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Diplomacia Brasileira Sob Tensão: Entenda os Atritos de Lula com Estados Unidos, Israel e Venezuela

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Desde o início de seu terceiro mandato presidencial, em janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dedicado uma parcela considerável de sua agenda à discussão de questões relacionadas à política externa. Esse envolvimento inclui viagens a diversas nações para encontros com líderes de Estado e governo, além da participação em importantes reuniões de organismos multilaterais. No âmbito doméstico, essa postura ativa é denominada diplomacia presidencial, um modelo onde o próprio chefe do Executivo se envolve diretamente em complexas articulações e negociações diplomáticas. Tais ações, embora conduzidas prioritariamente pelo Ministério das Relações Exteriores, recebem as orientações estratégicas do Palácio do Planalto, evidenciando o direcionamento pessoal do presidente na condução dos assuntos internacionais.

A intensidade dessa diplomacia se manifestou em momentos cruciais. Exemplos notáveis incluem as conversas mantidas por Lula com os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, buscando soluções para o conflito em andamento entre os dois países. Outras iniciativas relevantes compreendem a articulação do Brasil, juntamente com os países do bloco Brics, para responder ao aumento das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre certas importações. Paralelamente, o governo brasileiro tem concentrado esforços na busca pela finalização das negociações referentes ao acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, uma pauta econômica de longa data com significativo impacto para o bloco sul-americano e seus parceiros. Contudo, neste período, a administração federal brasileira tem enfrentado focos de atrito consideráveis com os governos de três nações: os Estados Unidos da América, Israel e a Venezuela, cada um com suas particularidades e origens distintas, mas compartilhando alguns padrões na dinâmica da tensão.

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Semelhanças nos Atritos Diplomáticos

Um dos traços mais marcantes nesses três atritos diplomáticos reside na interrupção do diálogo direto entre os líderes dos países envolvidos. No caso dos Estados Unidos, mesmo sendo o segundo maior parceiro comercial do Brasil globalmente, superado apenas pela China, o presidente Lula e seu homólogo Donald Trump não mantiveram comunicação desde que o presidente americano assumiu seu mandato em janeiro do ano corrente. Recentemente, a tensão comercial escalou com a imposição, pelo governo Trump, de uma tarifa de 50% sobre uma gama específica de produtos brasileiros destinados ao mercado norte-americano. Além da pauta econômica, a fricção bilateral também foi marcada por declarações de Trump relativas à situação jurídica do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que atualmente é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por acusações como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de direito e organização criminosa. Trump expressou publicamente que seu aliado estaria sendo vítima de uma “caça às bruxas” no Brasil. O presidente Lula, por sua vez, demonstrou disposição para dialogar com Trump, mas condicionou essas conversas estritamente aos assuntos comerciais, deixando claro que não haverá negociação se o líder norte-americano continuar a tentar intervir ou ditar a maneira como as instituições brasileiras devem operar. O posicionamento do governo brasileiro neste ponto é fundamental para resguardar o que considera a soberania nacional, reiterando que o respeito às instituições e à independência do Brasil é inegociável.

Similarmente, no contexto com Israel, não há contato entre Lula e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu desde que o presidente brasileiro fez uma comparação explícita entre as ações do governo israelense na Faixa de Gaza e o regime nazista de Adolf Hitler em relação aos judeus, gerando um forte desdobramento na relação. Subsequentemente, o presidente brasileiro reiterou a acusação de “genocídio” palestino por parte do governo de Israel. As críticas foram ecoadas pelo chanceler brasileiro, Mauro Vieira, que descreveu a situação na região como uma “carnificina” em andamento. Como resposta às declarações de Lula, o governo israelense o declarou “persona non grata”. Mais recentemente, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, comparou publicamente o presidente brasileiro a uma “marionete do Irã”, acentuando ainda mais a gravidade da crise diplomática.

