Bolsonaro completa 100 dias em prisão domiciliar e crise política

Economia

Nesta quarta-feira, 12 de junho, o ex-presidente Jair Bolsonaro completa 100 dias em prisão domiciliar, uma fase marcante sob um panorama de evidente enfraquecimento político e a crescente preocupação de ser transferido para um presídio comum. O período tem sido caracterizado por uma série de conflitos internos e articulações políticas desafiadoras no grupo bolsonarista, revelando rachas significativos e uma luta pelo espólio eleitoral em meio à inelegibilidade e restrições de seu principal líder.

Desde o fim de março, quando, em entrevista à Folha de S. Paulo, Bolsonaro expressou o temor de que uma prisão significaria não apenas o término de sua carreira política, mas também o de sua vida, a realidade se tornou mais próxima. Ele, que então desfrutava de liberdade e intensa agenda partidária, alertava sobre a incompatibilidade de sua idade (70 anos) com acusações que somam décadas de condenação. Agora, a possibilidade de cumprir pena na Papuda, em Brasília, decorrente de sua condenação a 27 anos e três meses por liderar uma suposta trama golpista em 2022, é uma iminência cada vez mais concreta.

Bolsonaro completa 100 dias em prisão domiciliar e crise política

O cenário legal se complicou com a rejeição do primeiro recurso de Bolsonaro pelos quatro ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Embora o julgamento em plenário virtual seja encerrado oficialmente na próxima sexta-feira, 14, a expectativa, mesmo com novas tentativas recursais por parte da defesa, é de que a Corte considere a ação finalizada até dezembro. Fontes próximas à família do ex-presidente têm relatado a aliados que ele se encontra bastante apreensivo com a chance de ser obrigado a cumprir a pena em regime fechado, uma decisão que caberá ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo.

Rotina de Restrições e Consequências na Saúde

Apesar de manter uma rotina de exercícios físicos e, ocasionalmente, fazer piadas com visitantes, o retrato que emerge é de um Bolsonaro frequentemente cabisbaixo. Aliados relatam que ele passa grande parte do dia vestindo bermuda e chinelos, referindo-se à tornozeleira eletrônica como uma “humilhação”. Seus amigos próximos veem uma ligação direta entre o agravamento de seu estado de saúde e sua condição emocional, intensificada pela expectativa da palavra final do STF. O irmão do ex-presidente, Renato Bolsonaro, manifestou publicamente em 7 de junho que a eventual transferência para a Papuda seria interpretada como um desejo da Justiça de que ele “morra na cadeia”.

Em meio a especulações, alguns interlocutores já admitem a probabilidade de o STF encaminhar Bolsonaro para a Papuda por um curto período, antes de seu eventual retorno à prisão domiciliar por motivos de saúde. Esta hipótese ganhou maior projeção após a visita recente da chefe de gabinete do Ministro Moraes ao presídio. Outra possibilidade seria o direcionamento de Bolsonaro para uma sala em uma das superintendências da Polícia Federal, à semelhança do ocorrido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba. Menos provável é a transferência para uma instalação militar, mesmo sendo ele um capitão reformado.

Mobilização de Apoiadores e Disputa por Espólio Eleitoral

Caso a transferência de Bolsonaro para o regime fechado se concretize, a expectativa é de uma mobilização limitada de apoiadores. Até o momento, não há indícios de organização nesse sentido, um reflexo das dificuldades de articulação do grupo com seu líder sob restrições e da intensa disputa por seu espólio eleitoral, agravada pela inelegibilidade e pelo cárcere. O ambiente de instabilidade é, de fato, um terreno fértil para desavenças internas.

Eduardo Bolsonaro e as Divisões Internas

A permanência de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos tem sido um fator adicional de instabilidade para o grupo. De terras estrangeiras, o deputado intensifica as críticas a aliados, notadamente a governadores de direita como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), radicaliza seu discurso e sinaliza a intenção de lançar-se à Presidência, mesmo que à distância. O senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do PP, também tem sido alvo frequente do deputado, com quem já travou discussões públicas.

Alações do Centrão e do Partido Liberal (PL) defendem que Bolsonaro aponte um sucessor ainda neste ano para disputar o Palácio do Planalto pela direita. Contudo, os filhos do ex-presidente, a ex-primeira-dama, e Flávio Bolsonaro (PL-RJ) têm se oposto veementemente a essas discussões prematuras, insistindo que o próprio ex-presidente é o candidato para 2026, ignorando sua condição de inelegível e preso. Diante de tais desentendimentos, alguns interlocutores tentam acalmar os ânimos, clamando por união da direita e propondo que as disputas sejam postergadas para 2027. Eles, inclusive, minimizam as divergências públicas, justificando-as como algo permitido dentro da dinâmica do PL.

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Imagem: Cristiano Mariz via valor.globo.com

Na prática, as rachaduras políticas se propagam por onde as opiniões divergem minimamente das do clã. Em Santa Catarina, um dos estados com maior índice de apoio bolsonarista, concentra-se um dos mais recentes focos de crise do grupo.

A Questão Carlos Bolsonaro em Santa Catarina

O vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PL-RJ), manifestou a intenção de se candidatar ao Senado por Santa Catarina, um movimento supostamente impulsionado pelo pai, que visualiza essa estratégia como uma forma de proteger o filho do Judiciário. A decisão gerou ressentimento em parte da direita local, especialmente por barrar a pré-candidatura da deputada Carol de Toni (PL-SC). Acusações de infidelidade e traição foram dirigidas, inclusive, à deputada estadual Ana Campagnolo (PL-SC), amiga de Toni.

Os mediadores dessa complexa teia política alertam que as brigas internas no grupo bolsonarista favorecem o presidente Lula (PT), que, aliás, tem mostrado melhoria em pesquisas de popularidade e figura como o nome mais forte para as eleições de 2026. Em agosto, quando Bolsonaro foi preso, o petista não ostentava uma posição tão confortável nas sondagens. Adicionalmente, Lula se aproximou recentemente de Donald Trump, antes um aliado bolsonarista, para iniciar negociações sobre tarifas impostas a produtos brasileiros. A estratégia diplomática de soberania e defesa dos interesses do Brasil é vista como um trunfo pelo Palácio do Planalto, capaz de minar parte da popularidade que antes sustentava o bolsonarismo.

Para entender mais sobre o funcionamento e as decisões do Supremo Tribunal Federal em casos de grande repercussão, é possível consultar o site oficial da corte, que detalha seus processos e julgamentos.

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O cenário para o ex-presidente Jair Bolsonaro, ao completar 100 dias em prisão domiciliar, é de complexidade jurídica, enfraquecimento político e incerteza pessoal. As ramificações de sua situação se estendem por todo o espectro político, moldando o debate sucessório e influenciando as alianças e rupturas internas de seu campo. Acompanhe a nossa editoria de Política para continuar explorando as últimas notícias e análises sobre o impacto dessas decisões e movimentos no cenário nacional.

Crédito da imagem: Sérgio Lima/Poder360

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