Estudos recentes revelam que Chimpanzés Consomem Álcool de forma habitual, resultado da ingestão de frutas fermentadas presentes em suas dietas selvagens. Embora os primatas não tenham consciência de estarem consumindo etanol, essa prática faz parte de seu cotidiano e pode oferecer insights cruciais sobre as raízes evolutivas do comportamento humano em relação ao álcool.
A pesquisa, publicada na renomada revista Science Advances, demonstrou que a quantidade de álcool consumida por esses animais é substancial, atingindo o equivalente a 1,4 doses alcoólicas padrão por dia, ou o volume de uma lata de cerveja de 350ml. Essa descoberta amplia a compreensão sobre a relação entre primatas e substâncias psicoativas, desafiando concepções prévias sobre a exclusividade do consumo de álcool pelos seres humanos.
Chimpanzés Consomem Álcool Diariamente via Frutas Fermentadas
Conduzida por um consórcio internacional de cientistas e liderada pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, Estados Unidos, a investigação envolveu chimpanzés selvagens localizados em Uganda e na Costa do Marfim. O objetivo primário era quantificar o teor de etanol nas frutas consumidas pelos primatas e correlacionar esse dado com a ingestão diária dos animais.
A Ingestão Diária de Etanol pelos Primatas
Os dados coletados apontam que chimpanzés de ambos os sexos ingerem aproximadamente 14 gramas de etanol puro a cada dia. Essa quantia é comparável a uma “bebida alcoólica padrão” conforme definições nos EUA, correspondendo a uma lata de cerveja comum. Entretanto, a relevância desse consumo é magnificada ao considerar as diferenças de peso corporal. Conforme explica Aleksey Maro, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade da Califórnia, um chimpanzé pesa em média cerca de 40 quilos, enquanto um ser humano adulto pesa aproximadamente 70 quilos. Isso implica que a dose final de álcool tem um impacto comparativamente maior nos primatas do que pareceria à primeira vista, representando, na prática, mais do que uma bebida por dia em termos de proporção peso/ingestão.
Embora os cientistas ainda não tenham certeza se os animais procuram ativamente as frutas com maior teor de etanol – substância mais abundante em frutas supermaduras e com alto índice de açúcar fermentável –, o fato é que o álcool se configura como um componente regular em sua dieta. Essa evidência sugere que tal consumo possivelmente já integrava o regime alimentar dos ancestrais humanos mais remotos, conforme hipóteses dos pesquisadores.
Metodologia e Descobertas no Campo
Os pesquisadores defendem que a análise do comportamento de primatas na natureza em relação ao etanol pode elucidar a persistente atração humana pelo álcool. Para tal, a equipe se dedicou a mensurar o álcool ingerido pelos chimpanzés via alimentação, quantificando as concentrações de etanol em 21 tipos de frutas coletadas. As amostras foram obtidas em duas regiões distintas: na floresta de Ngogo, em Uganda, entre os anos de 2017 e 2018, e no Parque Nacional de Taï, na Costa do Marfim, durante o ano de 2021.
As análises laboratoriais das amostras de frutas revelaram que, em média, elas continham 0,32% de etanol nas colheitas de Uganda e 0,31% nas da Costa do Marfim. No contexto ugandense, a fruta mais frequentemente consumida e com maior teor alcoólico foi o figo. Já na Costa do Marfim, o destaque foi para uma fruta com características semelhantes à ameixa. Levando em conta que um chimpanzé pode consumir cerca de 4,5 quilos de frutas diariamente, os cálculos apontam para a ingestão equivalente a 1,4 bebidas por dia. Robert Dudley, professor da Universidade da Califórnia e coautor da pesquisa, pontua: “Os chimpanzés ingerem entre 5% e 10% de seu peso corporal por dia em frutas maduras. Mesmo com baixas concentrações, as frutas produzem uma dose considerável de álcool, resultando em um total diário elevado.” Para mais detalhes sobre o processo de pesquisa e resultados, acesse a revista Science Advances, onde o estudo original foi publicado.
Ausência de Intoxicação e a Hipótese do “Macaco Bêbado”
Apesar da regularidade na ingestão de etanol, os chimpanzés observados não apresentavam sinais de intoxicação. Isso se deve ao padrão de consumo disperso ao longo do dia, o que evita picos de álcool no organismo. Os autores do estudo afirmam que, para atingirem um estado de embriaguez, os animais teriam que consumir uma quantidade tão vasta de frutas que seus estômagos não comportariam, limitando assim a absorção do etanol.
Para os pesquisadores, o consumo natural de etanol por esses primatas reforça a “hipótese do macaco bêbado”, formulada por Robert Dudley em 2016. Essa teoria postula que a inclinação dos seres humanos pelo álcool pode ter sua origem em comportamentos observados nos primeiros hominídeos. Segundo Dudley, os animais são atraídos pelo etanol porque seu odor os ajuda a identificar alimentos com alto teor de açúcar, o que se traduz em um retorno energético superior ao longo do tempo. Além disso, a presença de álcool pode amplificar o prazer da alimentação, de forma análoga à experiência de beber vinho durante uma refeição. Há também a possibilidade de que o compartilhamento de frutas com etanol fortaleça laços sociais entre os primatas ou outras espécies animais.
Implicações para a Evolução Humana
O estudo é categórico ao demonstrar que os chimpanzés exibem um consumo crônico de etanol. Esse comportamento, segundo Dudley, pode ser extrapolado para os ancestrais comuns de humanos e chimpanzés, que provavelmente também estavam expostos diariamente ao álcool resultante da fermentação natural de frutas. Aleksey Maro conclui, com base nas evidências: “Os chimpanzés consomem uma quantidade de álcool similar à que nós consumiríamos se comêssemos alimentos fermentados diariamente. A atração humana pelo álcool provavelmente surgiu dessa herança alimentar de nosso ancestral comum com os chimpanzés.”
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Em suma, a pesquisa não apenas comprova que Chimpanzés Consomem Álcool de forma contínua em seus habitats, mas também oferece um prisma evolucionário fundamental para entender a relação complexa entre humanos e etanol. Essas descobertas reescrevem partes de nossa história biológica e cultural, sublinhando a importância de observar a natureza para desvendar mistérios sobre a nossa própria espécie. Continue explorando as últimas novidades e análises aprofundadas em nossa editoria de Análises.
Crédito da imagem: gb (DW, Efe, Science Advances, National Geographic)
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