Nesta quarta-feira, 1º de outubro, a cotação do dólar cai significativamente ante o real e a maioria das moedas internacionais, reverberando a expectativa do mercado por novos indicadores econômicos dos Estados Unidos e, primordialmente, os desdobramentos de uma paralisação parcial do governo norte-americano. Na cidade de São Paulo, a moeda norte-americana era negociada com uma leve baixa de 0,28%, alcançando o patamar de R$ 5,308 na venda por volta das 9h05.
No encerramento da sessão anterior, terça-feira, o dólar à vista havia registrado uma leve variação positiva de 0,02%, fechando a R$ 5,321. Concomitantemente, o índice da Bolsa brasileira teve um pequeno recuo de 0,06%, situando-se em 146.237 pontos, sinalizando uma prudência generalizada entre os operadores diante dos eventos iminentes.
A pauta internacional tem sido ditada, em grande parte, pela perspectiva de uma interrupção nas operações do governo dos Estados Unidos, enquanto, no cenário doméstico, a atenção se voltou para a formação da taxa Ptax de fim de mês. Este evento, conhecido por introduzir volatilidade, adiciona uma camada de complexidade ao mercado de câmbio.
Dólar Cai Ante Real Com Paralisação do Governo dos EUA
Impactos da Paralisação do Governo dos EUA no Mercado Global
A preocupação principal reside na paralisação de parte das atividades do governo dos Estados Unidos. O financiamento essencial para diversas agências federais expirou na virada para a quarta-feira, e até o fechamento do dia anterior, as negociações entre Republicanos e Democratas no Congresso pareciam improvavelmente capazes de estender o prazo do orçamento. A ausência de um acordo pode acarretar o fechamento de escritórios responsáveis por pesquisas científicas, serviços ao cidadão e outras atividades consideradas “não essenciais”, potencialmente levando milhares de funcionários públicos para casa.
Conforme destacou Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX, um ponto crítico para o setor financeiro global é a possível interrupção das operações das agências estatísticas norte-americanas. Por exemplo, o Departamento do Trabalho indicou que não divulgará seu relatório mensal de emprego, uma das principais métricas da saúde econômica dos EUA. Esta interrupção vai além do payroll, com relatórios cruciais como o CPI (inflação) e os dados de vendas no varejo, esperados para as próximas semanas, também sob o risco de atrasos significativos.
Este contexto é particularmente delicado, considerando a vigilância dos investidores sobre as futuras diretrizes do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA. As decisões do Fed relativas à taxa de juros são diretamente balizadas por indicadores de emprego e inflação. A paralisação governamental, segundo Mattos, pode comprometer tanto a fidedignidade quanto a tempestividade desses relatórios, obscurecendo a visibilidade do mercado sobre a evolução econômica e, consequentemente, elevando a incerteza no processo decisório.
“Ainda paira a dúvida se a economia norte-americana vivencia um momento de fraqueza isolada, se mantém sua resiliência, ou se prenuncia uma desaceleração contínua. A ausência de dados concretos pode comprometer essa avaliação essencial”, complementa Mattos, ressaltando a crucial necessidade de informações precisas neste período. Para compreender melhor o funcionamento e as decisões da instituição que supervisiona a política monetária dos Estados Unidos, acesse o site oficial da Reserva Federal dos Estados Unidos.
Dólar em Recuo Global e Valorização do Ouro
Nesse cenário de indefinição, a moeda americana registrou perdas em escala global pela segunda sessão consecutiva. O índice DXY, que mensura o desempenho do dólar frente a outras seis grandes moedas mundiais, sofreu uma queda de 0,13%, fixando-se em 97,78 pontos. Em contraste, o ouro, considerado um porto seguro em tempos de incerteza, atingiu novos patamares recordes de preço na terça-feira, chegando a US$ 3.870 por onça-troy durante a madrugada, refletindo a busca dos investidores por ativos menos voláteis.
Fatores Nacionais: Ptax e o Mercado de Trabalho Brasileiro
No Brasil, a cotação do dólar, além dos fatores externos, foi influenciada pela formação da Ptax de fim de mês. Este mecanismo, que é uma taxa de câmbio média calculada pelo Banco Central e utilizada como referência para a liquidação de contratos futuros, é tradicionalmente palco de maior volatilidade. Agentes do mercado financeiro, no fim de cada período, atuam para direcionar a Ptax a níveis mais favoráveis às suas posições, seja para alta (comprados) ou baixa (vendidos) na moeda norte-americana.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
No panorama macroeconômico brasileiro, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciou que a taxa de desemprego do país manteve-se em 5,6% no trimestre encerrado em agosto. Este índice replica a mínima histórica da série, que teve início em 2012, e foi registrado anteriormente em julho de 2025. O resultado de 5,6% para o trimestre atual está em linha com a mediana das projeções de mercado, conforme divulgado pela agência Bloomberg.
O instituto ainda indicou que, apesar de o mercado de trabalho brasileiro seguir robusto, há sinais de um período de acomodação. Essa tendência surge em meio à persistência dos juros elevados e precede o aquecimento natural de contratações geralmente observado nas festividades de fim de ano.
Na véspera, dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, via Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), mostraram que o Brasil criou 147 mil vagas de trabalho formal em agosto. Esse número representa uma diminuição em relação aos 239 mil postos gerados no mesmo mês do ano anterior, e ficou abaixo da expectativa dos economistas consultados pela Bloomberg, que projetavam cerca de 182 mil novas vagas.
O resultado de agosto foi impulsionado por 2,2 milhões de admissões e 2 milhões de desligamentos. André Valério, economista sênior do Inter, comenta que “os dados da Pnad e do Caged indicam uma sustentação na robustez do mercado de trabalho. Contudo, o Caged aponta para uma perda de dinamismo no ritmo de contratações, sem, no entanto, pressões elevadas nas demissões, enquanto a Pnad sinaliza estabilidade na taxa de desocupação.”
Valério conclui sua análise expressando a expectativa de que o resultado atual possa ser um ponto de inflexão na dinâmica do mercado de trabalho. “Esperamos que a taxa de desemprego avance para 5,8% até o final deste ano e continue sua deterioração ao longo de 2026, projetando 6,5%”, adiciona, sublinhando como o aperto monetário pode começar a ser sentido na atividade econômica real.
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A compreensão das complexas interações entre a política monetária dos EUA, as tensões orçamentárias e os indicadores econômicos domésticos é vital para analisar o comportamento do dólar e do mercado em geral. Para continuar se aprofundando nessas discussões e acessar outras análises detalhadas sobre economia, explore a nossa editoria de Economia e mantenha-se informado sobre os principais eventos que moldam o cenário financeiro brasileiro e global.
Crédito da imagem: Gabriel Cabral – 26.jan.19/Folhapress
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