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Controvérsia Internacional: Maduro Acusado de Narcoterrorismo em Meio a Desdobramentos Navais Americanos

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As relações entre os Estados Unidos e a Venezuela intensificam-se, em um cenário marcado pela divulgação, por parte de Washington, de imagens que retratam o envio de embarcações militares sofisticadas para as proximidades da costa venezuelana. A movimentação da frota de guerra de última geração, acompanhada por um contingente de aproximadamente 4.000 militares, ocorre simultaneamente à reiteração de severas acusações por parte do governo americano contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

De acordo com o posicionamento oficial da Casa Branca, Nicolás Maduro é apontado como o principal articulador e líder de uma extensa organização criminosa, batizada como Cartel de los Soles. Segundo a perspectiva norte-americana, este grupo é caracterizado como um poderoso agente no complexo sistema de tráfico de entorpecentes que se origina na América do Sul e tem como destino final os Estados Unidos. As alegações de Washington indicam que o objetivo desse tráfico vai além do simples lucro, englobando também a desestabilização da estrutura social norte-americana. Adicionalmente, o governo Trump colocou este grupo no centro de suas atenções militares ao redefinir organizações de tráfico de drogas como entidades terroristas, endurecendo a retórica e as ações contra tais operações ilícitas.

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No entanto, as assertivas contundentes formuladas pelo governo americano são veementemente contestadas por acadêmicos e pesquisadores especializados na dinâmica do crime organizado. Especialistas na área, ao examinarem profundamente a estrutura e o funcionamento do chamado Cartel de los Soles, chegam a conclusões divergentes quanto à suposta liderança de Nicolás Maduro. Segundo essas análises aprofundadas, a percepção de que Maduro seria o mentor inconteste ou o “cabeça” de uma organização centralizada, como alegado pelos Estados Unidos, não se alinha com as evidências disponíveis e as características operacionais do grupo. Em vez disso, o que se observa é uma formação mais complexa e fluida, desprovida da hierarquia tradicionalmente associada a grandes estruturas criminosas.

Para Jeremy McDermott, uma figura de proa e autoridade no campo da criminalidade organizada nas Américas, a dinâmica do Cartel de los Soles se manifesta como uma intrincada “rede de redes”. McDermott, cofundador e codiretor do InSight Crime, uma fundação dedicada ao estudo aprofundado do crime organizado nas Américas – e cujos pareceres já foram endossados por prestigiados periódicos como “The New York Times”, “The Washington Post” e “The Guardian” –, argumenta que a organização carece de uma cadeia de comando rígida e formal. A sua composição é, na verdade, multifacetada, englobando indivíduos de diversas patentes militares, desde os escalões inferiores até os mais elevados, bem como integrantes de diferentes esferas políticas na Venezuela. Esses participantes, operando em variados níveis de envolvimento e influência, facilitam o escoamento de drogas e, por conseguinte, obtêm benefícios financeiros significativos de suas atividades ilícitas. Esta descrição sugere uma estrutura horizontalizada e oportunista, em contraposição a um modelo vertical e autoritário.

Mesmo reconhecendo que Maduro possa não figurar como o líder supremo de uma organização estruturada no molde clássico dos cartéis de drogas, as pesquisas apontam para sua inequívoca posição como um dos principais beneficiários de um sistema denominado por McDermott como “governança criminal híbrida”. Este arranjo peculiar foi, em grande parte, edificado e consolidado sob sua administração, resultando em um emaranhado de interdependências onde o tráfico de drogas serve a propósitos de sustentação política. De acordo com a visão do pesquisador, a rede do Cartel de los Soles, em sua complexidade, diverge drasticamente de estruturas icônicas do crime organizado internacional. Diferentemente do Cartel de Sinaloa, encabeçado por Joaquín “El Chapo” Guzmán, ou do Cartel de Medellín, historicamente associado a Pablo Escobar, o modelo venezuelano não se pauta por uma centralização férrea do poder ou por um comando unitário incontestável. Em vez de exercer um controle direto e abrangente sobre as rotas e operações de tráfico, Maduro e outros expoentes do chavismo capitalizam o lucrativo comércio de cocaína através de uma engrenagem mais sutil: a distribuição estratégica de “concessões”. Estas são oferecidas a elementos-chave das Forças Armadas e a aliados políticos, formando um pacto informal que garante a sua lealdade e, por conseguinte, a manutenção do poder no cenário político venezuelano. A expertise de McDermott na matéria é substancial, advindo de 25 anos de vivência e atuação em Medellín, Colômbia, onde se dedicou intensivamente à análise e documentação das intricadas operações dos cartéis de drogas na região.

