Minissérie Martin Scorsese: Crítica avalia ‘O Lendário Martin Scorsese’

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A aguardada Minissérie Martin Scorsese, intitulada “O Lendário Martin Scorsese”, dirigida por Rebecca Miller, teve sua estreia nesta sexta-feira na plataforma Apple TV+. A produção americana, realizada em 2025, consiste em cinco capítulos que se propõem a traçar um retrato cinematográfico do aclamado cineasta, como a própria realizadora define. Conforme a avaliação do crítico Sérgio Alpendre, a obra é assistida com facilidade e certo prazer, porém sem a capacidade de gerar um envolvimento intelectual profundo ou empolgações significativas provenientes de abordagens contemporâneas, sendo as emoções limitadas a trechos dos filmes antigos de Scorsese.

O documentário adota uma estrutura narrativa predominantemente linear, partindo de entrevistas atuais com Scorsese, uma das figuras mais emblemáticas do cinema americano moderno. Ao longo dos episódios, são intercalados detalhes cruciais sobre sua trajetória de vida com uma série de imagens de arquivo que funcionam como um ‘making of’ estendido de sua carreira. Essa abordagem visa oferecer ao espectador uma visão íntima e cronológica dos marcos que definiram tanto o homem quanto o artista por trás da câmera.

Minissérie Martin Scorsese: Crítica avalia ‘O Lendário Martin Scorsese’

Um dos aspectos que confere à produção um ar oficioso e de vasta abrangência é o acesso, aparentemente irrestrito, a um rico acervo de imagens de arquivo. Esse material permite ao público uma imersão profunda na vida e obra de Scorsese, exibindo não apenas o próprio diretor, mas também os renomados atores e atrizes com quem colaborou e o círculo de amigos que o acompanham há longas décadas. Essa riqueza visual sustenta a narrativa, garantindo uma exploração detalhada dos diferentes estágios de sua jornada.

Acompanha-se os momentos mais relevantes da vida e da prolífica carreira do cineasta. A minissérie explora a severidade do ambiente onde Martin Scorsese cresceu, a complexidade de sua relação com os pais e o irmão, o impacto do fracasso de “New York, New York”, e o período de experimentação com drogas ao lado de Robbie Robertson, evento descrito como uma “morte e ressurreição” em sua vida. A produção também destaca a dinâmica competitiva, mas de admiração, com o cineasta Brian De Palma, que expressou seu assombro com “Touro Indomável”, obra que sucedeu “Taxi Driver” no panteão das criações de Scorsese.

Ainda em sua linha do tempo, a minissérie retrata a fase de declínio profissional que marcou a primeira metade da década de 1980, seguida pela chegada de um novo agente que foi fundamental para redirecionar sua carreira. Outra crise se manifestaria no final dos anos 1990. Detalhes de sua vida pessoal, incluindo os diferentes casamentos com Laraine Brennan, Julia Cameron, Isabella Rossellini, Barbara De Fina e Helen Morris, são abordados, bem como a paternidade de suas filhas com três das esposas, entre uma multiplicidade de outros eventos pessoais e profissionais.

Embora apresente pontuais brincadeiras com a passagem do tempo, como na montagem das derrotas no Oscar, o filme-retrato segue, em grande parte, uma linha do tempo didática e bastante linear. Essa cronologia meticulosa facilita a compreensão do percurso singular do diretor para o espectador. É, nesse sentido, que a minissérie “O Lendário Martin Scorsese” exibe peculiaridades notadas pelo crítico. Um exemplo é a revelação, ao final do primeiro episódio, de que alguém teria “tramado” apresentar Scorsese a Robert De Niro, dando a impressão de que o diretor não tinha conhecimento de quem se tratava, o que levanta questionamentos considerando que De Niro já havia protagonizado três longas-metragens com Brian De Palma, sendo dois em papéis de grande destaque.

O próprio ator, em relatos de memória, só se recorda de dois desses trabalhos, o que é encarado pelo crítico como uma falha de lembrança compreensível, uma dentre outras dispersas ao longo do retrato. Especificamente sobre “Festa de Casamento”, um desses primeiros filmes, nota-se que o De Niro da época é quase irreconhecível em comparação com a figura icônica que emergeria em “Taxi Driver” e outras colaborações com Scorsese, parecendo uma pessoa distinta. Essa disparidade sugere uma falta de contexto que a diretora Rebecca Miller poderia ter explorado melhor.

Segundo o crítico, a minissérie poderia ter adotado um didatismo mais explícito em alguns momentos, não como uma característica essencial, mas como um elemento enriquecedor para o público. A ressalva é especialmente relevante quando se considera a provável semelhança que os espectadores farão com “Viagem Pessoal pelo Cinema Americano”, o célebre documentário dirigido pelo próprio Scorsese, cuja força reside justamente na clareza e profundidade didática com que aborda a história do cinema. Para compreender a amplitude do impacto duradouro no cinema mundial de Scorsese, uma visita ao verbete da Wikipedia sobre sua trajetória é recomendada.

Ainda assim, a minissérie proporciona momentos de grande curiosidade, como a exaltação de Jean-Luc Godard a “Alice Não Mora Mais Aqui”, um dos filmes menos associados ao estilo godardiano que Scorsese havia criado até então. Os depoimentos de renomados cineastas como Spike Lee e Steven Spielberg, ambos visivelmente admirados pelo talento do colega, também enriquecem a narrativa com perspectivas privilegiadas. Um dos trechos mais intrigantes se desenrola no quinto episódio, onde a sequência das indicações ao Oscar de Melhor Direção, nas quais Scorsese foi derrotado por nomes como Barry Levinson (por “Rain Man”), Kevin Costner (por “Dança com Lobos”) e Clint Eastwood (por “Menina de Ouro”), é cuidadosamente montada.

Especificamente, a derrota para Clint Eastwood, em “Menina de Ouro”, ocorreu no ano em que Scorsese concorria com “O Aviador”. Neste segmento, ouvem-se comentários de personagens que sugerem que as características intrínsecas dos filmes de Scorsese – seu teor artístico e sua natureza ambígua, que por vezes desafiava as expectativas do público – inibiam os votantes da Academia. No entanto, o crítico Alpendre aponta que “O Aviador” é considerado um trabalho menor do que outras obras pelas quais Scorsese havia sido indicado anteriormente, como “A Última Tentação de Cristo” e “Os Bons Companheiros”, as quais, em sua visão, teriam merecido muito mais o prêmio de Melhor Direção. Além disso, “Menina de Ouro” é classificado como uma obra sublime, digna dos maiores elogios, talvez representando a última vitória genuinamente justa na história da premiação do Oscar, segundo o avaliador.

Após um extenso percurso entre a vida particular e o trabalho de Scorsese, os vinte minutos finais do quinto episódio da minissérie reservam momentos de profunda tristeza envolvendo a atual esposa do diretor. Essa parte conclusiva da obra, marcada por forte coerência com o que foi construído ao longo dos capítulos, arremata o retrato afetuoso e complexo que Rebecca Miller dedicou ao lendário Martin Scorsese, fornecendo uma perspectiva final e comovente sobre o homem.

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Em suma, “O Lendário Martin Scorsese” na Apple TV+ oferece uma jornada detalhada pela vida e carreira de um dos maiores cineastas contemporâneos, apesar de apresentar alguns pontos que poderiam ter sido aprofundados. Para explorar outras análises e notícias do universo do entretenimento e das celebridades, convidamos você a continuar navegando em nossa editoria Celebridade em nosso site, onde sempre encontrará conteúdo de qualidade para sua leitura.

Crédito da imagem: Divulgação