No relacionamento com a Venezuela, o diálogo entre Lula e seu antigo aliado, o presidente Nicolás Maduro – herdeiro político de Hugo Chávez –, foi interrompido após o posicionamento do Brasil e de outros líderes internacionais e organismos multilaterais que passaram a exigir a divulgação das atas eleitorais do pleito venezuelano de 2024. Embora o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), equivalente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) brasileiro, tenha reconhecido Maduro como vencedor da eleição, a oposição venezuelana alega que houve fraude no processo e que a divulgação dessas atas comprovaria a vitória de seu candidato, Edmundo González. Contudo, a Suprema Corte venezuelana, alinhada ao governo Maduro, proibiu a publicação das atas eleitorais, oficializando assim a reeleição do atual presidente, o que alimentou as acusações de ilegitimidade por parte da oposição e da comunidade internacional, incluindo o Brasil.

Um segundo ponto em comum nesses cenários de atrito diz respeito aos ataques diretos contra o Brasil e a proliferação de informações distorcidas ou falsas dirigidas ao país. Por exemplo, Donald Trump, em uma carta endereçada a Lula, declarou que a balança comercial entre os Estados Unidos e o Brasil seria deficitária para a economia americana. No entanto, os dados e análises de comércio exterior desmentem essa afirmação, indicando que os americanos, na realidade, auferem lucro na relação bilateral, exportando mais produtos e em maior valor agregado para o Brasil do que importam. Já o governo de Benjamin Netanyahu, por sua vez, tem acusado Lula de ser um “apoiador do Hamas”, apesar de os comunicados oficiais emitidos pelo governo brasileiro desde o início do conflito na região terem consistentemente condenado os ataques de ambos os lados. As declarações do Brasil rotulam explicitamente como “terroristas” as ações do grupo que controla a Faixa de Gaza contra Israel, deixando clara sua posição equilibrada. Em relação a Nicolás Maduro, desde que o presidente Lula passou a exigir a transparência das atas eleitorais, o governo venezuelano retaliou divulgando informações inverídicas sobre o processo eleitoral brasileiro, afirmando, por exemplo, que as eleições no Brasil não seriam auditáveis, uma declaração que contradiz a realidade e a reputação do sistema eleitoral brasileiro, conhecido por sua robustez e capacidade de auditoria.

O terceiro ponto de similaridade encontrado nesses impasses é a insistência do governo Lula na negociação ou no cumprimento de acordos previamente estabelecidos ou na defesa de pautas consideradas essenciais para a paz e a justiça global. No caso da Venezuela, o Brasil tem cobrado enfaticamente a implementação do chamado Acordo de Barbados, que estipulava a realização de eleições limpas e transparentes no país vizinho, com a participação efetiva de todos os espectros da oposição. Diante da subsequente impossibilidade de candidatos opositores se registrarem, suas prisões e a já mencionada não divulgação das atas eleitorais, o Palácio do Planalto passou a expressar publicamente sua percepção de que houve uma “quebra de confiança” em relação à administração de Nicolás Maduro. Em relação aos Estados Unidos, o Brasil está pressionando por negociações diretas acerca da sobretaxa imposta a seus produtos. O governo Lula acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC), buscando vias formais para contestar a medida. Adicionalmente, diversos integrantes de alto escalão da equipe governamental brasileira, como o chanceler Mauro Vieira e os ministros Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) e Fernando Haddad (Fazenda), têm se engajado em tentativas de discutir e resolver a questão com assessores de Donald Trump. Contra o governo Netanyahu, o Brasil tem exigido o cumprimento de acordos internacionais que garantam a entrada contínua e irrestrita de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Relatórios de organizações internacionais têm sistematicamente apontado as enormes dificuldades que essa ajuda enfrenta para alcançar a população palestina, uma situação que o Brasil já indicou publicamente que pode ser caracterizada como crime de guerra. O governo brasileiro tem consistentemente defendido que o governo israelense e o Hamas alcancem um acordo de cessar-fogo permanente, para mitigar a escalada de violência e o sofrimento humanitário.

