Belém, capital do Pará, tem intensificado seus preparativos para o Círio de Nazaré, um dos eventos mais grandiosos do catolicismo mundial. A poucos dias de seu início oficial, a cidade se transformou, respirando a expectativa pela procissão que, segundo seus organizadores, é reconhecida como a maior festa católica ou mesmo a maior procissão religiosa do planeta, conforme apontado por representantes da Igreja.
A atmosfera festiva já toma conta das ruas da capital paraense. Edificações residenciais, espaços comerciais e prédios corporativos exibem adornos característicos do Círio, com cordas decorando entradas, imagens da padroeira, Nossa Senhora de Nazaré, e a profusão de flores e fitas multicoloridas que preparam o cenário para a chegada da celebração.
Por toda Belém, as conversas giram em torno do Círio. Discutem-se os detalhes do almoço dominical, que promete deliciar os participantes com a rica culinária paraense; o grande fluxo de familiares que se deslocam à capital; e as inúmeras festividades, tanto religiosas quanto sociais, planejadas para o período. Em meio a essa efervescência, a cidade parece deixar em segundo plano a iminente Conferência do Clima da ONU, a COP30, agendada para novembro.
Círio de Nazaré: Belém Mergulha em Fé Católica Antes da COP30
A movimentação esperada para o Círio de Nazaré é monumental, com a Igreja Católica em Belém estimando a participação de cerca de 2 milhões de pessoas ao longo dos dias do evento. Desse total, espera-se que aproximadamente 100 mil sejam turistas, um acréscimo de 10% em relação a 2024. Em contrapartida, a COP30, mesmo sendo um evento internacional de grande porte, registra até o momento 55 mil inscritos, segundo dados atualizados dos governos federal e do Pará, evidenciando a dimensão local do fervor religioso.
Esta celebração católica, que honra Nossa Senhora de Nazaré há 233 anos, possui reconhecimento global como patrimônio cultural da humanidade, título conferido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). A abertura oficial da festa está marcada para esta terça-feira, 7 de outubro, às 18h, com uma missa solene na Basílica Santuário de Nazaré.
A tradição católica remonta ao século XVIII, mais especificamente a 1700, quando, conforme relatos, uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré foi encontrada na área onde hoje se localiza a basílica. O crescente culto e devoção à santa impulsionaram a organização da primeira procissão em sua homenagem no ano de 1793, consolidando a padroeira do estado do Pará.
O Círio de Nazaré é um evento repleto de momentos marcantes. A divulgação do cartaz oficial já foi realizada. A revelação do manto que vestirá a imagem neste ano é um dos próximos pontos altos, programada para a próxima quinta-feira, 9 de outubro. A programação ainda inclui uma romaria fluvial no sábado, 11 de outubro, que reúne entre 200 e 300 embarcações pela Baía do Guajará, e uma romaria de motos no mesmo dia, contando com a participação de cerca de 15 mil motocicletas.
No total, quatorze procissões diferentes compõem o calendário do Círio. Muitos fiéis empreendem longas jornadas, vindo de municípios vizinhos e até de outras localidades, percorrendo quilômetros a pé para se unirem à grande celebração em Belém. A estrutura de apoio aos participantes é vasta: aproximadamente 27 mil pessoas, entre militares das Forças Armadas, servidores dos governos federal, estadual e municipal, além de 3.000 voluntários da “guarda de Nazaré”, trabalham para garantir a segurança e o suporte necessário aos romeiros.
Entre os momentos mais simbólicos e esperados do Círio de Nazaré estão a Trasladação, que acontece na noite de sábado, 11 de outubro. Nesse evento, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré parte da Basílica e é levada até a Catedral de Belém, situada na Cidade Velha. O ponto culminante, no entanto, é o próprio Círio, no domingo, 12 de outubro, a partir das 7h, quando a imagem faz o caminho inverso, retornando à basílica.
