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China: Rede Avançada Alimenta Carros Elétricos e Trens Rápidos

A rede de energia chinesa de ultratensão, a mais extensa do mundo, é fundamental para o abastecimento de veículos elétricos e trens de alta velocidade no país. Essa infraestrutura colossal, com mais de 3.200 quilômetros de extensão, similar à distância entre Idaho e Nova York nos EUA, inicia seu percurso em regiões desérticas no noroeste […]

A rede de energia chinesa de ultratensão, a mais extensa do mundo, é fundamental para o abastecimento de veículos elétricos e trens de alta velocidade no país. Essa infraestrutura colossal, com mais de 3.200 quilômetros de extensão, similar à distância entre Idaho e Nova York nos EUA, inicia seu percurso em regiões desérticas no noroeste chinês. Nesses locais remotos, vastas instalações de painéis solares e turbinas eólicas produzem eletricidade em uma escala monumental.

O fluxo energético gerado no noroeste segue em direção ao sudeste, acompanhando antigos leitos fluviais e cadeias montanhosas, até alcançar províncias populosas como Anhui, nas proximidades de Xangai. A região de Anhui, que abriga 61 milhões de pessoas, é um polo industrial crucial para fabricantes chineses de carros elétricos e robôs, que demandam uma quantidade crescente de energia para suas operações e para abastecer os produtos finais que movem a população. Essa linha é apenas uma das 42 existentes, cada uma com capacidade superior à de qualquer linha de transmissão dos EUA, graças à tecnologia avançada utilizada pela China.

China: Rede Avançada Alimenta Carros Elétricos e Trens Rápidos

Essa capacidade tecnológica deve-se, em grande parte, às ambiciosas diretrizes energéticas nacionais e à agilidade governamental, que minimiza objeções públicas à instalação dessas estruturas. Moradores próximos a essas linhas relatam a percepção de eletricidade estática ao manusear objetos metálicos. Apesar disso, um técnico de ar-condicionado local, Shu Jie, afirmou a tranquilidade de atividades cotidianas, como a pesca, desde que sejam evitados contatos diretos com os fios.

O acelerado desenvolvimento chinês em tecnologias de energia limpa superou até mesmo as projeções governamentais. A nação apresenta uma demanda energética insaciável, impulsionada por uma rápida transição. Metade dos veículos recém-adquiridos no país são elétricos, e sua vasta rede de 48.000 quilômetros de ferrovias de alta velocidade opera inteiramente com energia elétrica. Em abril, a combinação de fontes eólica e solar foi responsável por mais de 25% do consumo de energia da China, um patamar que poucos países atingiram.

Descentralização Energética e a Expansão da Rede

Apesar do impressionante avanço, a produção de energia limpa na China se concentra nas regiões oeste e norte do país, caracterizadas por altos índices de insolação e vento. Essa localização geográfica distante dos principais centros populacionais e fabris no leste, onde reside mais de 90% dos 1,4 bilhão de habitantes do país, representa um desafio logístico. No leste, a menor incidência de dias ensolarados, noites sem vento e rios menos caudalosos limita o potencial de geração de energias renováveis. Para superar essa disparidade, a China tem investido massivamente na modernização de sua rede elétrica, transportando energia de onde é abundante para onde é mais necessária.

Planejadores em Pequim, que inicialmente subestimaram a rápida adoção de energia solar e eólica, estão agora à frente da construção da primeira rede nacional de linhas de transmissão de ultratensão. Esta estratégia diverge significativamente da postura de outras nações, como os Estados Unidos. Enquanto o presidente Donald Trump enfatizou os combustíveis fósseis, revertendo programas de incentivo à energia limpa, e projetos como a linha Grain Belt Express (1.300 km) enfrentam burocracia e resistência local por anos, a China constrói dezenas de linhas de ultratensão mais longas e eficientes em tempo recorde.

Inovação Tecnológica e Redução de Perdas

A superioridade tecnológica da China reside em suas linhas de ultratensão, que frequentemente utilizam corrente contínua (UHVDC). Essa abordagem permite o transporte de eletricidade por distâncias muito maiores com perdas mínimas de transmissão, um problema recorrente em linhas de alta potência que utilizam tecnologia mais convencional em outros países. Essa eficiência energética possui amplas implicações na corrida global contra as mudanças climáticas.

Ao maximizar a capacidade de mover energia limpa por todo o território, as novas linhas são essenciais para reduzir o consumo de carvão, do qual a China é o maior usuário mundial, emitindo mais gases de efeito estufa do que os Estados Unidos e a União Europeia somados. A rede avançada ajuda a resolver a questão do excesso de geração de energia renovável nas regiões ocidentais do país, onde o potencial solar, eólico e hidrelétrico supera a demanda local.

Metas Ambiciosas Superadas e Seus Reflexos

Em 2020, o líder chinês Xi Jinping estabeleceu a meta de triplicar a capacidade de geração de energia eólica e solar até 2030. Notavelmente, a China alcançou esse objetivo no ano anterior, com seis anos de antecedência. No entanto, a agilidade do desenvolvimento superou as expectativas da própria State Grid, a estatal de transmissão de eletricidade. David Fishman, consultor de energia em Xangai, comentou que a State Grid, embora competente na construção, não estava preparada para tal adiantamento.

