O cenário literário brasileiro e mundial se agita com anúncios importantes e profundas reflexões sobre a escrita. Dentre as **novidades literárias** da semana, o Prêmio São Paulo de Literatura destaca-se pela forte presença feminina entre os finalistas. Outro ponto relevante é o encerramento do popular clube do livro do influenciador digital Felipe Neto, que gerou debate e insatisfação entre seus assinantes. Além disso, a renomada escritora Zadie Smith, aos 49 anos, compartilha uma nova perspectiva sobre a relação entre autor e obra.
A edição desta quarta-feira, dia 24, da newsletter “Tudo a Ler” reuniu esses e outros acontecimentos que moldam a dinâmica editorial atual. De novos lançamentos a discussões sobre o impacto social da literatura e os bastidores da política sob uma ótica literária, o panorama revela uma área em constante ebulição e transformação, abordando temas desde o papel das mulheres na cultura até as complexidades políticas do país, com figuras como Marilena Chaui e Fernando Morais.
Cenário Literário: Mulheres Brilham no Prêmio SP e Mais Notícias
Zadie Smith, autora best-seller que alcançou reconhecimento precoce aos 24 anos, manifesta agora uma visão amadurecida sobre o ato de escrever. Aos 49, a escritora britânica compartilha uma perspectiva de veterana, priorizando as relações humanas sobre a produção literária. Em declaração ao editor Walter Porto, Smith revelou: “Quando você é jovem, faria de tudo, tomaria qualquer coisa, machucaria qualquer um. Mas agora não há nenhum livro que eu queira escrever que seja mais importante que a minha relação com outros seres humanos.” Essa mudança de postura a leva a questionar sua prosa anterior, que hoje ela classifica como potencialmente destrutiva, visto que as pessoas podem se sentir simplificadas em suas obras. “Sem ofensa, mas eu não suporto a versão de mim que aparece nos artigos de jornal”, complementou, elucidando o impacto que a representação na mídia pode ter.
A autora enfatizou que, embora a intenção não seja maliciosa, escritores frequentemente “roubam” da vida e das experiências de terceiros. “Alguns roubam mal, outros como Charles Dickens roubavam bem, mas é isso que autores fazem”, afirmou Smith. Seu mais recente trabalho, “A Fraude” (Companhia das Letras, R$ 129,90, 576 págs.), traduzido por Camila von Holdefer, é um romance histórico ambientado na Inglaterra vitoriana. A narrativa explora a história de um indivíduo que falsamente reivindica um título de nobreza desaparecido, angariando um considerável número de seguidores apesar da falta de evidências. Com uma carreira consolidada, incluindo seis romances, duas coletâneas de contos e três livros de ensaios instigantes, Smith agora aspira a uma existência mais tranquila e serena, refletindo uma busca por paz em detrimento da intensidade de sua juventude literária.
Lançamentos Marcantes na Semana Literária
Nesta semana, a seleção “Tudo a Ler” apresenta três importantes lançamentos editoriais que prometem cativar o público leitor. “Morrendo de Rir” (Arquipélago Editorial, R$ 69,90, 184 págs.), da aclamada escritora Elvira Vigna, falecida em 2017, compila crônicas de um humor ácido e instigante. Alvaro Costa e Silva, crítico literário, as descreve como “pequenos ensaios e experimentos” com um “tom urgente e asfixiante”, predominantemente escritos em primeira pessoa, desafiando categorizações convencionais. São textos que oferecem um vislumbre único da visão da autora.
“Depois do Trovão” (Companhia das Letras, R$ 79,90, 232 págs.), obra de Micheliny Verunschk, utiliza a linguagem como ferramenta potente na contestação da história oficial. A crítica Giovanna Dealtry caracteriza o livro como um “romance-vingança” fiel a acontecimentos históricos, entrelaçando fatos e ficção. A trama se desenrola tendo a Guerra dos Bárbaros nos séculos 17 e 18 como pano de fundo, narrando a saga de Auati, fruto da união entre uma mulher indígena e um frei jesuíta. A obra é um profundo mergulho na história e suas cicatrizes.
Por fim, “Aproveitar a Vida e Suas Dores” (Paidós, R$ 58,90, 208 págs.), organizada por Max Calligaris, filho único do psicanalista, preenche a lacuna deixada pela ausência das colunas de Contardo Calligaris na Folha após sua morte. A coletânea reúne textos nos quais o renomado psicanalista discorre sobre a vida e a morte, o prazer e a dor, com a lucidez e sensibilidade que o tornaram uma voz tão singular no jornalismo brasileiro. São crônicas que convidam à reflexão profunda sobre a condição humana e seus contrastes inerentes.
