Guilherme Boulos criticou o Projeto de Lei da dosimetria de penas, rotulando-o de ‘anistia envergonhada’, durante um protesto expressivo na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (14). O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, que é deputado federal licenciado pelo Psol-SP, defendeu com veemência a manutenção da punição integral para os envolvidos em tramas golpistas, proferindo a frase contundente: “Golpista bom é golpista preso”.
O discurso de Boulos ressaltou a importância de o Congresso Nacional estar atento à voz popular, contrapondo-se à aprovação do referido projeto pela Câmara dos Deputados. Ele argumentou que a dosimetria não representa um benefício público, mas sim uma forma dissimulada de anistia. Aos manifestantes, o ministro instou o Senado a não reincidir no erro da Câmara, que aprovou a medida “na calada da noite”.
Boulos fez um apelo para que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cumpra a integralidade da sentença imposta por sua participação em uma alegada tentativa de golpe de Estado. A expectativa, segundo ele, é que Bolsonaro testemunhe a reeleição do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026 diretamente de uma cela. A mobilização, que reforça a posição do governo, focou na mensagem clara:
Boulos chama dosimetria de ‘anistia envergonhada’ na Paulista
, defendendo a responsabilização jurídica sem subterfúgios.
A Voz das Ruas Contra a Dosimetria
Os participantes do ato, aglomerados nas faixas da Avenida Paulista, entoaram gritos como “sem anistia”, em um claro repúdio ao Projeto de Lei da dosimetria de penas. O público expressou forte descontentamento com o que considerou ser uma tentativa de flexibilizar as punições para aqueles envolvidos em eventos antidemocráticos. Parlamentares e a própria sociedade civil organizada que compunham a linha de frente da manifestação qualificaram o Congresso Nacional de “inimigo do povo”, dirigindo as críticas mais severas ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). A pauta surpresa do PL da dosimetria na última semana, impulsionada por Motta, gerou indignação, reverberando em coros como “fora, Hugo Motta” entre os presentes.
Em suas falas no palanque montado na Paulista, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, reforçou a expectativa de que o presidente Lula utilize o poder de veto contra a dosimetria, caso a proposição legislativa avance até a sanção presidencial. Teixeira advertiu que “essa dosimetria abre portas para a anistia” e apontou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como um dos mentores da proposta, visando o abrandamento das sanções para os “golpistas”. Complementando o coro, Edinho Silva, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), avaliou as mobilizações em território nacional como um sucesso, elogiando a determinação popular e o engajamento do campo governista na definição da agenda futura do país, em confronto direto com a direita e as correntes fascistas. Silva mencionou reformas na renda e a discussão sobre a tarifa zero como exemplos da agenda proposta por Lula, contrastando-as com os “acordos de gabinete” e as políticas alinhadas às elites. “Não vamos recuar para golpista”, assegurou o dirigente petista.
Pautas Adicionais e Críticas do Ministro Boulos
Além da pauta principal da dosimetria e da firmeza contra a anistia, Boulos aproveitou a ocasião para criticar outras decisões legislativas recentes. Ele manifestou desaprovação à aprovação, pelo Senado, do projeto que valida o marco temporal para demarcação de terras indígenas, considerado um retrocesso por defensores dos direitos indígenas. Outras reivindicações apresentadas pelo ministro incluíram o fim da jornada de trabalho 6 por 1, em defesa de melhores condições trabalhistas, e a taxação das altas rendas. Segundo Boulos, “o povo esperava há muito tempo que os super-ricos começassem a pôr a mão no bolso e pagar imposto”, acusando os congressistas de estarem de costas para os anseios da população. Ele enfatizou, ainda, que a punição de militares envolvidos em atos golpistas é um ato de “reparação histórica”, sublinhando a gravidade das ações contra a democracia.
