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Brasileiros usam drones contra blitz do ICE nos EUA

A comunidade de brasileiros usa drones contra blitz do ICE nos EUA e se organiza em sofisticadas redes de proteção. Em Massachusetts, milhares de imigrantes desenvolveram métodos inovadores, incluindo grupos de WhatsApp e vigilância aérea por drones, para monitorar e evadir operações de batida anti-imigração do governo americano. A intensificação das ações do Serviço de […]

A comunidade de brasileiros usa drones contra blitz do ICE nos EUA e se organiza em sofisticadas redes de proteção. Em Massachusetts, milhares de imigrantes desenvolveram métodos inovadores, incluindo grupos de WhatsApp e vigilância aérea por drones, para monitorar e evadir operações de batida anti-imigração do governo americano. A intensificação das ações do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês), conhecido pelos imigrantes como “gelo”, gerou um ambiente de constante apreensão entre os brasileiros na região.

Desde o início de setembro, mensagens alarmantes têm circulado nos grupos de WhatsApp de brasileiros como Júnior, de 27 anos, originário de Minas Gerais, e Lorena Betts, de 37 anos, de Mato Grosso. Os avisos sobre as movimentações do ICE indicavam a chegada de um período desafiador para a numerosa população de imigrantes em Massachusetts, estado que abriga, oficialmente, cerca de 150 mil brasileiros, com estimativas não oficiais superando 300 mil, conforme dados do Instituto Diáspora Brasil. O fluxo incessante de informações nesses canais digitais é fundamental para a estratégia de autoproteção da comunidade.

Brasileiros usam drones contra blitz do ICE nos EUA

O governo de Donald Trump deflagrou a “Operação Patriot 2.0” em 6 de setembro, com foco em Massachusetts, um estado democrata. A iniciativa, anunciada pelo Departamento de Segurança Interna (DHS) dos EUA, veiculava uma mensagem clara: “Se você vier ao nosso país ilegalmente e violar nossas leis, nós vamos caçá-lo, prendê-lo, deportá-lo, e você nunca mais voltará”. Após semanas de relativa tranquilidade em Boston e suas cidades vizinhas com forte presença brasileira, como Framingham e Milford, a operação foi interpretada como uma retaliação à prefeita de Boston, Michelle Wu, democrata, que se manifestou publicamente contra as batidas e defendeu a política de “cidade-santuário”, onde não há colaboração com o governo federal em ações migratórias.

Ao contrário de crenças iniciais que focavam apenas em “criminosos”, a comunidade brasileira passou a perceber que qualquer indivíduo sem documentação está sujeito a ser detido. Grupos de WhatsApp, com milhares de membros, tornaram-se o epicentro dessa vigilância e comunicação. Diariamente, principalmente a partir das 5h da manhã, horários nos quais agentes do ICE costumam se reunir para as operações, as mensagens e alertas sobre blitzes em andamento se multiplicam, acompanhadas por imagens de detidos ou de veículos abandonados. O mineiro Júnior, entregador de aplicativo em Lowell, que criou um dos grupos há três anos com o retorno de Trump à presidência, confirma a regularidade dos alertas e a utilidade na identificação de carros e agentes disfarçados do ICE.

Lorena Betts, fundadora de uma rede de voluntários que atua para documentar prisões, relatou o aumento de casos de pessoas que “desaparecem” após serem detidas, sendo transferidas rapidamente entre diferentes estados americanos, como Nova York e Louisiana, onde sentenças judiciais tendem a ser mais severas. Ela, que reside legalmente nos EUA e é candidata a deputada em Massachusetts pelo Partido Democrata, ressalta a importância dos grupos na comunicação imigrante, onde, além dos alertas, são compartilhadas angústias, conselhos práticos para lidar com o cerco — como evitar sair com crianças ou falar português em público — e, de forma surpreendente, táticas inovadoras de vigilância.

Drones e táticas de adaptação da comunidade

Na terceira semana de setembro, as mensagens nos grupos ganharam uma nova dimensão: fotos e vídeos de monitoramento aéreo. Residentes de um condomínio majoritariamente brasileiro, a noroeste de Boston, que se viram “encurralados” com veículos do ICE nas saídas e no estacionamento por dois dias, adotaram uma medida inédita. Passaram a utilizar drones para observar a movimentação em volta do complexo de prédios. Ao operar um drone com menos de 250 gramas para “voo recreativo”, não é necessário registro nos EUA, desde que a altura máxima de 120 metros seja respeitada. Embora a conformidade com as regras não tenha sido confirmada, a imagem de um drone sobrevoando a vizinhança foi compartilhada nos grupos, demonstrando a ousadia e o desespero da comunidade.

