Crítica: Filme ‘Casa de Dinamite’ Avalia Perigo Nuclear

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O filme **Casa de Dinamite**, dirigido pela renomada cineasta Kathryn Bigelow, que estreia nos cinemas e já está disponível na Netflix, é um marco em sua carreira por uma razão intrigante: marca uma significativa mudança de tom em comparação a suas produções mais aclamadas. Classificado para maiores de 16 anos, o longa-metragem conta com um elenco composto por Anthony Ramos, Idris Elba e Rebecca Ferguson, em uma produção que promete gerar debates sobre os riscos contemporâneos da incerteza global e estratégias de poder.

Diferentemente de sucessos anteriores como “Guerra ao Terror”, de 2008 – que rendeu a Bigelow o Oscar de melhor direção – e “A Hora Mais Escura”, de 2012, onde a narrativa frequentemente celebrava o sucesso ou a eficácia das operações militares americanas, “Casa de Dinamite” se inclina para um cenário de dúvida e perigo iminente. Nos trabalhos precedentes, por exemplo, “Guerra ao Terror” ilustrava o êxito de especialistas na desativação de bombas no Oriente Médio, enquanto “A Hora Mais Escura” retratava com otimismo a caçada a Osama bin Laden após os ataques de 11 de setembro de 2001, sugerindo uma crença na solução de problemas através da eliminação de lideranças.

Crítica: Filme ‘Casa de Dinamite’ Avalia Perigo Nuclear

Contudo, desde esses lançamentos, a percepção global parece ter se alterado profundamente, refletindo nas obras de Bigelow. Os militares apresentados nos filmes anteriores atuavam em um contexto onde o domínio dos Estados Unidos sobre o cenário mundial era evidente após o fim da União Soviética. Esse estilo robusto e assertivo dos filmes da diretora talvez tenha, de maneira profética, antecipado os anos subsequentes de incerteza que viriam a pautar a geopolítica global. O mais novo trabalho, “Casa de Dinamite”, personifica essa mesma incerteza em sua essência.

O título da produção ecoa uma reflexão expressa em tela pelo próprio presidente americano: a era nuclear moderna pode ser comparada a construir e viver em uma residência completamente carregada de dinamite. A metáfora ressalta a vulnerabilidade constante e o perigo de uma explosão sempre latente, indicando uma premissa alarmante. A trama inicia em uma típica sala de crise do cinema norte-americano, repleta de militares e monitores exibindo dados cruciais, um ambiente de ordens velozes e senso de urgência, reminiscente de produções como “Impacto Profundo”. A distinção fundamental, entretanto, reside no lançamento de um míssil contra o território dos Estados Unidos, sem que se consiga identificar a origem exata da ameaça. Seriam forças russas, chinesas ou, possivelmente, norte-coreanas? A questão da retaliação imediata surge, mas a ausência de um alvo claro para o contra-ataque introduz uma hesitação antes não vista nas salas de comando americanas. A velha certeza que antes permeava as decisões militares, quando os resultados positivos eram praticamente garantidos, é agora substituída por uma grande incógnita. O adversário atual não se limita mais a nações já conhecidas, como o Iraque; agora, trata-se de potências igualmente equipadas com meios de destruição igualmente persuasivos.

Em contextos cinematográficos passados, tais momentos de angústia eram geralmente motivados por desastres naturais inelutáveis, como um asteroide prestes a colidir com a Terra, no exemplo de “Impacto Profundo”. Em “Casa de Dinamite”, no entanto, a causa da profunda aflição é outra: a iminência de um míssil atingir Chicago, com a possibilidade de dizimar seus 9 milhões de habitantes em poucos minutos. Um sistema antimíssil ultramoderno, cujo custo alcançou 70 bilhões de dólares, é acionado, mas falha catastrófica mente. O dilema da retaliação se aprofunda: disparar contra a Rússia pode desencadear uma guerra nuclear global, mesmo que o país não tenha qualquer envolvimento; não fazer nada, por sua vez, pode encorajar Rússia, China ou outras potências a avançar, em um leque de desastres possíveis.

A estrutura narrativa do filme se estende por quase duas horas, cobrindo, no enredo, apenas cerca de 15 minutos de ação crucial. Essa estratégia implica narrar o mesmo evento a partir de múltiplas perspectivas: a da sala de crise, de um assessor presidencial, do secretário de Defesa e de uma especialista em relações com a China. Cada indivíduo vivencia a crise sob seu próprio ponto de vista, mas, no fim, a responsabilidade e a decisão são transferidas ao presidente, em uma espécie de repasse simbólico da “bomba”. Essas múltiplas versões, apesar de conferirem certa complexidade narrativa e, em alguns momentos, serem percebidas como um tanto confusas ou “ociosas” para a progressão do enredo, revelam um ponto importante. Os principais líderes da nação, quando contatados em meio à crise, mostram-se envolvidos em atividades cotidianas aparentemente triviais: o secretário da Defesa preocupa-se com sua filha em Chicago, uma assessora-chave está em uma encenação histórica da batalha de Gettysburg, outro joga golfe, e o presidente ensina basquete a crianças.

Essas representações não têm como propósito acusar esses homens de irresponsabilidade. Em vez disso, a obra insinua que os Estados Unidos, movidos por um excesso de confiança em sua segurança e superioridade frente a potenciais rivais, podem ter baixado a guarda, e agora enfrentam as graves consequências desse descuido estratégico. Apesar da poderosa constatação do presidente sobre o avanço da obsessão das grandes potências por armamentos nucleares — uma frase marcante e de cunho trágico — isso não modifica o raciocínio central da cineasta Kathryn Bigelow, que ainda parece nutrir uma perspectiva voltada à lógica bélica.

À semelhança dos generais desequilibrados presentes em “Dr. Fantástico”, de Stanley Kubrick, obra da qual “Casa de Dinamite” por vezes se assemelha a uma paródia mais séria, Bigelow parece sugerir que a única forma de triunfar em um conflito nuclear seria, paradoxalmente, agir primeiro, lançando o míssil inaugural. Um raciocínio com pouca profundidade, que pode, de alguma forma, explicar a percepção de que o filme resulta ser pouco envolvente e que sua solução narrativa, reminiscente do clássico “Rashomon”, é descrita como um “truque barato” ou apenas um expediente para prolongar a duração da metragem, sem contribuir significativamente para o drama ou a resolução do conflito. A complexidade do cenário geopolítico exige, por sua vez, uma abordagem mais nuanceada do que a solução binária de “primeiro atacar para vencer”. Para se aprofundar na vida e obra de Stanley Kubrick, um cineasta com uma visão tão peculiar e inovadora, acesse mais informações na Wikipedia, um recurso valioso para pesquisa.

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Em suma, “Casa de Dinamite” reflete uma nova fase na filmografia de Kathryn Bigelow, marcando um distanciamento do otimismo bélico de seus trabalhos anteriores para explorar a instabilidade da era nuclear. Embora proponha um tema relevante, a narrativa confusa e os dispositivos cênicos questionáveis minam o impacto do filme. Para acompanhar mais análises e reportagens aprofundadas sobre lançamentos cinematográficos e as tendências do universo do entretenimento, continue explorando nossa editoria de Análises e mantenha-se informado com a curadoria especializada do nosso portal.

Crédito da imagem: Eros Hoagland/Divulgação

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Imagem: www1.folha.uol.com.br

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