. Contudo, o grupo de alimentação e bebidas agiu como um contrapeso, ajudando a moderar a inflação ao registrar o quarto mês consecutivo de redução de preços, com uma queda de -0,26%. Essa dinâmica reflete pressões distintas sobre o poder de compra da população e as estratégias do Banco Central.
O economista André Perfeito classificou a leitura preliminar do IPCA como “benigna”, ao menos no que tange a condução da política monetária do Banco Central (BC). Segundo ele, “importantes medidas de núcleos tiveram desaceleração, indicando que as pressões do mercado de trabalho estão menos intensas no índice. Não se pode dizer com isso que o BC irá cortar os juros por conta dos números divulgados, mas é razoável supor que as medianas das projeções no Focus podem melhorar para o horizonte de curto prazo”. O Banco Central do Brasil utiliza uma meta de inflação de 3% para fundamentar suas decisões sobre a taxa Selic, a taxa básica de juros do país. Essa meta é acompanhada por um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, o que significa que o objetivo é cumprido se o IPCA se situar entre 1,5% e 4,5%. O índice superou essa meta de forma contínua pela primeira vez em junho, em um período de desafios econômicos.
Conforme o boletim Focus, divulgado pelo BC na segunda-feira, a mediana das projeções do mercado financeiro indica um IPCA acumulado de 4,8% para 2025. Embora essa previsão tenha passado por uma série recente de revisões para baixo, ela ainda se mantém acima do limite máximo de 4,5% da meta de inflação, sinalizando que as expectativas de mercado para a estabilização de preços permanecem um desafio para as autoridades monetárias. A trajetória do dólar, portanto, continua a ser um termômetro crucial para a confiança econômica.
Confira também: crédito imobiliário
Diante do exposto, o comportamento do dólar, influenciado por discursos governamentais e indicadores econômicos nacionais e internacionais, permanece no centro das discussões sobre o futuro da economia. A complexa interação entre política fiscal, expectativas inflacionárias e decisões do Banco Central configura um ambiente de constante reavaliação. Para se aprofundar nos desdobramentos desses eventos, continue acompanhando nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: Gabriel Cabral – 26.jan.19/Folhapress
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