A estratégia defensiva da comunidade evoluiu. Sem um mandado judicial, agentes do ICE não podem invadir residências, o que torna a casa um refúgio. Em contraste, em locais públicos, podem prender pessoas com base em mandados administrativos ou deter indivíduos considerados “suspeitos” que apresentem irregularidades. Um desenvolvimento preocupante para os imigrantes foi a decisão da Suprema Corte dos EUA, em 8 de setembro, que permitiu ao governo Trump abordar e deter imigrantes com base na sua raça ou idioma, interpretada pela comunidade como uma “carta branca” para detenções e, para alguns críticos e entidades defensoras de liberdades civis, uma violação de direitos constitucionais.

Esse cenário intensificou mudanças de comportamento. Mensagens em áudio e vídeo compartilham dicas como aprender linguagem de sinais para evitar falar em público ou até mesmo a sugerida, e controvertida, tática de se “americanizar”, usando óculos escuros e adesivos de apoio a Trump nos carros. Júnior relata o medo, mesmo estando em processo de obtenção do green card: “Se veem que fala inglês mal, te pegam na hora, não quer nem saber se você é cidadão, se tem green card”. Apesar do risco, ele e outros brasileiros consultados expressam aversão a retornar ao Brasil, mesmo com a insegurança enfrentada nos EUA, preferindo a situação atual a uma rotina de violência em seu país natal.

Para contextualizar a atuação das autoridades, desde que Donald Trump retornou à Casa Branca, aproximadamente 400 mil pessoas foram deportadas, um número que engloba tanto detenções no país quanto nas fronteiras. Desse total, cerca de 2 mil brasileiros foram enviados de volta ao Brasil desde fevereiro. Além disso, atualmente, o país registra um recorde de aproximadamente 60 mil imigrantes presos em centros de detenção, visando a meta do governo de prender 3 mil imigrantes por dia, segundo o **Departamento de Segurança Interna dos EUA**, cujas diretrizes visam o controle da imigração ilegal. Ao assumir a presidência, Trump enfrentava 39 mil detidos. Sua política resultou numa queda de 92% no número de imigrantes que atravessavam a fronteira com o México ilegalmente, comparado ao ano anterior.

Desafios e Redes de Apoio Comunitário

Apesar da vigilância por grupos e drones, os brasileiros sabem que a rapidez das operações do ICE é um obstáculo. “Eles são muito rápidos, em quatro minutos já prendem e somem do lugar”, lamenta Júnior. Contudo, redes de voluntários como a LUCE, composta por diversas organizações comunitárias em Massachusetts, atuam como um ponto de apoio. A LUCE responde a denúncias de ações do ICE, enviando voluntários para verificar e filmar, exercendo o direito constitucional de documentar sem interferir. Lorena Betts, à frente do braço português da LUCE, conta sua experiência: após chegar como au pair e trabalhar como intérprete em tribunais, ela se tornou uma figura essencial nessa luta.

Além de confirmar informações e auxiliar legalmente, a LUCE e outras redes também dão suporte em situações práticas, como ajudar em compras de supermercado para famílias que perderam renda devido à prisão de um membro. Embora existam aplicativos específicos para denunciar blitzes, muitos na comunidade brasileira os encaram com ceticismo e receio de rastreamento. À medida que o mês de setembro chegava ao fim, a Operação Patriot 2.0 não mostrava sinais de desfecho em Massachusetts, mantendo a apreensão na comunidade. A expectativa é que outubro possa trazer alguma mudança para a difícil situação dos imigrantes brasileiros.

Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista

A saga dos imigrantes brasileiros em Massachusetts reflete a resiliência e a inventividade diante das rígidas políticas migratórias americanas. Com estratégias de vigilância comunitária, incluindo o uso de tecnologias como drones e redes de apoio mútuo, a comunidade se esforça para manter a segurança e a solidariedade. Para se manter atualizado sobre este e outros temas cruciais que afetam a vida política e social, continue acompanhando a nossa editoria de Política e entenda a fundo os desdobramentos dessas importantes questões.

Crédito da imagem: Foto: BBC News Brasil

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