Reflexões Políticas e Biografias em Destaque
Doze anos após gerar controvérsia por suas declarações sobre a classe média, a filósofa Marilena Chaui reafirma suas posições em entrevista à repórter especial Fernanda Mena. Em sua análise pessimista sobre o Brasil contemporâneo, Chaui identifica um cenário de fortalecimento da extrema direita e uma esquerda desorientada e segmentada por movimentos identitários. A respeito da possibilidade de prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, a professora emérita da FFLCH-USP adota uma postura de espera, antecipando uma reorganização da extrema direita.
O jornalista Eduardo Scolese apresenta “1.461 Dias na Trincheira” (Autêntica, R$ 79,80, 256 págs.), um relato dos bastidores de seu período como chefe da editoria de Política da Folha, iniciado em 2018. A obra narra a cobertura de eventos sem precedentes, incluindo um presidente com tendências golpistas e uma pandemia que vitimou mais de 700 mil brasileiros, oferecendo um testemunho pessoal sobre os desafios do jornalismo político em tempos turbulentos.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Fernando Morais, biógrafo do ex-presidente Lula, anunciou que as continuações de sua obra biográfica, a segunda e a terceira partes, terão seus lançamentos a partir de 2026. Em conversa com o jornalista Amilton Pinheiro, Morais explicou que aguarda a liberação de registros que o governo americano mantém sobre o presidente, totalizando 916 documentos provenientes da CIA, FBI e NSA, indicando um profundo trabalho de pesquisa por vir.
Prêmios e Festivais Literários Agitam o Cenário Cultural
A cena literária e editorial foi movimentada pelos anúncios dos prêmios Jabuti e São Paulo de Literatura, referentes às suas edições de 2025. O Prêmio Jabuti revelou seus semifinalistas, com dez obras concorrendo em cada uma das 23 categorias. A cerimônia de premiação está programada para 27 de outubro e ocorrerá no Rio de Janeiro, uma celebração que reconhece o título da cidade como Capital Mundial do Livro pela Unesco. Esse reconhecimento mundial confere um prestígio especial ao evento literário e à cidade que o sedia, conforme destacado pela organização do prêmio. A relevância do título de Capital Mundial do Livro, concedido anualmente pela UNESCO a uma cidade com programa focado em livro e leitura, pode ser conferida no site oficial da organização: UNESCO.
Já o Prêmio São Paulo de Literatura anunciou seus finalistas nesta terça-feira, com um dado significativo: entre os 20 indicados, 13 são mulheres. Na categoria de melhor romance, a representatividade feminina é ainda maior, com oito das dez vagas ocupadas por escritoras de renome, incluindo nomes como Beatriz Bracher, Ana Kiffer e Mariana Salomão Carrara. Este cenário demonstra um crescente reconhecimento da contribuição feminina para a literatura brasileira contemporânea.
A Flup, Festa Literária das Periferias, confirma novamente sua projeção internacional ao trazer para o Brasil importantes intelectuais. Dentre os destaques, citados pelo Painel das Letras, estão o camaronês Achille Mbembe, conhecido pelo conceito de “necropolítica”; o martinicano Patrick Chamoiseau, vencedor do prestigiado Prêmio Goncourt; a jurista americana Michelle Alexander, autora de “A Nova Segregação”; e o casal Dionne Brand e Christina Sharpe, figuras proeminentes na literatura que aborda os efeitos do racismo transatlântico, enriquecendo o diálogo cultural no país.
O Fim do Clube do Livro de Felipe Neto
Pouco mais de um ano após o lançamento que gerou considerável burburinho nas redes sociais e no mercado editorial, o clube do livro de Felipe Neto teve sua trajetória encerrada. Em meio a um período de férias, o influenciador não esteve presente na transmissão ao vivo que oficializou o fim da plataforma aos assinantes e não se manifestou à reportagem da Folha. A maior frustração entre os participantes se deveu à natureza abrupta do encerramento, que impossibilitou o acesso a conteúdos previamente disponibilizados, gerando questionamentos sobre a gestão da comunidade literária.
Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista
As **novidades literárias** revelam um momento de intensa atividade e reflexão. Desde a afirmação das vozes femininas nos prêmios, as profundas mudanças na percepção da escrita por Zadie Smith, até o dinâmico campo das biografias e ensaios, a literatura segue como um espelho de nosso tempo. Para se manter sempre atualizado sobre as transformações no panorama cultural e as últimas tendências que influenciam nossa sociedade, continue explorando nossa editoria de Cultura.
Crédito da Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress, Editoria de Arte
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