Na cidade de Tatuí, interior de São Paulo, uma iniciativa de empatia e resiliência ganha destaque. Após enfrentar um diagnóstico de câncer de mama, a cabeleireira Cilene Inoki, de 48 anos, desenvolveu um método inovador para confeccionar bonés adornados com cabelos doados. A criação visa oferecer conforto e auxiliar na recuperação da autoestima de mulheres que vivenciam o desafiador período do tratamento contra a doença, um momento muitas vezes marcado pela perda dos cabelos.
Com mais de duas décadas de experiência dedicadas à beleza e aos cuidados capilares em seu salão, Cilene compreendeu de perto o impacto emocional que a calvície temporária pode ter. Sua própria jornada a motivou a buscar uma solução que tornasse essa fase menos árdua, proporcionando um substituto prático e acolhedor às perucas e lenços tradicionais. A idealização do boné adaptado, fruto de sua experiência pessoal e profissional, demonstra uma profunda compreensão das necessidades das pacientes.
👉 Leia também: Guia completo de Noticia
A reviravolta na vida de Cilene teve início em outubro de 2024. Ironia do destino, o diagnóstico de câncer de mama chegou justamente no mês dedicado à conscientização e prevenção da doença, o “Outubro Rosa”, uma campanha que a cabeleireira sempre apoiou e realizou em seu estabelecimento. O anúncio da enfermidade provocou um impacto significativo em sua vida, conforme relatou à imprensa, descrevendo a sensação de “mundo desabar” e o “desespero” com a possibilidade de ficar sem seus cabelos. Para uma profissional do ramo capilar, a perspectiva de se ver careca era um dilema particular e avassalador, a ponto de levá-la a cogitar a interrupção do tratamento. Contudo, prevaleceu a força e a convicção em prosseguir.
A história familiar de Cilene é permeada pela presença da doença, o que reforça a urgência de seu compromisso com a saúde e a vida. Sua família já havia enfrentado batalhas semelhantes; uma de suas quatro irmãs superou um câncer no útero em 2017, após cirurgia e tratamento bem-sucedidos. Além disso, três tios maternos também receberam diagnósticos oncológicos em diferentes órgãos: um na região digestiva, outro no pulmão e um terceiro no intestino. Esse histórico pessoal e familiar intensificou a consciência de Cilene sobre a seriedade e os desafios impostos pelo câncer, moldando sua perspectiva e seu caminho em busca de superação.
O processo de tratamento de Cilene foi marcado pela determinação. Em 18 de novembro de 2024, teve início sua jornada com as sessões de quimioterapia. Apesar da complexidade e dos efeitos colaterais esperados, ela optou por manter sua rotina profissional. Com a agenda de dezembro já preenchida meses antes, a cabeleireira decidiu não paralisar suas atividades, retornando ao trabalho logo após as “químios mais fortes”. Cilene relembra a “loucura de fim de ano” e como sua dedicação ao salão, utilizando um boné simples nesse período inicial, foi crucial para seu bem-estar físico e emocional.
A persistência de Cilene foi além do consultório e do salão. Acompanhada pelo apoio incondicional de seu esposo, Sérgio Shigueru Inoki, e dos filhos Hiroshi e Tsuyoshi, ela não permitiu que a doença dominasse sua vida. Sua médica ressaltou a importância de manter-se ativa: Cilene frequentava a academia e praticava ciclismo regularmente. Ela mesma atesta o papel fundamental do trabalho em sua recuperação, descrevendo o salão como um refúgio. Durante todo o processo, sua imunidade permaneceu estável e ela relatou não ter se sentido doente, o que atribui a não ter parado sua vida. Um momento emocionante foi registrado em vídeo: seu filho mais velho, Hiroshi Inoki, de 23 anos e também barbeiro, auxiliou-a no corte dos últimos fios que ainda não haviam caído devido ao tratamento. Esse gesto simbólico marcou uma fase importante em sua jornada.
A cabeleireira passou por todas as etapas do tratamento, que incluiu ciclos de quimioterapia, uma intervenção cirúrgica e sessões de radioterapia. A última quimioterapia foi concluída em 24 de março de 2025, exatos cinco meses após a identificação do diagnóstico. Após a cirurgia, a biópsia apresentou resultados animadores, indicando que “tudo livre”, um desfecho de grande sucesso em sua batalha contra a doença. Atualmente, Cilene segue em acompanhamento médico contínuo, com a expectativa de receber alta definitiva em um período de cinco anos, conforme protocolo padrão para pacientes oncológicos.
A ideia para o boné adaptado surgiu de uma necessidade prática e de um profundo desejo de manter sua identidade durante um período de transformações físicas e emocionais. Cilene relata que não se adaptou ao uso de perucas, que muitas vezes são desconfortáveis ou não oferecem a naturalidade desejada, nem a lenços, que não preenchiam sua necessidade de “ter fios ao redor do rosto”. O “desespero de ficar careca” estimulou sua criatividade e a levou a conceber o acessório inovador. A concretização da ideia contou com a parceria essencial de sua irmã, Edilene Carriel Moraes, que, sendo costureira, aplicou suas habilidades para transformar a visão de Cilene em realidade.

Imagem: g1.globo.com
Para Cilene, o boné adaptado superou a mera função estética, tornando-se um símbolo de resgate de sua força, feminilidade e autoestima. Ele ofereceu a combinação perfeita de conforto e praticidade de um boné, aliado à sensação visual de ter cabelo. Graças a esse item, Cilene pôde continuar trabalhando sem que muitas de suas clientes sequer imaginassem o processo que estava enfrentando. A discrição e o aumento da confiança permitiram que ela mantivesse a rotina sem o peso visual da doença. A cabeleireira enfatiza que a perda de cabelo vai além da questão da aparência, sendo fundamental para a identidade de muitas mulheres. O boné tornou-se, assim, um objeto que representa a capacidade de reinvenção e a reconstrução do bem-estar mesmo em momentos de grande dificuldade.
Motivada pela sua própria vivência, Cilene Inoki expandiu seu projeto pessoal para auxiliar outras mulheres que trilham o caminho do tratamento contra o câncer. Sua paixão pela iniciativa a levou a ressignificar o destino das mechas cortadas em seu salão. Anteriormente, ela já participava ativamente de campanhas de doação de cabelo, encaminhando-os para instituições como o Hospital do Câncer e o Gpaci, em Sorocaba, além de ter levado parte das doações para a Unesp de Botucatu durante seu próprio tratamento.
Com o sucesso dos bonés adaptados e o impacto positivo em sua vida, Cilene e sua irmã agora direcionam os cabelos recebidos de doação para a produção contínua desses acessórios. Atualmente, o projeto depende principalmente da aquisição de mais matéria-prima capilar, já que os bonés simples que servem de base são arrecadados por meio de doações, contando com o suporte de uma empresária local. Até o momento, a dupla já confeccionou 12 bonés adaptados, que oferecem uma alternativa reconfortante e discreta. Cilene também oferece a opção de utilizar o próprio cabelo da paciente para a confecção do boné, proporcionando um item ainda mais pessoal e com significado único no início do tratamento.
📌 Confira também: artigo especial sobre redatorprofissiona
O testemunho de Cilene Inoki é um lembrete do poder da resiliência e da inovação. Após ter sua última sessão de quimioterapia em março de 2025, seus cabelos começaram a crescer novamente, simbolizando um novo ciclo. Sua experiência pessoal transformou-se em uma missão, oferecendo não apenas um acessório, mas uma dose de autoestima e esperança para inúmeras mulheres que enfrentam desafios semelhantes.
Com informações de G1 Itapetininga e Região
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados