Pesquisadores da Universidade de Sussex, no Reino Unido, têm empregado câmeras térmicas para estudar estresse de forma inovadora. O objetivo principal do estudo é identificar marcadores fisiológicos claros que revelem os níveis de tensão em indivíduos. Essa pesquisa avança na compreensão de como o corpo reage a situações de pressão e na criação de métodos não invasivos para avaliar e gerenciar o estresse, utilizando a observação da temperatura corporal, especialmente no rosto.
Uma descoberta central, identificada por meio da análise de imagens térmicas, aponta para uma queda significativa da temperatura no nariz como um indicador robusto de estresse agudo. Este fenômeno é explicado por uma alteração no fluxo sanguíneo na face, desencadeada pelo sistema nervoso em resposta a uma situação estressora. A metodologia promissora, baseada em tecnologia de imagem térmica, representa um marco considerável na área de pesquisa sobre o estresse e suas implicações para a saúde mental.
Câmeras Térmicas Revelam Estresse Pelo Nariz Frio
Para ilustrar e testar essa teoria, os psicólogos da Universidade de Sussex projetaram um experimento controlado, embora com elementos surpresa deliberados para induzir estresse. Voluntários foram submetidos a tarefas desafiadoras e inesperadas. Um dos participantes relatou a experiência de ser solicitado a preparar e apresentar um discurso improvisado de cinco minutos sobre “o emprego dos sonhos”, seguido de um complexo cálculo mental de trás para frente, tudo diante de um grupo de avaliadores desconhecidos.
Durante essas atividades, os pesquisadores utilizaram câmeras térmicas para registrar as mínimas variações na temperatura facial dos participantes. No momento do pico de estresse, a percepção de calor subindo pelo pescoço era acompanhada por um esfriamento perceptível do nariz, que aparecia em tonalidade azul nas imagens térmicas. Esta reação é uma manifestação do desvio de fluxo sanguíneo, impulsionado pelo sistema nervoso, que direciona mais sangue para órgãos como os olhos e os ouvidos, otimizando as capacidades de vigilância e audição em face de uma potencial ameaça ou perigo.
No estudo envolvendo 29 voluntários, a maioria registrou uma redução de 3 a 6 graus Celsius na temperatura nasal. A jornalista que participou do experimento, por exemplo, teve uma queda de 2 graus Celsius. Curiosamente, a recuperação da temperatura nasal para a normalidade foi rápida para a maioria dos participantes, incluindo a jornalista. A professora Gillian Forrester, pesquisadora-chefe da Universidade de Sussex, notou que a experiência profissional da jornalista, acostumada a lidar com câmeras e pessoas desconhecidas, possivelmente a tornou mais resistente a fatores de estresse social. Contudo, mesmo nesses casos de resiliência, a mudança fisiológica no fluxo sanguíneo é observada, confirmando a “queda nasal” como um indicador confiável da alteração do estado de estresse.
A pesquisa enfatiza que o estresse é uma parte inerente da vida, mas controlar seus níveis prejudiciais é crucial. A nova descoberta pode ser um passo importante nesse controle. O período que uma pessoa leva para recuperar a temperatura nasal normal após um pico de estresse pode funcionar como uma métrica objetiva de sua capacidade de gerenciar a própria tensão. A lentidão atípica nessa recuperação, questiona Forrester, poderia servir como um indicativo de risco para o desenvolvimento de ansiedade ou depressão, levantando questões sobre possíveis intervenções.
Além disso, a natureza não invasiva da técnica e sua capacidade de medir uma resposta física intrínseca oferecem uma grande vantagem. Ela poderia ser aplicada para monitorar o estresse em grupos que não conseguem expressar seus sentimentos verbalmente, como bebês ou indivíduos com dificuldades de comunicação. Essa abrangência abre portas para diagnósticos e acompanhamento mais precisos em populações vulneráveis.

Imagem: g1.globo.com
Na sequência do estudo humano, a professora Gillian Forrester apresentou o método de medição térmica do estresse em um evento de ciência em Londres. Um dos aspectos mais impactantes da pesquisa é a observação de que as câmeras térmicas registram uma resposta física ao estresse que é inata a muitos primatas, expandindo a aplicação do método para o reino animal. A equipe de pesquisa está adaptando essa técnica em santuários de grandes primatas, como chimpanzés e gorilas, para compreender e mitigar o estresse em animais resgatados de ambientes traumáticos e melhorar seu bem-estar geral.
Os pesquisadores já obtiveram resultados positivos nessa linha, evidenciando que a exibição de vídeos de filhotes de chimpanzé a chimpanzés adultos em santuários resultou em um efeito calmante notável. Durante a observação, foi constatado um aumento das temperaturas nasais dos animais expostos a essas imagens, sugerindo uma redução no nível de estresse. Tal resultado mostra que estímulos positivos podem ter o efeito oposto a situações geradoras de tensão, como um teste de desempenho ou um exame mental. De acordo com Marianne Paisley, pesquisadora da Universidade de Sussex dedicada ao bem-estar de grandes primatas, o uso de câmeras térmicas nos santuários auxilia no monitoramento da adaptação e saúde mental dos animais, especialmente porque eles são peritos em ocultar seu sofrimento.
Esses estudos sobre estresse em primatas têm sido historicamente valiosos para a compreensão da própria espécie humana. Agora, o conhecimento adquirido sobre a saúde mental humana pode ser revertido para benefício dos nossos parentes mais próximos na árvore evolutiva, oferecendo uma contribuição modesta, mas significativa, para a qualidade de vida desses animais resgatados. Para entender mais sobre a importância do controle do estresse na vida diária, você pode visitar recursos especializados, como a seção de saúde mental da Organização Pan-Americana da Saúde, que oferece insights valiosos sobre o tema.
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Em suma, a inovadora aplicação de câmeras térmicas pela Universidade de Sussex está redefinindo a forma como o estresse é avaliado, tanto em humanos quanto em primatas. Essa ferramenta não invasiva e altamente precisa oferece perspectivas promissoras para monitoramento, diagnóstico precoce e a criação de ambientes que promovam maior bem-estar. Para continuar explorando temas sobre ciência e comportamento, acompanhe as análises da nossa editoria e mantenha-se informado.
Crédito da imagem: Kevin Church/BBC