Em certos meses, até 10% da capacidade eólica e solar do país permaneceu inexplorada, parcialmente devido à incapacidade da rede de distribuir toda a energia gerada. Du Zhongming, diretor de eletricidade da Administração Nacional de Energia da China, enfatizou no ano passado a necessidade de acelerar a construção de projetos de rede elétrica para acompanhar e absorver a nova capacidade de energia renovável. O país, que já consome o dobro de eletricidade dos Estados Unidos, planeja triplicar o número de suas rotas de ultratensão até 2050.

Escala da Rede Chinesa em Perspectiva Global

Os dados públicos mais recentes, de fim de 2024, indicam a existência de 19 linhas transmitindo energia a 800 quilovolts (kV) e outras 22 operando a 1.000 kV. Uma dessas gigantes, a linha que culmina em Guquan, é capaz de transmitir eletricidade a 1.100 kV, suficiente para abastecer mais de 7 milhões de lares americanos ou entre 40 a 50 milhões de residências chinesas.

China: Rede Avançada Alimenta Carros Elétricos e Trens Rápidos - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

Para contextualizar a escala dessa expansão, os Estados Unidos possuem um número limitado de linhas de 765 kV e algumas operando a 500 kV ou menos, segundo o Instituto de Pesquisa de Energia Elétrica. O total de linhas americanas de 765 kV soma aproximadamente 3.200 quilômetros, equivalente ao comprimento de uma única linha chinesa. A antiga União Soviética construiu uma linha na Ásia Central projetada para 1.150 kV, mas operava com equipamentos de menor potência e não atingiu plena capacidade por décadas.

Fatores de Impulso e Vulnerabilidades

O desenvolvimento das linhas de ultratensão na China foi impulsionado significativamente durante a crise financeira global de 2009, quando o governo central autorizou grandes investimentos para criar empregos e mitigar a desaceleração econômica, concomitantemente com planos ambiciosos para veículos elétricos e trens de alta velocidade. O desastre nuclear de Fukushima, em março de 2011, que levou ao adiamento de projetos nucleares chineses próximos a centros urbanos, reforçou a aposta em linhas de transmissão provenientes de áreas remotas.

Essa expansão tem contribuído para a notável redução de poluição atmosférica e emissões de gases de efeito estufa. Uma pesquisa da Universidade de Chicago, divulgada em agosto, apontou uma queda de 41% na poluição do ar na China desde 2014, o que resultou em um aumento médio de quase dois anos na expectativa de vida. Pequim, que já foi notória por sua poluição, praticamente cessou a queima de carvão para eletricidade em 2020, dependendo agora, em parte, da energia eólica transportada de centenas de quilômetros.

No entanto, a rede de ultratensão, ao limitar a dependência de petróleo e gás natural importados, também introduz novas vulnerabilidades. Muitas das linhas são construídas em regiões montanhosas no noroeste, como afluentes do Rio Amarelo entre Dunhuang e Lanzhou, em Gansu, que são propensas a inundações e terremotos. Isso resulta em um agrupamento de linhas em áreas geograficamente vulneráveis.

Enquanto outros países debatem há décadas sobre a construção de linhas similares às da China, a relutância da população em aceitar infraestruturas de alta potência tem sido um obstáculo significativo. A China consegue avançar rapidamente devido ao seu planejamento industrial centralizado, controle estatal sobre informações e uma abordagem de cima para baixo que inibe a dissidência pública.

Ainda assim, alguns moradores da província de Anhui, que residem próximos à linha de ultratensão mais longa, expressaram suas ressalvas. Xu Shicai, gerente de fazenda em Xuchong, uma vila onde as linhas passam a menos de 30 metros das residências, relatou preocupações com a eletricidade estática. Ele descreveu sensações de dormência ao manusear objetos metálicos e o aparecimento de faíscas em guarda-chuvas durante chuvas, mesmo havendo placas de “proibido pescar” com alertas visuais chocantes nas proximidades.

Apesar de aceitar o projeto como uma iniciativa nacional importante, Xu manifestou receio de que as linhas possam afastar visitantes. Embora acostumado à presença delas, ele e outros residentes esperam que não sejam construídas mais linhas na área, evidenciando uma aceitação condicionada pela relevância nacional do projeto.

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Em suma, a notável expansão da rede de ultratensão da China representa um avanço tecnológico e estratégico para o país, impulsionando sua frota de carros elétricos e trens de alta velocidade e contribuindo para metas ambientais globais. Contudo, essa infraestrutura monumental traz consigo desafios de adaptação, tanto em termos de integração de energia renovável quanto no gerenciamento do impacto junto às comunidades. Para aprofundar-se nos desdobramentos econômicos e tecnológicos de inovações globais, explore outros conteúdos na nossa seção de Análises.

Crédito da imagem: Nelson de Sá/Folhapress

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