O presidente da Coreia do Sul, Lee Jae-myung, reafirmou seu compromisso com a retomada do diálogo entre o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un. A declaração, feita no último sábado, reflete uma guinada diplomática que evoca os princípios da “Política de Aproximação” adotada pelo falecido presidente sul-coreano Kim Dae-jung, vindo após o cancelamento de um encontro planejado entre as duas potências. A iniciativa busca restaurar a paz e a estabilidade em uma Península Coreana frequentemente marcada por tensões.
Durante uma entrevista coletiva que marcou o encerramento da cúpula do bloco econômico dos países da Ásia-Pacífico (Apec), realizada na histórica Gyeongju, sudeste da Coreia do Sul, Lee Jae-myung enfatizou a importância do papel de Trump. “Garantir que o presidente Trump cumpra efetivamente seu papel como pacificador na Península Coreana, como ele próprio deseja, também é um caminho para assegurar a paz e a segurança da República da Coreia”, declarou o mandatário sul-coreano. A declaração reforça o papel que Seul pretende desempenhar como facilitador crucial nas complexas relações regionais.
Coreia do Sul Apoia Diálogo entre Trump e Kim Jong-un
Lee Jae-myung explicou que conversou com Donald Trump na quinta-feira anterior à cúpula, onde explicitamente se ofereceu como um intermediário. “Eu disse ao presidente Trump que atuaria como um facilitador para ajudá-lo a cumprir seu papel como pacificador”, revelou. Essa postura sublinha a proatividade da Coreia do Sul em buscar soluções diplomáticas duradouras, resgatando um modelo que historicamente obteve sucessos notáveis na região.
O presidente sul-coreano também fez menção direta à estratégia diplomática de Kim Dae-jung com a Coreia do Norte. O falecido presidente foi o arquiteto da “Política de Aproximação”, culminando na primeira cúpula intercoreana em Pyongyang, no ano de 2000, com o então líder Kim Jong-il. Inspirando-se nessa filosofia, Lee Jae-myung citou as palavras de Kim Dae-jung: “O presidente Kim Dae-jung disse certa vez que, em nome da Política de Aproximação, forçar alguém a tirar o casaco por outros meios é difícil e só faz com que a pessoa se retraia. Em vez disso, devemos criar um dia quente de primavera para que não precisem mais se agasalhar”. Tal metáfora ilustra a crença de que a diplomacia gentil e o fomento da confiança são mais eficazes do que a coerção em aproximar partes desavindas e estabelecer um duradouro diálogo entre Trump e Kim Jong-un.
As declarações de Lee Jae-myung surgem após Donald Trump ter partido da Coreia do Sul sem se encontrar ou ter qualquer contato conhecido com Kim Jong-un. Embora Trump, no início de sua viagem de uma semana pela Ásia, tivesse expressado satisfação em encontrar o líder norte-coreano, ele também sinalizou a possibilidade de uma futura visita à região especificamente para tal encontro. “Eu voltaria, com todo o respeito a Kim Jong-un. Eu tinha um ótimo relacionamento com Kim Jong-un. Ele não gosta de muitas pessoas além de mim”, afirmou o ex-presidente norte-americano, sugerindo que as portas para a retomada do diálogo entre as duas figuras ainda permanecem abertas.
A abordagem de Lee representa uma marcante mudança em relação à postura conservadora de seu antecessor, Yoon Suk Yeol. A linha dura de Yoon em relação à Coreia do Norte priorizava a dissuasão militar e um alinhamento mais estreito com Washington e Tóquio. Em contrapartida, o governo Lee Jae-myung enquadra o diálogo como uma ferramenta indispensável para diminuir as crescentes tensões, agravadas pelos acelerados testes de mísseis da Coreia do Norte e pelo aprofundamento de seus laços militares com a Rússia.
Enquanto o presidente Lee se preparava para discutir a desnuclearização da Península Coreana em uma reunião com o presidente chinês Xi Jinping no sábado, a agência estatal de notícias norte-coreana KCNA publicou comentários classificando a desnuclearização como um “sonho impossível” que nunca se concretizará. Essa declaração reiterada pela Coreia do Norte complexifica os esforços diplomáticos, mas não parece desencorajar a administração sul-coreana de continuar buscando o diálogo construtivo para resolver a questão.

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Analistas da região interpretam as palavras de Lee como uma mensagem direta tanto a Kim Jong-un quanto a Donald Trump. Yang Moo-jin, professor emérito da Universidade de Estudos Norte-Coreanos, comentou que “A mensagem do presidente Lee Jae-myung ao presidente Kim Jong-un pode ser ‘não ignore a oferta do presidente Trump'”. Ele acrescentou que Lee também enviou um recado a Trump para “não desista do encontro, mesmo que tenha falhado desta vez”. Tal leitura reforça a percepção da Coreia do Sul como um mediador ativo no esforço para retomar o essencial diálogo entre Trump e Kim.
No entanto, Yang ponderou que a realização de uma cúpula entre os dois líderes não será uma tarefa fácil enquanto persistir a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. O especialista aponta que Kim Jong-un pode não querer ser mal interpretado por Vladimir Putin como um “agente duplo”, dado o apoio da Coreia do Norte à Rússia na guerra com armas e soldados. Este fator geopolítico adiciona uma camada de complexidade às negociações de paz e à viabilidade de um futuro encontro. Para uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas regionais e da atuação de grandes potências, consulte as análises internacionais sobre geopolítica, como as disponibilizadas pela BBC News Brasil.
Os recentes comentários do governo sul-coreano também refletem uma cautelosa recalibração da diplomacia de Seul na iminente era Trump 2.0. Durante seu primeiro mandato, Donald Trump realizou três encontros inéditos com Kim Jong-un, mas as negociações culminaram em um fracasso em Hanói, em 2019, sem que se chegasse a um acordo substantivo sobre a desnuclearização. Esse impasse levou a um congelamento das conversações e a um retorno à confrontação, uma situação que os governos sul-coreanos subsequentes têm se esforçado para reverter, buscando agora reviver o promissor diálogo entre Trump e Kim.
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Em suma, a postura do presidente sul-coreano Lee Jae-myung sinaliza uma firme intenção de retomar as conversações e a diplomacia de alto nível, com o intuito de restaurar a paz na Península Coreana. Sua abordagem busca reviver a bem-sucedida “Política de Aproximação”, utilizando-a como fundamento para o diálogo entre Donald Trump e Kim Jong-un. Fique por dentro dos desdobramentos dessa complexa e crucial agenda geopolítica, acompanhando as últimas notícias na nossa editoria de Política.
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