Diferenças Fundamentais nas Origens e Tratamento dos Conflitos

Apesar das semelhanças nos padrões de atrito, as origens específicas desses impasses diplomáticos entre o Brasil e os três países em questão divergem consideravelmente, abrangendo componentes comerciais, políticos e diplomáticos. Com os Estados Unidos, o ponto de partida do atrito é fundamentalmente comercial, com uma imposição de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, justificada pelo governo Trump sob a alegação, contrária aos números oficiais, de que a relação comercial gera prejuízo à economia americana. Esta questão se mescla com componentes políticos e diplomáticos, especialmente pela interferência do presidente Trump na discussão sobre a situação jurídica de Jair Bolsonaro. O governo Lula reiterou sua disponibilidade para debater a questão comercial, mas rejeita qualquer discussão sobre o ex-presidente brasileiro, considerando isso uma ingerência em assuntos internos. Um fato que ilustra a tensão é que, sem a nomeação de um embaixador americano no Brasil, o encarregado de negócios no país, Gabriel Escobar, foi convocado pelo Itamaraty para esclarecimentos sobre publicações da representação diplomática com críticas a autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes, do STF, marcando um claro ponto de desconforto diplomático.

No que tange a Israel, a raiz do atrito é predominantemente diplomática e se intensificou dramaticamente em 2024, quando o presidente Lula afirmou que as ações de Israel em Gaza equiparavam-se às práticas de Adolf Hitler contra os judeus. Desde essa declaração, o governo brasileiro tem repetidamente expressado que há um “genocídio” e uma “carnificina” na região, defendendo que as tropas de Benjamin Netanyahu se retirem completamente da área. O Brasil também criticou o modo de atuação israelense, afirmando que estes agem como “colonos” em relação aos palestinos, gerando profundo desconforto na relação bilateral. Atualmente, ambos os países mantêm apenas encarregados de negócios, sem a presença de embaixadores em Brasília ou Tel Aviv, um indicativo claro na linguagem diplomática de uma significativa insatisfação e deterioração das relações.

Em relação à Venezuela, a origem do atrito é estritamente política. O governo de Nicolás Maduro reagiu negativamente à exigência feita por Lula, ecoada por outros líderes e organismos internacionais, para que as atas eleitorais fossem divulgadas, uma vez que a oposição afirmava que tais documentos comprovariam a vitória de Edmundo González no pleito de 2024, diferentemente do resultado reconhecido pelo CNE e pela Suprema Corte local. Previamente à eleição, em um momento de acalorada retórica política, Maduro chegou a declarar que, para evitar um “banho de sangue” na Venezuela, a comunidade internacional deveria garantir sua “maior vitória da história” no país. Lula expressou que ficou “assustado” com tal afirmação, ao que Maduro ironicamente replicou que “quem se assustou que tome um chá de camomila”, acentuando o tom confrontador entre os líderes.

A abordagem diplomática brasileira também tem sido singular para cada uma das nações envolvidas nas tensões. Em relação aos Estados Unidos, o chanceler Mauro Vieira teve um contato recente com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, o que representa um canal de comunicação de alto nível. Contudo, a avaliação no âmbito diplomático brasileiro é que Gabriel Escobar, atual chefe da embaixada americana no Brasil, não possui a capacidade de agir como emissário direto do presidente Trump para negociar o tarifaço, uma vez que não teria o aval direto da Casa Branca para esse tipo de diálogo. A complexidade de um diálogo direto, portanto, reside na necessidade de um representante com poder de decisão emanado do próprio gabinete presidencial americano.

No que diz respeito a Israel, desde 2024, o Brasil tem mantido sua representação em Tel Aviv sob a liderança de um encarregado de negócios, sem a nomeação de um embaixador. Essa estratégia é uma forma deliberada de reforçar ao governo Netanyahu a gravidade do estremecimento das relações diplomáticas entre os dois países. Na comunicação diplomática internacional, a ausência de um embaixador e a manutenção de uma missão apenas em nível de encarregado são um sinal inequívoco de um esfriamento ou suspensão tácita do pleno relacionamento.

Em relação à Venezuela, o assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, proferiu declarações oficiais, apontando uma “quebra de confiança” entre Brasil e Venezuela. Como uma das repercussões dessa fala e do desgaste diplomático, o governo de Nicolás Maduro decidiu convocar de volta a Caracas seu embaixador em Brasília, o que é mais uma demonstração de deterioração dos laços bilaterais e um gesto recíproco ao sinal de descontentamento emitido pelo governo brasileiro.

