O renomado jornalista e escritor Fernando Morais, 79 anos, anunciou uma significativa alteração nos planos para sua ambiciosa obra. A biografia de Lula, inicialmente concebida em duas partes, passará a ser uma trilogia, com previsão de conclusão até 2026. O primeiro volume, lançado pela Companhia das Letras em outubro de 2021, será complementado por mais duas partes, ampliando a análise sobre a trajetória política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os leitores que aguardavam a segunda e última parte, prometida para junho de 2023, foram surpreendidos por adiamentos sucessivos. Morais, no entanto, detalha as razões por trás das prorrogações, que vão desde a busca por documentação confidencial até a realização de novas apurações e entrevistas exclusivas. Essa expansão visa proporcionar um retrato ainda mais profundo e detalhado da vida de uma das figuras mais proeminentes da política brasileira recente.
Biografia de Lula vira trilogia; Fernando Morais em 2026
Um dos principais motivos para a postergação da publicação da segunda etapa da biografia reside na intensa procura por registros sigilosos sobre o ex-presidente em órgãos de segurança dos Estados Unidos, como a CIA, o FBI e a NSA. Fernando Morais mencionou a existência de 916 documentos que citam Lula, essenciais para a profundidade de sua narrativa. A dificuldade de acesso a essas informações levou o escritor a acionar um escritório britânico de advocacia, o Pogust Goodhead, conhecido por sua atuação em grandes causas, para agilizar a obtenção do material. A empresa, sem cobrar honorários, passou a representá-lo nos Estados Unidos.
Fatores Por Trás dos Atrasos na Produção
Além da complexidade em acessar documentos internacionais, Morais atribui parte da lentidão ao seu próprio processo criativo. Em tom descontraído, ele admite ser “lento em escrever”, embora ágil na apuração, contrastando-se com a rapidez de colegas biógrafos. No entanto, o atraso também se justificou pela dedicação a novas investigações, pesquisas aprofundadas e diversas entrevistas adicionais, enriquecendo o escopo da obra. Essa pesquisa extensiva foi fundamental para a decisão, em conjunto com o editor Luiz Schwarcz, de expandir o projeto para uma trilogia.
A inspiração para expandir a biografia, conforme admitido por Morais, veio da aclamada trilogia de Lira Neto sobre Getúlio Vargas, figura cuja complexa trajetória política pode ser explorada em fontes históricas como a Fundação Getulio Vargas. Morais, que se autodeclara “getulista”, viu nessa abordagem a oportunidade de capturar a riqueza dos fatos históricos e pessoais que moldaram Lula ao longo dos anos. O segundo volume, esperado para março, dá continuidade ao sucesso do primeiro, que, de acordo com o autor (a editora não revela os números), vendeu mais de 100 mil exemplares em quatro reimpressões.
Abordagens do Segundo e Terceiro Volumes
O segundo volume da biografia retomará a narrativa a partir de onde o primeiro se encerrou: a derrota de Lula nas eleições para o governo de São Paulo em 1982, quando ficou em quarto lugar, e sua subsequente viagem a Cuba. Lá, Lula recebeu conselhos de Fidel Castro, que o motivou a enxergar sua votação de mais de um milhão como um valioso patrimônio político a ser abraçado. O período, marcado também por sua participação nos comícios das Diretas Já em 1984, crucial para sua projeção nacional, será detalhado. Morais observa que Lula sempre demonstrou dificuldades em lidar com derrotas, as quais o deprimiam e, em certas ocasiões, o levavam a cogitar a desistência de novas candidaturas.
Um dos capítulos de destaque do segundo livro revelará o episódio de 1985, durante as eleições indiretas vencidas por Tancredo Neves. Lula, conforme relato, instruiu José Dirceu, então sua “mão armada dentro do partido”, a expulsar os deputados federais do PT Bete Mendes, Airton Soares e José Eudes por terem votado em Tancredo. Morais entrevistou Mendes e Soares para o livro, que hoje não demonstram guardar ressentimentos, e também conversou com líderes de partidos de esquerda, como Zé Maria, do PSTU, e Rui Costa, do PCO. O biógrafo reflete sobre os erros de radicalidade do PT naquelas expulsões, reconhecendo a importância e o reconhecimento dos três políticos dentro e fora do partido.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
O biógrafo também explora a fase em que Lula, apesar de sua atuação na Assembleia Constituinte, percebeu que a vida parlamentar não era sua vocação. Outra revelação marcante do segundo volume é a entrevista com o ex-senador Tasso Jereissati (PSDB), resgatando a história de uma possível chapa “Lula na cabeça e Tasso de vice” antes do sucesso do Plano Real. A união de um partido de esquerda com vertentes marxistas e a social-democracia tucana poderia ter transformado o cenário político, segundo Morais, que especula sobre o Brasil que nasceria dessa improvável aliança. O volume finaliza com a primeira vitória de Lula nas eleições presidenciais, em 27 de outubro de 2002, quando, em seu 57º aniversário, discursa na Avenida Paulista após saber da vitória em um hotel na Berrini.
O terceiro volume será dedicado à complexa jornada de Lula na Presidência, abordando seus dois mandatos, os governos de Dilma Rousseff, seu impeachment, e os períodos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. A obra culminará com o anúncio televisivo de William Bonner da vitória de Lula para seu terceiro mandato presidencial. Fernando Morais estima que a conclusão desta parte final ocorrerá em aproximadamente “um ano e meio, dois anos no máximo”, indicando um trabalho de campo avançado e uma vasta base de dados já consolidada.
Próximos Projetos de Fernando Morais
Após a conclusão da trilogia sobre Lula, Morais planeja mergulhar na história do Partidão, o Partido Comunista Brasileiro, fundado em 1922. Ele considera essa pesquisa um fechamento de ciclo de seu interesse por personagens e temas que moldaram os séculos 20 e 21 no Brasil. O escritor é reconhecidamente prolífico: já negociou os direitos audiovisuais de seus livros “O Mago”, sobre Paulo Coelho, e “Montenegro”, sobre o marechal Casimiro Montenegro Filho. Além disso, está trabalhando no roteiro de um documentário sobre José Dirceu e tem a intenção de transformar suas pesquisas sobre Antônio Carlos Magalhães (ACM) em uma minissérie. As próprias histórias de vida de Fernando Morais também serão exploradas em “A Caixa Preta de Fernando Morais”, uma série de quatro capítulos dirigida por Paulo Cesar Toledo, prevista para estrear na HBO Max no primeiro trimestre de 2026.
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A expansão da biografia de Lula para uma trilogia, detalhada por Fernando Morais, promete ser uma análise abrangente e aprofundada de uma das trajetórias mais relevantes da política brasileira. Com novas informações, bastidores e reflexões, a obra deve enriquecer a compreensão do público sobre momentos cruciais da história recente. Para aprofundar a compreensão sobre os rumos do cenário político brasileiro e seus protagonistas, continue acompanhando nossas análises em nossa editoria de política.
Crédito da imagem: Eduardo Knapp/Folhapress
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