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Conflito no Amazonas: Homem Morre Após Flechada, Outro Ferido

Um **conflito no Amazonas** , no município de Humaitá, localizado na região sul do estado, resultou na morte de um homem e deixou outro ferido por flechada. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) nesta terça-feira (16). O incidente ocorreu em uma área já historicamente conhecida por tensões […]

Um **conflito no Amazonas** , no município de Humaitá, localizado na região sul do estado, resultou na morte de um homem e deixou outro ferido por flechada. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) nesta terça-feira (16). O incidente ocorreu em uma área já historicamente conhecida por tensões entre diferentes grupos, nas proximidades do quilômetro 45 da BR-230, a Transamazônica, e da BR-319. Até o momento, nenhum indivíduo foi detido em conexão com o ocorrido.

A fatalidade foi registrada na segunda-feira (15) no rio Maici Mirim, um afluente do rio Madeira. Esta região abrange o Território Indígena Pirahã, lar de um povo considerado de recente contato com a sociedade não indígena, que se destaca por manter suas tradições e um modo de vida mais recluso. A investigação sobre a causa exata da morte de José Aílton deve ser concluída em aproximadamente dez dias, após a emissão do laudo pertinente.

Conflito no Amazonas: Homem Morre Após Flechada, Outro Ferido

Em virtude de o acontecimento ter se desenrolado em um território indígena, a Polícia Federal (PF) é a corporação com prerrogativa para conduzir as investigações, conforme apontado pela secretaria. Contatada pela reportagem, a PF não se pronunciou sobre o caso. Em Brasília, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) declarou que está monitorando a situação em conjunto com o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), aguardando novas informações para proceder com as ações cabíveis.

O povo Pirahã, tradicionalmente composto por caçadores e coletores, enfrenta desafios crescentes, incluindo a escassez de alimentos em seu território. Muitos membros dessa etnia, conhecidos por sua língua singular e complexa, têm dificuldade em se comunicar em português. A narrativa de Enedino Florentino da Silva, um agricultor de 42 anos que sobreviveu ao ataque, contrasta com as informações do boletim de ocorrência registrado pela tia dos dois sobreviventes envolvidos no confronto.

De acordo com o registro policial, a residência do agricultor José Ailton Teodoro dos Santos, situada fora do território indígena, teria sido invadida por um grupo de indígenas. Teria havido roubo de itens como comida e roupas. Diante da situação, os quatro homens envolvidos no episódio teriam decidido perseguir os indígenas, utilizando uma embarcação de pequeno porte, na tentativa de reaver o que havia sido subtraído. No percurso, conforme o relato, o grupo foi emboscado e atacado por flechas. O boletim de ocorrência, contudo, não especifica se este segundo ataque ocorreu dentro dos limites do território Pirahã.

Um dos homens, Roney Vieira dos Santos, foi ferido por uma flecha, mas conseguiu fugir e foi encaminhado para atendimento hospitalar. Os outros três envolvidos, diante do ataque, teriam saltado no rio para escapar. Horas depois, o corpo de José Ailton foi localizado nas águas do rio Maici, apresentando sinais de agressão e ferimentos na cabeça, além de sangue.

No entanto, em contato telefônico, o agricultor Enedino Florentino da Silva apresentou uma versão divergente dos fatos. Ele negou que tivessem ido em perseguição aos indígenas. Segundo seu depoimento, ele e seu filho conseguiram se esconder na densa vegetação da floresta enquanto o grupo de aproximadamente dez indígenas, que havia invadido a área, se retirava. Ele afirmou ter testemunhado seu companheiro ser primeiramente atingido por uma flecha e, em seguida, golpeado com um facão pelos indígenas. “Canoa, motosserra, eles levaram tudo. Eu e meu filho nos salvamos. Quando fugi, vi o pirahã chegar perto dele e ainda cortar na cabeça com facão”, relatou Enedino, enfatizando a violência da ação.

Enedino ainda pontuou que, apesar de roubos a comunidades ribeirinhas pelos pirahãs já terem ocorrido em outras ocasiões, a gravidade e a violência do ataque recente são sem precedentes. Ele fez um apelo urgente por maior segurança na região e por ações efetivas por parte da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para garantir a integridade dos moradores e dos próprios indígenas.

Conflito no Amazonas: Homem Morre Após Flechada, Outro Ferido - Imagem do artigo original

Imagem: terra tem incêndio e pistolagem via www1.folha.uol.com.br

Apoliana Jiahui Pirahã, que atua como coordenadora do departamento de mulheres indígenas da Organização dos Povos Indígenas do Alto Madeira (Opiam) e tem ascendência mista (mãe Jiahui, pai Pirahã), alertou sobre a frequência crescente das saídas dos indígenas pirahãs em busca de comida para fora de seu território desde agosto. Ela critica veementemente a abordagem da Frente de Proteção Etnoambiental Madeira-Purus (FPE) em relação ao território do povo Pirahã. “A gente vem avisando: tem que ver o que está acontecendo, não é assim que se trabalha com o povo pirahã”, ressaltou Apoliana, sublinhando a necessidade de uma política de proteção mais atenta e adaptada às particularidades culturais e sociais desses povos.

Uma indigenista que atuou por três anos com os Pirahã e preferiu manter-se anônima, corrobora a natureza pacífica desse povo, afirmando que ataques por parte deles geralmente ocorrem apenas como forma de retaliação. A especialista acredita que a falta de atenção e o cenário de disputas políticas por cargos dentro da Funai e da própria Frente de Proteção acabaram por negligenciar a situação dos Pirahã, que sofrem as consequências diretas da severa escassez de alimentos em sua área.

A indigenista também comentou que muitos pirahãs foram inclusos em programas sociais como o Bolsa Família. No entanto, em decorrência de seu apego aos modos de vida tradicionais e à falta de integração com as estruturas administrativas, a gestão de seus cartões muitas vezes é feita por terceiros, e os alimentos prometidos pelo programa não chegam ao território de forma eficaz, agravando a situação nutricional. Apoliana, da Opiam, compartilha dessas críticas em relação às políticas assistencialistas. “Eu sou contra cesta básica. Arroz e feijão não é alimento para o povo pirahã. O essencial deles é o peixe, a farinha, a carne. Essa época de seca aqui para nós é severa. A escassez de alimentos está crítica dentro do território”, afirmou, defendendo uma compreensão mais aprofundada das necessidades alimentares específicas dos povos indígenas.

Tanto Apoliana quanto a indigenista anônima expressaram grande preocupação com possíveis atos de retaliação por parte dos não indígenas contra os povos nativos. Em aplicativos de mensagens, como o WhatsApp, circulam vídeos do corpo da vítima sendo resgatado do rio, acompanhados de áudios com ameaças de vingança. A tensão se manifestou também em um protesto ocorrido na terça-feira (16), quando moradores da região interditaram por algumas horas a BR-230 em manifestação. A Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES) informou, por meio do Hospital de Humaitá, que Roney Vieira dos Santos passou por cirurgia em função dos ferimentos de flechada e que seu estado de saúde é considerado estável.

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Este grave acontecimento no sul do Amazonas acende um alerta sobre as complexas dinâmicas territoriais e sociais que permeiam a convivência entre indígenas e não indígenas. As investigações continuarão sob responsabilidade das autoridades competentes, enquanto o diálogo e a busca por soluções de segurança alimentar e respeito mútuo são fundamentais para mitigar futuras tensões. Para mais análises sobre a política indigenista brasileira e outras notícias de relevância, explore nossa seção de política.

Homem ferido com uma flecha é socorrido no Amazonas – Reprodução/redes sociais

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