As Raízes Históricas e a Nomenclatura do “Cartel de los Soles”

Apesar da atribuição recente do termo “Cartel de los Soles” para descrever a intrincada rede de tráfico na Venezuela, é importante ressaltar que a nomenclatura em si não é de autodenominação pelos seus participantes. Ou seja, os envolvidos nessas atividades ilícitas, conforme explicado pelo pesquisador, provavelmente não se identificam sob essa designação em suas comunicações ou auto-representações. O termo foi, na verdade, forjado no contexto da imprensa, marcando sua primeira aparição na mídia em meados de 1993. Sua concepção original visava designar uma facção específica: elementos corruptos integrantes da Guarda Nacional da Venezuela, cujas atividades ilícitas estavam diretamente vinculadas ao tráfico de entorpecentes.

A utilização inicial do nome emergiu em um período de grande turbulência e escrutínio público, precisamente no ano de 1993. Naquele momento, o cenário venezuelano estava sendo abalado por uma série de julgamentos de alta relevância, que envolveram figuras proeminentes das Forças Armadas. Entre os acusados destacavam-se os generais Ramón Guillén Davila e Orlando Hernández Villegas, ambos vinculados à divisão antidrogas, mas suspeitos e subsequentemente formalmente indiciados por possuírem profundas ligações e envolvimento direto com as operações de tráfico. Foi nesse contexto que a imprensa, buscando um rótulo conciso e representativo para essas práticas corruptas inseridas nas instituições estatais, cunhou a expressão. A escolha do nome “Cartel de los Soles” – que se traduz literalmente para “Cartel dos Sóis” – não foi aleatória. Ela se inspira diretamente nas insígnias militares distintivas que adornam os uniformes e representam o status dos generais venezuelanos, remetendo aos elementos solares presentes nas hierarquias de patentes militares. Deste episódio inaugural, o termo consolidou-se no léxico jornalístico e, posteriormente, no vocabulário oficial de órgãos internacionais, tornando-se uma denominação genérica. Desde então, “Cartel de los Soles” tem sido empregado para caracterizar e descrever todas as atividades de tráfico de drogas que se encontram enraizadas e entrelaçadas com as estruturas do Estado venezuelano. Sua legitimidade como terminologia alcançou um novo patamar quando foi adotado e citado expressamente pelo Departamento de Justiça dos EUA em suas acusações formais, inclusive aquelas dirigidas diretamente a Nicolás Maduro. É fundamental notar que as origens e a evolução dessa estrutura e nome precedem em muitos anos a ascensão política de Hugo Chávez ao poder no país, que se deu em 1999.

O Chavismo e a Expansão das Ligações com o Tráfico

De acordo com análises minuciosas realizadas pelo InSight Crime, diversos fatores históricos e políticos convergiram para estabelecer os laços complexos e profundos que hoje existem entre o tráfico de entorpecentes e o movimento político conhecido como chavismo na Venezuela. Essas conexões não surgiram isoladamente, mas foram o resultado de um encadeamento de eventos regionais e internos que moldaram a governança e as práticas ilícitas no país.

Um dos elementos cruciais para a consolidação dessas ligações remonta à Colômbia, país vizinho, e ao destino das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Este grupo guerrilheiro de orientação esquerdista, notoriamente, financiava suas operações em grande parte através do tráfico de drogas. Durante esse período, as FARC tornaram-se o principal alvo de uma intensa e sistemática campanha militar, conduzida pelo então presidente colombiano Álvaro Uribe, que contava com o apoio irrestrito e militarmente substancial dos Estados Unidos. Essa ofensiva gerou uma pressão sem precedentes sobre as operações da guerrilha. Como resultado direto da intensificação das perseguições na Colômbia, as FARC foram impelidas a reconfigurar suas estratégias logísticas, deslocando parte considerável de suas operações ilícitas para além da fronteira, no território venezuelano. A fronteira comum, notoriamente extensa e insuficientemente policiada, revelou-se um vetor facilitador para essa transição, oferecendo um refúgio e rotas alternativas para o escoamento de entorpecentes.

