O projeto Disconcertos, criado em 2013 pelo escritor e professor Luiz Fernando do Carmo de Azevedo, conhecido como Dodô Azevedo, promoverá sua quinta edição com audições e discussões sobre álbuns de nomes icônicos da música brasileira, como Beto Guedes, Gal Costa e Candeia. O evento, sediado no centro cultural Futuros Arte e Tecnologia, no Rio de Janeiro (RJ), promete um mergulho em discos que marcaram a memória afetiva e histórica, focando na riqueza cultural da Música Popular Brasileira (MPB) da década de 1970.
A iniciativa do Disconcertos consiste na escuta de álbuns específicos, seguida pelo compartilhamento de informações detalhadas sobre a ficha técnica, histórias de produção e as impressões pessoais de convidados especializados. Essa abordagem oferece uma perspectiva aprofundada sobre a arte musical e sua conexão com a vida e a cultura, ressaltando a relevância dos discos como testemunhos de uma era.
Disconcertos: Debate Sobre Álbuns de Beto Guedes, Gal, Candeia
A programação da quinta edição do Disconcertos contará com a participação de nomes como Barral Lima, Ana Paula Araújo, Luiz Antonio Simas e Viviane Mosé, cada um trazendo sua visão sobre obras que ecoam até hoje. Esses encontros prometem reavaliar a produção artística em um período efervescente, mas também marcado pela repressão.
Um dos debates destacados envolverá o empresário Barral Lima, que discorrerá sobre o álbum “Sol de primavera”, de Beto Guedes, lançado em 1979. Este disco, que figura entre os pontos altos da discografia do cantor e compositor mineiro, será o foco da conversa agendada para as 19h de uma quarta-feira, 24 de setembro. A escolha se mostra interessante, uma vez que o repertório de “Sol de primavera” incluiu a canção-título, uma parceria de Beto Guedes com Ronaldo Bastos. Esta composição, de grande beleza e lirismo, alcançou vasta popularidade nacional ao ser utilizada como tema de abertura da novela “Marina”, exibida pela TV Globo em 1980, embora a trama seja lembrada por sua simplicidade. Essa seleção levanta um contraponto, visto que o álbum “Amor de índio” (1978), predecessor de “Sol de primavera”, é frequentemente mais aclamado entre os fãs e críticos do artista.
A escritora e filósofa Viviane Mosé, por sua vez, selecionou o icônico “Fa-Tal – Gal a todo vapor”, álbum emblemático que Gal Costa (1945-2022) lançou no final de 1971. O encontro dedicado a este disco está previsto para 10 de dezembro. Apesar de ser uma obra amplamente discutida e de vasto conhecimento público, sua escolha ainda ressoa profundamente. Enquanto outros trabalhos de Gal, como o mais roqueiro “Caras & Bocas” (1977), talvez pudessem se beneficiar de mais comentários e análises aprofundadas, a relevância histórica de “Fa-Tal” é inquestionável. Este disco transcende o universo musical ao incorporar um forte significado político, atuando como um “grito de liberdade” e “brado de resistência” em um Brasil sob ditadura em 1971.
Antes do debate sobre Gal Costa, o historiador Luiz Antonio Simas trará à luz a obra “Axé!”, de Candeia (1935-1978), um dos títulos mais significativos na carreira do sambista, considerado um pilar fundamental do samba carioca. Este encontro está marcado para 26 de novembro. “Axé!” (1978) representa um período crucial na discografia de Candeia, reiterando seu legado e a contribuição indelével para a música brasileira. A diversidade e profundidade dos álbuns abordados reforçam o papel do projeto Disconcertos em preservar e reinterpretar o patrimônio cultural.

Imagem: Mauro Ferreira via g1.globo.com
Chama a atenção o fato de que os três álbuns brasileiros centralizados nesta edição do Disconcertos – “Sol de primavera” (Beto Guedes, 1979), “Fa-Tal Gal a todo vapor” (Gal Costa, 1971) e “Axé!” (Candeia, 1978) – foram lançados ao longo da década de 1970. Esse período é amplamente reconhecido como de intensa criatividade e expressão para a MPB e o samba. Mesmo diante da severa repressão política vigente, artistas brasileiros produziram grandes obras que resistiram ao tempo, merecendo um debate que seja, ao mesmo tempo, erudito, elegante e sincero, como o que é proposto na quinta edição do projeto Disconcertos. A compreensão do contexto cultural e político é essencial para apreciar plenamente o legado destes artistas e a grandiosidade de suas criações, um aspecto crucial na história da música no Brasil.
Além dos debates sobre esses álbuns memoráveis, a programação inclui a participação da jornalista Ana Paula Araújo, que apresentará uma coletânea de Madonna, adicionando uma perspectiva diferente ao evento. A abrangência dos tópicos demonstra o esforço do projeto em oferecer uma rica tapeçaria musical aos participantes.
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Os encontros do Disconcertos promovem uma reflexão profunda sobre a música como um elemento vital da memória afetiva e cultural. Ao discutir esses álbuns de Beto Guedes, Candeia e Gal Costa, o projeto enriquece a compreensão sobre a MPB dos anos 70 e sua relevância. Para se manter atualizado sobre eventos culturais e análises aprofundadas da cena musical, explore nossa editoria de Cultura em Hora de Começar.
Foto: Reprodução / Montagem g1
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