Dólar Abre em Alta Nesta Terça com Olhar para o Exterior

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O dólar abriu em alta nesta terça-feira (21) no Brasil, interrompendo uma sequência de quatro sessões consecutivas de desvalorização. A cotação da moeda norte-americana acompanha uma tendência de fortalecimento em relação a outras divisas no mercado internacional, em um dia pautado por diversos fatores econômicos e políticos globais. A movimentação reflete a cautela e as expectativas dos investidores diante de uma série de anúncios e encontros cruciais para as grandes economias.

No início do pregão, especificamente às 9h07, a divisa norte-americana registrava um avanço de 0,28%, sendo negociada a R$ 5,3855. Essa elevação contrasta com o desempenho do dia anterior, segunda-feira (20), quando o dólar encerrou o dia com uma desvalorização de 0,66%, cotado a R$ 5,370. Em contrapartida, a Bolsa de Valores demonstrou um ímpeto positivo na mesma segunda-feira, subindo 0,77% e alcançando os 144.509 pontos, sinalizando um certo apetite por risco em alguns segmentos.

Dólar Abre em Alta Nesta Terça com Olhar para o Exterior

Entre os elementos que contribuem para essa dinâmica, os agentes do mercado financeiro direcionam suas atenções para a eleição de Sanai Takaichi como a primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra do Japão, um evento que, embora focado na Ásia, reverberou globalmente. Além disso, a pauta econômica mundial foi fortemente influenciada pelos dados recentes divulgados pela economia chinesa e pelas negociações em andamento entre o Brasil e os Estados Unidos sobre questões tarifárias, destacando a interconectividade dos mercados.

Cenário Econômico Asiático e Tensões Comerciais Globais

A economia chinesa, particularmente, esteve no centro das atenções, com a divulgação de importantes indicadores que apontam para uma desaceleração. No domingo (19) e na manhã da segunda-feira em Pequim, dados revelaram que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 4,8% no terceiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano anterior. Essa taxa representa a segunda desaceleração consecutiva, vindo de 5,2% no segundo trimestre e 5,4% no primeiro. Apesar disso, a China mantém seu curso em direção à meta de crescimento de 5% estipulada para 2025.

A interpretação predominante no mercado é que a crise imobiliária interna e as persistentes tensões comerciais com os Estados Unidos contribuíram para essa redução da demanda, exercendo uma pressão significativa sobre as autoridades chinesas para que adotem novas medidas de estímulo econômico. A renovação dessas tensões tarifárias com Washington expôs ainda mais as fragilidades da economia chinesa, que continua dependente de sua capacidade manufatureira e da demanda externa, reforçando a necessidade de uma reorientação do crescimento com base no consumo interno.

A Escalada Tarifária entre EUA e China

As ameaças de novas tarifas por parte dos Estados Unidos adicionam uma camada de incerteza. O então presidente Donald Trump anunciou a intenção de aplicar sobretaxas adicionais de 100% sobre uma série de produtos chineses e impor novos controles de exportação sobre “todo e qualquer software crítico” a partir de 1º de novembro. Esse prazo precede em nove dias o término da trégua tarifária atualmente em vigor entre as duas potências globais. Essas medidas foram uma retaliação à decisão da China de expandir seus controles de exportação de elementos de terras raras, minerais essenciais para diversas indústrias, desde a automotiva até a de defesa.

Em uma declaração na sexta-feira (18), Trump afirmou que a proposta de tarifa de 100% não era sustentável, mas justificou: “Eles me forçaram a fazer isso”. Ele também confirmou que se encontraria com o líder chinês, Xi Jinping, na Coreia do Sul em um prazo de duas semanas. Em paralelo, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, manifestou a expectativa de reunir-se nesta semana com o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, na tentativa de mitigar uma escalada tarifária que evoque os temores de uma guerra comercial de grandes proporções, semelhante à ocorrida no início do ano. Naquela ocasião, Trump havia imposto tarifas de 145% sobre bens chineses, com Xi Jinping respondendo com 125% sobre mercadorias americanas, culminando em uma redução temporária para 30% e 10%, respectivamente, com validade até 12 de novembro.

A sinalização de uma postura mais conciliadora entre os Estados Unidos e a China tem, em diversos momentos, alimentado um maior apetite por risco nos mercados globais. Conforme destacado por Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos, “o tom mais conciliador entre Estados Unidos e China, além das reuniões entre as autoridades e os presidentes, tem deixado os mercados externos mais calmos, consequentemente refletindo na valorização do nosso”, impactando o cenário cambial doméstico.

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Imagem: www1.folha.uol.com.br

Relações Brasil-Estados Unidos e Expectativas do Federal Reserve

Ao mesmo tempo em que as tensões asiáticas são monitoradas, os Estados Unidos têm se mostrado abertos para negociações com o Brasil. Na última quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, reuniram-se presencialmente na Casa Branca. Um comunicado emitido após o encontro por Washington classificou as conversas como “muito positivas” e indicou a definição de um cronograma de trabalho. A publicação de uma manifestação conjunta pelos dois governos é um desvio do padrão do Departamento de Estado, sugerindo uma notável sintonia entre as partes. Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX, observa que “é a primeira de uma série de conversas. Tem muito chão pela frente e vai demorar até termos algum resultado concreto, mas o fato de que autoridades brasileiras e americanas estão oficialmente sentando à mesa para conversar traz maior otimismo para os investidores”, embora os resultados concretos possam demorar.

Na agenda internacional, a atenção se volta também para a divulgação dos dados de inflação de setembro nos Estados Unidos pelo Departamento do Comércio na sexta-feira. Será o primeiro relatório oficial sobre a economia norte-americana desde que o governo federal entrou em um “shutdown”. Economistas projetam uma leitura mensal entre 3% e 4%, o que, segundo Matthew Ryan, chefe de estratégia de mercado da Ebury, estaria “bem acima da meta do Fed (Federal Reserve) e em aparente contradição com a postura cada vez mais dovish [favorável a um corte de juros] do banco central”.

A decisão sobre a taxa de juros do Federal Reserve dos Estados Unidos ocorrerá na próxima semana, entre os dias 28 e 29 de outubro. No encontro anterior, os dirigentes do banco central norte-americano optaram por um corte de 0,25 ponto percentual – o primeiro desde dezembro do ano passado – levando a taxa para uma faixa entre 4% e 4,25%. Essa decisão foi justificada pela percepção de que os riscos de uma desaceleração no mercado de trabalho, decorrente da política monetária restritiva, superavam os de um possível repique inflacionário. Agora, o mercado financeiro aguarda com forte expectativa um novo corte de 0,25 ponto na reunião vindoura. “Um corte de juros em outubro está dado”, garante Julia Coronado, fundadora da empresa de pesquisa MacroPolicy Perspectives e ex-economista do Fed, reforçando que “nada mudou a perspectiva de que ainda há riscos de queda no mercado de trabalho”.

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Em suma, a valorização do dólar nesta terça-feira é um reflexo das complexas interações entre dados econômicos globais, movimentos de bancos centrais e tensões geopolíticas. Para aprofundar seu conhecimento sobre o impacto dessas decisões financeiras nos mercados internacionais, visite nossa editoria de Economia para mais análises e atualizações.

Crédito da imagem: Kazuhiro Nogi/AFP

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