Um segundo fator, igualmente determinante, reside em um evento político crucial na história recente da Venezuela: o golpe de Estado de 2002. Naquele ano, Hugo Chávez, o então presidente e figura central do chavismo, foi brevemente destituído do poder em um movimento que foi prontamente reconhecido por Washington. Contudo, Chávez conseguiu orquestrar seu retorno à presidência em um intervalo de menos de 48 horas, em um episódio que demonstrou a sua resiliência política e a lealdade de setores específicos da sociedade. Após esse evento traumático e desafiador, a estratégia política de Chávez experimentou uma guinada significativa. Em uma tentativa calculada de cimentar sua base de apoio e assegurar a fidelidade militar, o líder venezuelano começou a adotar medidas que elevavam militares a cargos governamentais de considerável influência. Adicionalmente, Chávez proporcionou-lhes acesso privilegiado a oportunidades de contratos lucrativos, concedendo, em muitos casos, uma tolerância estratégica à crescente corrupção militar. Essa política, conforme as análises do centro de pesquisa, pavimentou o caminho para a consolidação de laços mais profundos entre o estamento militar e as operações ilícitas, solidificando o sistema de governança híbrida. Durante todo o período da presidência de Chávez, que se estendeu até a sua morte em 2013, o volume do tráfico de cocaína registrou um aumento perceptível. Simultaneamente, observou-se uma transformação na dinâmica do controle desse comércio: os traficantes colombianos, que outrora dominavam essa esfera, foram gradualmente sendo suplantados e substituídos por autoridades venezuelanas que passaram a colaborar ativamente com grupos rebeldes colombianos, em uma simbiose operacional que amplificou a capacidade e a complexidade da rede de tráfico.

Controvérsia Internacional: Maduro Acusado de Narcoterrorismo em Meio a Desdobramentos Navais Americanos - Imagem do artigo original

Imagem: g1.globo.com

Maduro no Poder e a Solidificação da Governança Criminal

A transição de poder após a morte de Hugo Chávez em 2013, quando Nicolás Maduro ascendeu à presidência, não trouxe uma alteração fundamental na política de tolerância em relação à corrupção militar; ao contrário, essa lógica se perpetuou e até se intensificou em virtude de novas realidades políticas e econômicas. Sem a figura carismática e aglutinadora de Chávez para manter coesa a base de apoio, e enfrentando uma crise econômica avassaladora que se aprofundava dramaticamente, o governo de Maduro e os membros remanescentes do chavismo se viram diante da urgente necessidade de preservar a lealdade das Forças Armadas. Nesse contexto crítico, uma das principais estratégias adotadas foi a continuação e o aprofundamento da política de tolerância para com o envolvimento dos militares em atividades ilícitas, especificamente o tráfico de entorpecentes.

As propinas e os benefícios indiretos oriundos dessas atividades serviram como uma forma vital e complementar de compensação, num período em que os salários formais dos militares – e da população em geral – despencavam em termos de poder de compra, devido à severa depreciação econômica e hiperinflação no país. Diante desse quadro complexo, o sistema que historicamente havia sido denominado Cartel de los Soles, evoluiu para uma configuração ainda mais sofisticada: a de um “sistema de patrocínio criminoso”. Conforme descrito pelo InSight Crime, essa nova faceta envolve o uso estratégico e sistemático da cocaína como um recurso fundamental para subsidiar e, em última instância, assegurar a manutenção do governo de Maduro. Este não é um apoio periférico, mas uma estrutura central na engrenagem de poder.

Segundo os estudos e levantamentos do centro de pesquisa, o governo de Maduro detém e utiliza a capacidade de premiar militares que demonstram lealdade inquestionável ao regime. Esse prêmio se manifesta na forma de designações para atuar em regiões específicas onde as operações de tráfico de drogas se mostram mais profícuas, garantindo, assim, uma fonte de rendimentos ilícitos adicional e substancial. O respaldo oficial ao tráfico se materializa por meio de uma multiplicidade de frentes. Isso inclui, por exemplo, a prestação de proteção para as rotas por onde a droga transita, a eventual utilização de veículos oficiais do Estado para o transporte seguro da cocaína, a cobrança de “pedágios” ilícitos de outras facções criminosas para a passagem de cargas, ou até mesmo o auxílio direto no embarque dos produtos ilícitos em portos e aeroportos estratégicos do país. Todas essas ações delineiam uma conivência estatal profundamente arraigada. O volume total de tráfico de cocaína observou um aumento inegável desde que Nicolás Maduro assumiu a presidência em 2013. No entanto, o que realmente representa a mudança mais significativa, conforme a análise de Jeremy McDermott, foi a arquitetura e a implementação de um sistema de “governança criminal híbrida”. Essa modalidade foi minuciosamente instalada e aprimorada por Maduro com o objetivo primário de se manter no poder. Sob este regime, o tráfico de drogas passou a ser um negócio cada vez mais controlado, regulado e orquestrado a partir do interior das estruturas do próprio governo.

