James Continenza, o CEO da Kodak que assumiu a missão de restaurar uma das marcas mais emblemáticas da fotografia, tem sido o arquiteto por trás dos esforços de recuperação da companhia desde 2013, ano em que a empresa emergiu de um processo de falência. Aos 63 anos, o executivo enfrenta o desafio de revitalizar uma empresa que perdeu significativamente sua posição no mercado devido ao avanço e popularização das câmeras digitais e, mais recentemente, dos smartphones.
Continenza, de ascendência ítalo-americana, provém de origens humildes, sendo filho de uma costureira e um zelador. Sua abordagem à gestão se destaca pelo contato direto com as operações: ele frequentemente visita as unidades da Eastman Kodak, que atualmente contam com aproximadamente 4 mil colaboradores, conforme divulgado pelo jornal britânico Financial Times. Em suas interações, o executivo percebe que, ao percorrer as fábricas, encontra “gente da classe trabalhadora, feliz em te ver e conversar com você”. Tal proximidade é, para ele, um contraste marcante em relação a grandes corporações onde muitos funcionários “passam 30 ou 40 anos sem nunca conhecer o CEO”, uma realidade que ele considera “inacreditável”.
CEO Kodak James Continenza busca reerguer gigante da fotografia
A trajetória profissional de Continenza é marcada por uma especialização notável em processos de turnaround, que consistem em reestruturar e reerguer negócios em situação de crise. Antes de chegar à Kodak, ele acumulou vasta experiência na recuperação de companhias em diversos setores, incluindo empresas de telecomunicações como a AT&T e a Lucent. Em 2013, ele foi convidado pelos credores a integrar o conselho de administração da Kodak. Posteriormente, em 2019, assumiu a presidência executiva do conselho, e, em julho de 2020, foi oficialmente nomeado CEO da Kodak. Desde sua chegada à liderança executiva, Continenza priorizou as visitas a clientes, fornecedores e unidades de produção em detrimento da permanência em um escritório.
Em relato ao Financial Times, o executivo detalhou as barreiras enfrentadas ao assumir o comando da Kodak. Ele descreveu um cenário de burocracia excessiva e lentidão nas tomadas de decisão, onde “levava dias para marcar uma reunião” com seus próprios diretores e “semanas para que cada divisão apresentasse informações básicas, como quem eram seus principais clientes”. Ele metaforicamente comparou a situação a “dirigir um carro vendado”. Em resposta a esses desafios, a gestão de Continenza focou na simplificação. Ele implementou uma redução na hierarquia e centralizou as decisões em um grupo executivo mais restrito. “Simplificamos tudo. Cada área foca no que faz melhor”, compartilhou com a publicação britânica, demonstrando uma estratégia clara para aumentar a agilidade e eficiência.
Um dos momentos mais impactantes da gestão do atual CEO da Kodak foi uma visita ao Museu George Eastman, localizado em Rochester, no estado de Nova York, mesma cidade onde se situa a sede da companhia. Lá, ele observou inúmeras câmeras inovadoras que foram desenvolvidas pela Kodak, mas que, paradoxalmente, nunca alcançaram sucesso comercial. Continenza refletiu sobre essa realidade: “Gastamos milhões nesses projetos e tivemos pouco retorno. Eu preferia ter investido esse dinheiro nos funcionários e acionistas”, sublinhou ao Financial Times, evidenciando uma visão pragmática e focada em resultados e bem-estar corporativo.
A notável trajetória da Kodak teve seu início em 1879, quando George Eastman registrou a patente de sua primeira máquina de revestimento de chapas fotográficas. Em 1888, a empresa lançou sua primeira câmera no mercado pelo valor de US$ 25 (o equivalente a R$ 134,23 na cotação da época), acompanhada do memorável slogan “Você aperta o botão, nós fazemos o resto”. Ao longo do século XX, a Kodak solidificou-se como líder mundial no mercado de filmes e câmeras, tornando-se sinônimo da era da fotografia analógica e um verdadeiro símbolo cultural. Contudo, ironicamente, a gênese de seu declínio veio de uma tecnologia criada em seus próprios laboratórios: a fotografia digital, em 1975. A empresa demonstrou hesitação em adotar esse novo modelo de negócio, resultando na rápida perda de seu domínio de mercado. Na década de 1990, as vendas sofreram uma queda abrupta, culminando no pedido de falência da companhia em 2012, com dívidas que se aproximavam de US$ 6,75 bilhões (equivalente a R$ 36 bilhões).

Imagem: g1.globo.com
A partir de 2020, sob a gestão de James Continenza, a Kodak iniciou um processo de diversificação estratégica. A empresa expandiu suas operações para a produção de insumos farmacêuticos, atendendo a um pedido do governo dos Estados Unidos, demonstrando sua capacidade de adaptação. Além disso, mantém a fabricação de filmes para a indústria cinematográfica, produtos químicos industriais e concede o licenciamento de sua renomada marca para uma vasta gama de itens de consumo. No entanto, os desafios financeiros persistem; em junho, a Kodak comunicou a insuficiência de recursos para saldar aproximadamente US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,7 bilhões) em dívidas, um fator que, conforme o relatório financeiro da empresa, “levanta dúvidas sobre sua capacidade de manter as operações no longo prazo”. No segundo trimestre deste ano, a companhia registrou um prejuízo de US$ 26 milhões e uma ligeira queda de 1% na receita em comparação com 2024.
Para mitigar custos e reestabelecer a estabilidade das finanças, a Kodak encerrou seu antigo e superfinanciado plano de previdência privada, instituindo um novo modelo para seus atuais colaboradores. Parte dos recursos liberados por essa reestruturação será direcionada para a quitação de dívidas. O Financial Times reportou que Continenza almeja finalizar esse complexo processo de reversão da previdência até o próximo ano e assegura a existência de alternativas de financiamento caso o cronograma sofra atrasos. Ele estima que a execução completa da estratégia de recuperação levará aproximadamente mais dois anos.
Atualmente, a empresa está concentrando seus investimentos em três áreas estratégicas principais: impressão comercial, o desenvolvimento de materiais e produtos químicos avançados – que incluem revestimentos para baterias e antenas – e o setor farmacêutico, com a produção de reagentes que foram aprovados pela agência reguladora americana FDA, equivalente à Anvisa no Brasil. Simultaneamente, a Kodak continua a produção de filmes analógicos, um segmento que tem observado um ressurgimento de interesse entre fotógrafos e cineastas, e segue expandindo o licenciamento de sua marca para uma variedade de outros produtos. Continenza avalia que cerca de 90% do plano de reestruturação da companhia já foi concluído. Uma vez que o trabalho esteja finalizado, ele expressou sua intenção de se afastar: “Quando terminar, vou sair”, disse ao jornal britânico. “Aí será a hora de outra pessoa assumir e levar a Kodak para o próximo capítulo”.
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A história da Kodak, desde seu apogeu até a busca atual por uma nova identidade no mercado, é um testemunho da complexidade das transformações empresariais. Sob a liderança de James Continenza, a empresa persiste em seus esforços para solidificar sua posição, mesclando inovações e a revitalização de segmentos tradicionais. Para continuar acompanhando os desdobramentos na economia e no mercado de empresas centenárias, Financial Times é uma fonte essencial. E para mais análises aprofundadas sobre o mundo dos negócios e tendências de mercado, acesse nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: Divulgação/Kodak


