Deloitte dá ultimato à dona da Siberian em recuperação judicial, intensificando a pressão sobre o Grupo VGB, conglomerado responsável pelas renomadas marcas de moda Siberian e Crawford. A administradora judicial protocolou um pedido na Justiça de São Paulo para que a empresa comprove rigorosamente o pagamento de débitos previstos em seu plano de recuperação judicial e esclareça a real existência e liquidez de precatórios, valores cruciais para a quitação de credores.
Esta medida representa um ponto crítico no processo, vindo logo após a Deloitte ter solicitado a conversão da recuperação judicial do Grupo VGB em falência. Tal solicitação, contudo, foi negada pelo poder judiciário. Os registros do processo indicam que as obrigações financeiras da companhia, detentora das marcas Siberian e Crawford, somam a expressiva quantia de R$ 255,7 milhões.
Deloitte dá ultimato à dona da Siberian em recuperação judicial
A situação delicada da companhia se desenrola na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Estado de São Paulo. A administradora judicial tem encontrado desafios significativos na fiscalização das ações do grupo, evidenciando uma lacuna entre as comprovações exigidas e as informações fornecidas. As dívidas trabalhistas, em particular, têm sido um ponto de discórdia substancial entre a Deloitte e a gestão do Grupo VGB.
No que concerne às obrigações trabalhistas, a Deloitte mapeou um universo de 286 empregados com parcelas salariais em atraso. Em contraste, a empresa apenas apresentou comprovantes de pagamento para um pequeno contingente de 20 trabalhadores, alegando que a ausência de todos os dados bancários impedia a efetivação dos demais repasses. Diante desta disparidade, a administradora judicial comunicou que procederá à análise detalhada dos pagamentos até então realizados, com o objetivo de assegurar o cumprimento integral das responsabilidades do grupo para com seus credores laborais, um dos pilares de qualquer processo de reestruturação.
Em outra vertente crítica para a saúde financeira e legal de qualquer organização em recuperação, a Deloitte demandou a apresentação das certidões negativas de débitos (CNDs) relativas ao pagamento de tributos federais. O Grupo VGB justificou a não entrega desses documentos afirmando estar em fase de negociações com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Contudo, a administradora judicial manifestou insatisfação pela ausência de qualquer comprovação documental que atestasse o progresso ou o sucesso dessas alegadas negociações, levantando dúvidas sobre a real situação fiscal da empresa no âmbito federal.
Similarmente, as obrigações tributárias estaduais junto ao governo de São Paulo também foram alvo de questionamentos pela Deloitte. Em resposta, o Grupo VGB se limitou a informar que está aguardando a abertura de uma nova janela para renegociações com a administração estadual. A justificativa, no entanto, foi prontamente confrontada pela administradora judicial, que trouxe à tona informações cruciais sobre as oportunidades de regularização que já foram concedidas à empresa.
A Deloitte reiterou que o Grupo VGB tem plena ciência de suas responsabilidades fiscais e da urgência em regularizar seu passivo junto ao Estado desde agosto de 2023. Mais especificamente, em 2024, a Procuradoria-Geral do estado de São Paulo emitiu um edital reabrindo as adesões ao “Acordo Paulista”, um programa estratégico de renegociação de dívidas tributárias. A administradora judicial enfatizou no processo: “Muito embora alegue estar aguardando a publicação de nova transação pelo estado de São Paulo, fato é que o Grupo VGB já teve diversas oportunidades para aderir ao programa estadual e, em nenhum momento, trouxe uma justificativa plausível para a ausência de adesão.”

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Um dos pontos mais sensíveis da atual conjuntura diz respeito aos precatórios. O Grupo VGB havia acordado em seu plano de recuperação judicial a utilização de R$ 25,7 milhões provenientes de precatórios para o abatimento de suas dívidas, incluindo um valor de R$ 3,3 milhões devido à própria administradora judicial, a Deloitte. Tal recurso se apresentava como um caminho importante para o equacionamento de parte de seu endividamento.
Entretanto, a situação dos precatórios ganhou uma camada de complexidade adicional. A União Federal protocolou um requerimento para a penhora desses valores, ou seja, solicitou o bloqueio judicial dos créditos. Este movimento levanta uma preocupação significativa, pois mesmo que o Grupo VGB tenha, de fato, o direito de receber tais precatórios, a ação da União Federal cria uma incerteza jurídica que impede a garantia de que esses fundos poderão ser utilizados para o pagamento da Deloitte e de outros credores, fragilizando o plano de recuperação. Entender o funcionamento da Lei de Recuperação Judicial é fundamental para acompanhar a evolução desses processos complexos.
A coluna tentou entrar em contato com a empresa para obter um posicionamento, mas os advogados listados na ação judicial informaram ter renunciado ao caso, o que adiciona um complicador à comunicação direta com a gestão do Grupo VGB em um momento tão delicado de seu processo de recuperação judicial.
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Este ultimato da Deloitte ao Grupo VGB marca uma fase crítica na sua recuperação judicial, demandando transparência e ações concretas por parte da dona das marcas Siberian e Crawford para honrar seus compromissos. A complexidade do cenário, envolvendo dívidas trabalhistas, fiscais e a incerteza sobre os precatórios, demonstra os desafios enfrentados pela companhia. Para acompanhar de perto as últimas atualizações sobre economia e outros desenvolvimentos corporativos, continue navegando em nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: Rafaela Araújo/Folhapress
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