É nessas duas procissões — a Trasladação e o Círio — que a icônica corda do Círio de Nazaré ganha protagonismo. Confeccionada com fibra amazônica na cidade de Castanhal, a 70 quilômetros da capital, ela se estende por 400 metros, representando um dos elementos mais visuais e carregados de fé de toda a celebração. No sábado, a corda é posicionada às 14h, e no domingo, nas primeiras horas da madrugada, a partir da 1h30. Devotos ocupam seus lugares com antecedência, buscando cumprir promessas, fazer novos pedidos ou agradecer por graças concedidas, muitas vezes levando consigo um pedaço da corda ao término das procissões.
Dada a intensidade e o grande número de participantes, especialmente em um dos meses mais quentes do verão amazônico, a organização do Círio de Nazaré mantém entre 20 e 30 postos de atendimento médico ao longo do percurso para gerenciar os riscos inerentes a uma multidão tão vasta. Apesar da assistência, dezenas de fiéis chegam a necessitar de cuidados em hospitais durante o evento.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
A influência da COP30 nos custos de hospedagem na capital paraense não parece ter impactado diretamente os valores para o Círio de Nazaré, de acordo com a diretoria do evento católico. O Círio já está profundamente integrado à vida dos paraenses católicos, que se organizam antecipadamente com familiares na cidade. O tradicional almoço, considerado um segundo Natal, com pratos como maniçoba e pato no tucupi, é servido em grande parte das casas no dia principal do Círio.
Para a COP30, por outro lado, onde se estima a presença de mais de 50 mil pessoas de quase 200 nações, persiste uma crise de hospedagem que já se manifesta desde janeiro. Este problema é agravado pela prática de preços exorbitantes para leitos em hotéis e imóveis de temporada. Diante dessa situação, o governo Lula (PT) declarou que entrará com uma ação judicial contra os hotéis devido à cobrança abusiva de preços.
A cúpula de chefes de Estado e de governo da COP30 está programada para os dias 6 e 7 de novembro, em aproximadamente um mês. Em agenda realizada em Belém na sexta-feira, 3 de outubro, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência, enfatizou que o êxito do evento ainda está condicionado à disponibilidade de preços de hotéis mais acessíveis, para garantir a presença de “todos os atores que a gente quer que venham”.
Mesmo que indiretamente, a COP30 fará sua aparição durante o Círio de Nazaré. Organizações como a Repam-Brasil (Rede Eclesial Pan-Amazônica) e a Articulação Igreja Rumo à COP30 planejam distribuir fitinhas, ventarolas e faixas que conectarão a festa católica a pautas ambientais.
O próprio tema deste Círio faz alusão à temática ambiental, conforme explicado pelos organizadores: “Maria, mãe e rainha de toda a criação”. Antônio Luís de Sousa, coordenador do Círio há 21 anos e integrante da diretoria do evento da Arquidiocese de Belém, esclarece que a Igreja buscou, por meio deste tema, “mostrar quem é o autor de toda criação, com o olhar de mãe”.
Em paralelo à extensa programação religiosa do Círio de Nazaré, há também uma série de festas seculares que atraem tanto devotos quanto não devotos. Embora a Igreja não as inclua oficialmente em seu calendário, também não há oposição explícita a elas.
Uma das mais emblemáticas dessas festividades é a Festa da Chiquita, que ocorre logo após a Trasladação, no sábado, na Praça da República. Esse evento, com 49 anos de existência, é um marco para a comunidade LGBTQIAPN+ e, em 2025, já projeta uma conexão com a pauta ambiental e a COP30. Seu tema para o próximo ano será “Chiquita na COP30: exclusão social e os riscos para a população LGBTQIAPN+ na Amazônia”, integrando a agenda de sustentabilidade a um evento tradicional da capital paraense.
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O Círio de Nazaré de 2024 reafirma sua posição como a maior expressão de fé do Pará, transformando Belém em um epicentro de devoção antes mesmo da chegada da COP30. Esta celebração centenária, marcada por uma série de ritos e uma multidão estimada em milhões, demonstra a profunda conexão cultural e espiritual do povo paraense com sua padroeira. Para ficar sempre bem informado sobre os grandes acontecimentos que moldam as capitais brasileiras, continue acompanhando a editoria de Cidades.
Ricardo Stuckert – 12.out.24/Divulgação/PR
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