O CIO da RPS aposta na Argentina enquanto expressa profunda preocupação com a situação econômica do Brasil, alertando para desafios estruturais que, em sua visão, limitam o potencial de crescimento nacional nos próximos anos. Paolo Di Sora, que atua como Chief Investment Officer na RPS Capital, aponta que a sociedade brasileira ainda não alcançou o nível de maturidade necessário para apoiar reformas econômicas verdadeiramente transformadoras. De acordo com o especialista, a percepção popular da urgência por mudanças profundas, como o corte de benefícios e a implementação de reformas fiscais e administrativas para fomentar o desenvolvimento, não é tão acentuada quanto em outras nações.
A experiência argentina serve, nesse sentido, como um contraponto: “O povo brasileiro não sente o aperto no dia a dia como o argentino. Não há percepção de que é preciso cortar benefícios e reformar para crescer. A mudança, se vier, será de cima para baixo, imposta pela elite técnica”, observou Di Sora, sublinhando que qualquer iniciativa reformista no Brasil provavelmente virá de uma pressão técnica e não de uma demanda popular abrangente.
CIO da RPS: Otimismo na Argentina e Críticas ao Modelo Brasileiro
O executivo criticou veementemente a carência de um debate econômico aprofundado e maduro em um horizonte tão importante como as eleições de 2026. Ele especulou, em tom irônico, que um eventual governo de direita que venha a se eleger talvez precise empreender o que ele chamou de um “estelionato eleitoral do bem” para conseguir implementar as reformas urgentes. Para Di Sora, estratégias de ajuste gradual no contexto dos mercados emergentes, incluindo o Brasil, demonstram ser ineficazes. “Ou faz o ajuste de uma vez, ou o mercado ataca. A Argentina tentou o gradualismo no governo Macri e não deu certo”, contextualizou, ressaltando a urgência de medidas mais incisivas.
Em sua análise, o Brasil está experimentando o esgotamento de um ciclo econômico e fiscal. O país, conforme os indicadores, atingiu limites em múltiplos aspectos: a dívida pública, a carga tributária e os gastos governamentais já chegaram aos seus tetos. “Não dá mais para empurrar com a barriga. Alguma coisa vai acontecer nos próximos quatro anos: ou fazemos as reformas, ou entramos numa espiral negativa maior”, alertou Di Sora, delineando um futuro próximo com possibilidades drásticas para a economia nacional caso as reformas necessárias não sejam endereçadas prontamente.
Esta percepção de um modelo esgotado ressalta a importância de um entendimento aprofundado sobre a sustentabilidade da dívida pública brasileira, tema que tem sido constantemente debatido por especialistas e órgãos como o Tesouro Nacional. O acúmulo de compromissos fiscais e a inabilidade de gerar superávits consistentemente geram uma pressão sobre a confiança dos investidores e a capacidade do Estado de financiar serviços essenciais.
Argentina Emerge como Ponto de Destaque para Investidores
Contrastando com o panorama sombrio pintado para o Brasil, Paolo Di Sora mantém um notável otimismo em relação à Argentina. Em uma entrevista ao renomado programa Stock Pickers, conduzido por Lucas Collazo, o CIO da RPS Capital enumerou os motivos para sua perspectiva favorável: “O preço está bom, o povo sancionou o projeto, o time de execução é ótimo. Parece o Plano Real da Argentina, só que turbinado”, comparou, destacando a conjuntura favorável para o país vizinho. A aprovação de projetos por parte da população e a qualidade da equipe de gestão são elementos-chave que, segundo ele, podem catalisar a recuperação econômica. O apoio recebido do Congresso argentino tende a ser um fator decisivo para acelerar as reformas propostas e, assim, consolidar este novo e promissor ciclo econômico.
O entusiasmo da RPS Capital pela Argentina não se restringe às palavras. A gestora tem materializado esse otimismo em seus produtos de investimento. O fundo RPS Long Bias Argentina, por exemplo, agora é oferecido na plataforma da XP Investimentos, um dos maiores ecossistemas financeiros do Brasil, o que expande consideravelmente o acesso para os investidores. Di Sora celebrou a novidade, explicando que “antes era preciso falar com assessores, agora está liberado para investir.” Essa democratização do acesso a fundos com alta exposição à Argentina tem gerado resultados impressionantes: “Nosso fundo principal virou o de melhor performance em 12, 24 e 36 meses, muito por causa da Argentina”, comemorou o executivo, evidenciando o acerto da estratégia de investimento da RPS Capital no cenário sul-americano.

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Cenário Brasil 2026: Incômodo e Volatilidade
Para o ano de 2026 e os períodos adjacentes, Di Sora antecipa um ambiente repleto de desafios para os gestores de recursos que atuam especificamente no mercado brasileiro. A incerteza política que tipicamente precede ciclos eleitorais e as variações na taxa básica de juros (ciclo de juros) prometem gerar grande volatilidade. “Vai ser muito difícil ser gestor no Brasil nos próximos 12 meses. A eleição vai fazer muito preço e o bom pode ser ruim – porque alimenta o governo – e o ruim pode ser bom”, analisou, pintando um cenário complexo onde as reações do mercado podem ser contraintuitivas e a interpretação dos resultados políticos demandará uma análise aprofundada.
Diante desse cenário volátil e desafiador para o mercado doméstico, a RPS Capital tem implementado uma estratégia de aumento de sua exposição à Argentina. Este movimento é uma aposta clara na maior estabilidade e nos resultados que o país vizinho tem apresentado, em contraste com a imprevisibilidade brasileira. “Talvez seja a parte mais tranquila da minha vida nos próximos meses. Lá, a eleição já passou, o projeto está em execução e o investidor de longo prazo começa a olhar o país com outros olhos”, explicou Di Sora, justificando a migração estratégica de capital para o mercado argentino.
Apesar da confiança robusta na trajetória da Argentina, o CIO da RPS faz uma ressalva bem-humorada sobre a inerente volatilidade do país. “É a Argentina, nunca esqueça, é a Argentina”, ele alerta, sublinhando que, mesmo com as perspectivas promissoras, os investidores devem manter-se vigilantes em relação às particularidades históricas e econômicas do país vizinho, que sempre reservam um certo grau de imprevisibilidade.
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Em suma, a visão de Paolo Di Sora, CIO da RPS Capital, apresenta um contraponto nítido entre a aposta ousada e promissora na Argentina e o ceticismo em relação à capacidade do Brasil de realizar reformas essenciais. Enquanto o país vizinho parece iniciar um novo ciclo econômico robusto, o Brasil enfrenta um modelo fiscal esgotado e uma falta de consenso para as mudanças necessárias. Acompanhe nossas Análises para continuar por dentro dos cenários econômicos e financeiros mais relevantes para seus investimentos.
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