Cada vez mais cidadãos no Brasil evitam atender telefone, transformando o que antes era uma ferramenta essencial de conexão em um motivo de desconfiança e receio. A popularização de golpes e chamadas abusivas levou muitos brasileiros a ignorarem ligações de números desconhecidos, um comportamento que, embora protetivo, gera uma série de impactos negativos na comunicação cotidiana.
O aparelho telefônico, que outrora servia como um canal primordial para notíscias e conversas, hoje se tornou uma fonte de preocupação. Para muitos, a aversão a atender chamadas desconhecidas é um mecanismo de defesa contra criminosos. A aposentada Marlene Daniel reflete esse sentimento: “Deus me livre, que horror, se não tiver na minha lista não atendo”. A modelo Izabel Horn compartilha uma prática similar: “Atendo só quem está na minha agenda e olhe lá ainda, às vezes eu não atendo telefone, é só por mensagem”. Outra aposentada, Maria Silvia Moraes Matar, expressa seu desgaste com a situação: “Eu não atendo mesmo”. Esse comportamento coletivo revela uma crise de confiança profunda na comunicação telefônica.
Brasileiros evitam atender telefone por medo de golpes
A origem desse bloqueio radical reside na proliferação de diferentes tipos de golpes e de chamadas incessantes de marketing ou de caráter duvidoso. A professora Janete da Silva Alves de Oliveira resume a distorção da função do telefone: “Aquilo que era para eu te comunicar algo, serve para eu te golpear, para eu sacar o que é seu, para eu tomar o que é seu, para eu tirar a sua liberdade, a sua segurança”. Diversos golpes, incluindo o conhecido esquema da falsa emergência de parentes, levam as pessoas a serem extremamente cautelosas. A jornalista e modelo Luisa Furlan narra uma experiência comum: “Ligação assim falando: ‘ai, mãe, estou aqui perdida. Estou aqui…’ Assim, uma suposta filha, né?”. Tais tentativas de fraude alimentam o medo e justificam a relutância em atender.
Impactos na Comunicação Essencial
O problema, contudo, transcende a simples proteção pessoal contra fraudes. Ao ignorar ligações, a sociedade perde uma ferramenta vital de comunicação, afetando serviços importantes. O servidor público federal Adolfo Bragato Jr. vivenciou essa dificuldade ao perder uma consulta médica: “Ligaram do consultório médico para confirmar e depois eu chego lá: ‘ah, não! Você não confirmou, a consulta foi desmarcada'”. Este é apenas um exemplo de como a desconfiança generalizada impede interações legítimas e necessárias.
Organizações de grande importância social também são impactadas. A Fundação Pró-Sangue, por exemplo, que depende do telefone para contatar doadores, sente os efeitos diretamente. Cyntia Arrais, chefe da Divisão de Produção de Sangue e médica da Pró-Sangue, relata o desafio: “O pessoal liga. E aí ninguém atende… A gente entende medo de golpes e medo de… Enfim… De se expor, mas quando a gente liga é porque a gente está realmente precisando”. A hesitação em atender impede que doações vitais sejam agendadas, colocando vidas em risco.
Medidas de Combate e Soluções Futuras
Diante desse cenário, entidades como a Associação Safernet reforçam a urgência de medidas. Guilherme Alves, gerente de projetos da SaferNet, critica a situação atual e clama por ações efetivas do poder público e das empresas: “A Anatel, que é a agência que regula telefonia, precisa e pode ter um papel mais ativo em relação a isso, tanto para limitar as ligações falsas, né, as ligações robóticas de robôs que ligam para as pessoas, mas também regular melhor o marketing nas ligações telefônicas e criar mais confiança nesse setor que infelizmente tem perdido a confiança dos consumidores”. O retorno da segurança na telefonia é fundamental para resgatar sua função social original. É essencial que os órgãos reguladores implementem soluções eficazes para restabelecer a confiança dos usuários e assegurar que as chamadas indesejadas sejam contidas, permitindo que as pessoas possam usar seus telefones sem medo. Para aprofundar as discussões sobre o tema e conhecer as estratégias governamentais para lidar com ligações indesejadas, é relevante consultar as medidas implementadas pela Anatel, a agência reguladora de telecomunicações no Brasil, visando a proteção do consumidor e a melhoria do serviço.

Imagem: g1.globo.com
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informa ter tomado providências significativas. Nos últimos três anos, ações da agência evitaram a realização de mais de 220 bilhões de chamadas indevidas, resultando em multas e bloqueios de empresas que praticavam ligações em massa abusivas. Visando uma solução mais perene, um novo serviço de autenticação de chamadas será implementado a partir do próximo ano.
Conforme explica Suzana Silva Rodrigues, superintendente de Controle de Obrigações da Anatel, usuários que realizam mais de 500 mil ligações por mês, utilizando serviços específicos, serão obrigados a autenticar suas chamadas. O objetivo é assegurar a legitimidade da numeração utilizada, evitando a operação de robôs e ligações fraudulentas. Para aqueles que fazem um volume menor de ligações, ainda não há uma autenticação imediata, mas uma decisão do Conselho Diretor da Anatel determina que, em um prazo estimado entre 2 anos e meio a 2 anos, todas as chamadas telefônicas no país passem por esse processo de autenticação. A medida representa um passo crucial para restabelecer a segurança e a confiança nas comunicações por voz no Brasil.
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O receio que leva muitos brasileiros a evitarem atender chamadas telefônicas reflete um desafio crescente na era digital, onde a linha entre a comunicação legítima e a tentativa de golpe se torna tênue. Enquanto os órgãos reguladores, como a Anatel, intensificam seus esforços para coibir fraudes e chamadas abusivas, a vigilância por parte dos usuários e a adaptação aos novos mecanismos de segurança são fundamentais. Continue acompanhando o Horadecomecar.com.br/blog para mais análises e notícias sobre tendências e desafios da sociedade brasileira, garantindo que você esteja sempre informado e preparado.
Foto: Reprodução/TV Globo