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A Visão “Hollywoodiana” e as Contestações dos Especialistas

Embora as ações e as declarações do governo dos Estados Unidos apresentem uma narrativa que sugere uma clara liderança de Nicolás Maduro no comando do Cartel de los Soles, os estudos aprofundados do centro de pesquisa InSight Crime propõem uma perspectiva contrastante. Segundo o centro, a interpretação americana frequentemente incorre em uma simplificação excessiva, tecendo o que é qualificado como uma “versão de Hollywood” da complexa realidade do crime organizado na Venezuela, onde Maduro é pintado como o grande “chefe do cartel”, de forma direta e inquestionável.

Em 2020, ainda durante o primeiro mandato da administração Trump, os EUA impuseram sanções diretas a Nicolás Maduro, embasadas na alegação explícita de que ele figurava entre os líderes e gestores proeminentes do Cartel de los Soles. O Departamento de Estado americano, ao anunciar as medidas, afirmou categoricamente que os objetivos do Cartel de los Soles transcendiam meramente o enriquecimento de seus membros e a amplificação de seu poder. De acordo com a visão de Washington, o grupo visava deliberadamente “inundar os Estados Unidos com cocaína e infligir os efeitos nocivos e viciantes da droga aos usuários” no território americano, imputando um caráter quase ideológico ou de vingança à sua atuação. Para sublinhar a gravidade dessas acusações, os EUA estabeleceram e subsequentemente reajustaram uma recompensa de impressionantes 50 milhões de dólares (equivalente a aproximadamente 270 milhões de reais na cotação da época) por qualquer informação que pudesse auxiliar na captura e prisão de Maduro, elevando-o à lista de fugitivos mais procurados.

Entretanto, essa interpretação veiculada pelos EUA é veementemente refutada pelo InSight Crime. Os especialistas do centro argumentam que os objetivos primários dos membros do grupo que opera na Venezuela são primordialmente econômicos, e não ideológicos ou políticos. Para corroborar essa tese, a análise do InSight Crime aponta para um dado incontestável: o fluxo de tráfico de entorpecentes a partir da Venezuela tem observado um crescimento considerável, e não apenas com destino aos Estados Unidos, mas também, de forma significativa, para os países da Europa. Esse cenário demonstra que as operações não se restringem a um ataque direcionado ao mercado americano, mas buscam mercados consumidores lucrativos globalmente. Na visão dos pesquisadores, o uso do termo genérico “Cartel de los Soles”, em muitos casos, acaba por mascarar uma realidade mais granular. A verdade é que o eixo formado entre o Estado e o tráfico de drogas na Venezuela é menos uma rede administrada de forma convencional por militares e políticos alinhados ao chavismo – com um comando central explícito – e mais um “sistema que eles regulam” de maneira indireta e estratégica. As evidências colhidas e analisadas sugerem que o controle exercido pelo regime de Maduro sobre esse sistema, em âmbito nacional, não se manifesta por uma intermediação direta nos negócios de cocaína em si. Em vez disso, o controle é alcançado e mantido através de um conjunto de táticas que incluem a alocação e distribuição de concessões, a realização de nomeações para cargos eleitorais estratégicos, e, crucialmente, a garantia de proteção e impunidade para as operações ilícitas. Após declarar o Cartel de los Soles como uma organização terrorista, o governo Trump efetivamente mobilizou um considerável arsenal militar no Mar do Sul do Caribe, estrategicamente posicionado próximo à costa venezuelana. Esta mobilização incluiu navios de guerra de alta tecnologia, equipados com mísseis teleguiados capazes de atingir alvos a centenas de quilômetros de distância. Contudo, há um consenso entre os especialistas, inclusive Jeremy McDermott, que questionam a eficácia e a capacidade intrínseca do aparato militar americano, concebido para guerra convencional, em combater de forma decisiva as intrincadas redes e a natureza difusa do tráfico de drogas.

A conclusão compartilhada pelos estudiosos do tema, incluindo McDermott, é categórica: as ações militares navais não conseguirão deter de forma efetiva a chegada de drogas aos Estados Unidos. Pelo contrário, a intensificação da pressão militar marítima sobre a Venezuela provocará um desdobramento tático das operações ilícitas. Tudo o que a mobilização naval fará, de fato, será dificultar as rotas marítimas específicas que partem da Venezuela, impelindo os traficantes a reorientar seus fluxos de comércio para outros pontos de partida estrategicamente localizados na América do Sul, sem impactar substancialmente o volume global do tráfico.

Com informações de g1.globo.com

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