Consequências Distintas e Avaliações Futuras

As consequências desses atritos têm se manifestado de formas diferentes para cada um dos casos. No que se refere aos Estados Unidos, a implementação do tarifaço sobre produtos brasileiros tornou-se uma realidade, embora tenha sido parcial, com alguns itens inseridos em uma lista de exceções definida pela administração americana. Além disso, houve repercussões no campo jurídico, com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a exemplo de Alexandre de Moraes, sendo alvos de sanções em desdobramento das tensões políticas entre os países. A complexidade do cenário com os Estados Unidos demonstra que as disputas comerciais estão imbricadas com aspectos mais amplos de governança e política interna de ambos os países.

Com Israel, as relações diplomáticas sofreram um recente “rebaixamento” formalizado após a decisão do Brasil de não aceitar e ignorar a indicação de um novo embaixador israelense. Este ato representa uma escalada nas medidas de protesto diplomático por parte do Brasil, que continua insatisfeito com as ações do governo israelense e o curso do conflito na Faixa de Gaza. A interrupção no nível máximo de representação diplomática demonstra a profundidade da crise instaurada desde as declarações iniciais do presidente brasileiro.

No caso da Venezuela, o efeito mais palpável foi o esfriamento da relação pessoal entre o presidente Lula e Nicolás Maduro, outrora aliados. Os dois chefes de Estado não se falam há aproximadamente um ano, o que reflete uma ruptura significativa em uma aliança que era considerada central para a política externa brasileira na América do Sul e para as relações hemisféricas em geral. Essa distância impacta a capacidade do Brasil de influenciar ou mediar a situação política e social no país vizinho, assim como as pautas de cooperação regional.

O professor Amâncio Jorge, do departamento de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), oferece uma análise sobre a atual condução da política externa brasileira. Para ele, Lula deveria ter considerado uma “correção de rota” na forma de abordar os Estados Unidos em relação ao tarifaço, buscando uma solução mais pragmática, embora ele considere o presidente “completamente correto” em não discutir a situação de Jair Bolsonaro com os americanos, por se tratar de uma questão de soberania interna do Brasil. Na avaliação do professor, o tom mais “duro” adotado por Lula nas declarações internacionais pode gerar reflexos internos positivos para sua imagem presidencial, potencialmente aumentando o apoio eleitoral, mas, por outro lado, tem o potencial de “dificultar” substancialmente as negociações com os Estados Unidos, especialmente em pautas delicadas como as tarifas comerciais. Amâncio Jorge pontua que a eficácia do tom depende diretamente do objetivo político em questão: “Se o objetivo for angariar apoio interno, o tom duro passa uma imagem mais poderosa, com potencial eleitoral. Para o objetivo de mitigar, ainda que não resolva completamente [o tarifaço], o tom dificulta. Então, depende muito de qual é o objetivo. Me parece ser uma mensagem, mais que tudo, eleitoral, muito embora a firmeza seja necessária.”

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O especialista ressalta que o Brasil vive um “momento novo” em sua política externa, caracterizado por uma postura de tomada de partido em discussões internacionais, muitas vezes influenciada por estratégias internas de governo. No entanto, ele nota que essa postura precisa considerar simultaneamente o cenário internacional de maneira mais ampla, como exemplificado pela aproximação mais intensa dos países do Brics, indicando uma busca por multipolaridade e novos blocos de influência. Neste complexo contexto, Amâncio Jorge expressa a visão de que o Brasil não tem, atualmente, a estrutura e a estatura para mediar conflitos de alta complexidade como o da Rússia e da Ucrânia, ou entre Israel e o Hamas. Ele avalia que o país, “na crença de que poderia fazer isso, me parece que deu um passo maior que a perna”. Além disso, mesmo em seu próprio continente, a América Latina, onde o Brasil tradicionalmente exercia maior estatura diplomática, o professor conclui que “o Brasil perdeu algum nível de protagonismo”, uma perda atribuída tanto a “atitudes fora do tom” na diplomacia quanto a um “contexto” global e regional complexo que contribui para essa dinâmica de fragilização de sua capacidade mediadora.

Com informações de G1

Diplomacia Brasileira Sob Tensão: Entenda os Atritos de Lula com Estados Unidos, Israel e Venezuela - Imagem do artigo original

Imagem: g1.globo.com

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