O Movimento e Seus Articuladores
A manifestação que reuniu milhares na tarde deste domingo na capital paulista teve como foco primordial o protesto contra a dosimetria de penas e qualquer forma de anistia para os indivíduos condenados por seu envolvimento em tentativas de golpe, com clara menção ao ex-presidente Bolsonaro. A mobilização, que transcendeu o espectro puramente crítico e visou também a promoção de pautas do governo federal, como a revogação da jornada 6 por 1, foi coordenada por coletivos alinhados à base do presidente Lula. Organizada pelas frentes Povo sem Medo e Brasil Popular, que representam uma vasta rede de movimentos sociais, a mobilização também recebeu o apoio irrestrito de diversas entidades sindicais e de partidos políticos de esquerda, como o PT, Psol e PC do B. Em meio aos gritos de guerra, mensagens como “Congresso podre” e “cadeia para golpistas” adornavam faixas e ressoavam em ambos os sentidos da Avenida Paulista, especificamente em frente ao emblemático Museu de Arte de São Paulo (MASP), marcando a veemência do movimento.
Guilherme Boulos minimizou as repercussões políticas decorrentes do confronto com Hugo Motta, enfatizando a autonomia dos movimentos sociais para convocar tais protestos. Ele categorizou o ato como uma “resposta” à aprovação da dosimetria pela Câmara. Para mais detalhes sobre o debate legislativo e suas implicações, acompanhe as análises do portal da Câmara dos Deputados.
Contagem de Público e Contexto Comparativo
A aferição da participação no ato deste domingo apontou para um total de 13,7 mil pessoas na Avenida Paulista, conforme dados fornecidos pelo Monitor do Debate Político do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), uma colaboração entre a Universidade de São Paulo (USP) e a ONG More in Common. A pesquisa, que estimou um pico de público entre 12,1 mil e 15,4 mil participantes, operou com uma margem de erro de 12%. O método de cálculo envolveu a análise de fotos aéreas com o auxílio de software de inteligência artificial. Comparativamente, um protesto anterior contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da blingagem, realizado em setembro, registrou uma presença de 42,4 mil pessoas na mesma avenida, indicando uma mobilização distinta em termos de volume, mas não em expressividade política para o combate à dosimetria.
Críticas Explícitas do Protesto
Durante o evento, vozes de parlamentares se uniram ao coro crítico contra as propostas legislativas. O deputado estadual Guilherme Cortez (Psol-SP), em seu discurso, teceu críticas virulentas ao presidente da Câmara, Hugo Motta, referindo-se a ele como “o maior rato e o maior covarde do país”. Em outro momento de forte manifestação popular, Natalia Szermeta Boulos, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e esposa do ministro Guilherme Boulos, incitou o público a vaiar o presidente da Câmara. Igualmente alvo de vaias foi o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do PL da dosimetria de penas, mostrando a insatisfação com os proponentes da medida.
A deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) argumentou que o Poder Legislativo deveria priorizar pautas de verdadeiro interesse nacional, em vez de se dedicar a propostas como a dosimetria, que, segundo ela, beneficia apenas uma fração diminuta da população. Sâmia Bomfim (Psol-SP) reiterou que a meta primordial do protesto contra a dosimetria era pressionar o Senado Federal para que a votação do projeto fosse interrompida. Além dos discursos, o evento contou com a apresentação cultural de artistas renomados como Chico César e Zélia Duncan, e de nomes do cenário alternativo, que entoaram canções de protesto da música brasileira, adicionando uma camada artística à manifestação cívica. Contrariando as previsões meteorológicas, não houve chuva durante o período do ato na Avenida Paulista, o que pode ter favorecido a permanência do público.
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Finalizando, o protesto na Avenida Paulista sublinha a força da mobilização popular contra iniciativas legislativas percebidas como retrocessos democráticos, com foco particular na dosimetria de penas. A mensagem de “sem anistia” ecoou forte, marcando a posição de importantes vozes políticas e de parte significativa da sociedade. Continue acompanhando as repercussões e análises sobre o cenário político brasileiro em nossa seção de Política para se manter informado.
Fotos: Arquivo/Agência Brasil
