Berta Loran Morre aos 99 Anos: Legado de Alegria no Brasil – O cenário cultural brasileiro despede-se de uma de suas maiores figuras. No Rio de Janeiro, a aclamada atriz e comediante Berta Loran faleceu, aos 99 anos, deixando uma lacuna irreparável no humor e nas artes cênicas do país que a acolheu e ao qual dedicou sua vida e talento. Sua partida encerra um ciclo de quase um século dedicado à arte de fazer rir e refletir.
Com um nome de registro pouco conhecido pelo público, Baza Ais, a artista fez questão de, em vida, elucidar a pronúncia de sua identidade original: “É Basza Ajs, BÊ A S Z A… (quer dizer alguma coisa?) Não. Ice você sabe que inglês é gelo, mas eu não sou gelo nada, sou fogo”. Contudo, foi como Berta Loran que ela conquistou o coração do Brasil e gravou seu nome na história do entretenimento nacional, consolidando uma trajetória notável em diversas mídias e formatos ao longo de décadas.
Berta Loran Morre aos 99 Anos: Legado de Alegria no Brasil
Sua jornada artística teve início ainda em sua terra natal, a Polônia. Berta, aos sete anos de idade, subiu ao palco pela primeira vez ao lado de seu pai, que além de alfaiate era também ator. O contato precoce com o teatro foi decisivo. “Quando nós saímos, ele disse: ‘E aí, gostou?’, digo: ‘Eu vou ser este que senhor é’, com 7 anos”, recordava a artista. Essa precoce identificação com o palco prenunciava a grandiosa carreira que viria. Apenas dois anos depois, aos nove anos, a família tomou uma decisão crucial que mudaria o rumo de suas vidas. Deixando o gueto de Varsóvia, eles empreenderam a longa jornada rumo ao Brasil, buscando refúgio e segurança diante da tragédia iminente do nazismo que varria a Europa. Essa mudança não apenas salvou suas vidas, mas deu a Berta o novo lar e o ambiente para florescer como artista.
Da Polônia ao Brasil: A Trajetória de Superação
A imigração para o Brasil representou não apenas um escape das atrocidades da Segunda Guerra Mundial, mas o início de uma nova vida repleta de oportunidades. A gratidão de Berta Loran pela nação que a recebeu era palpável. “O Brasil me deu tudo, me deu idioma, me deu carinho, me deu a minha profissão maravilhosa que eu amo”, afirmava a atriz. Sua chegada em solo brasileiro coincidiu com a chance de reconstruir uma existência, onde sua vocação artística encontrou solo fértil para se desenvolver. Para saber mais sobre o impacto do nazismo e a história de refugiados, confira este artigo no Museu do Holocausto.
O ator Lúcio Mauro Filho sintetizou o percurso de Berta com uma analogia perspicaz: “O teatro tem como símbolo as máscaras da tragédia e da comédia, e dona Berta Loran saiu de sua terra natal lá na Polônia, fugindo da tragédia da Segunda Guerra, e aqui no Brasil ela foi acolhida pela comédia”. Esta frase encapsula não só a vivência pessoal da artista, mas também a sua essência como profissional: transformar a dor da memória em riso para milhões. Aos nove anos de idade, o gueto de Varsóvia ficou para trás, e à frente estava um Brasil que se tornaria seu palco principal e seu porto seguro.
A Descoberta Inesperada da Veia Cômica
Ainda na adolescência, Berta Loran teve a revelação de seu talento para a comédia, de uma forma completamente inusitada e fortuita. O momento decisivo aconteceu quando, durante uma encenação de drama, calçou os sapatos de salto alto de sua mãe. “Botei o salto alto da minha mãe, e falando aquele drama terrível, andando no palco com aquela menina, conversando com ela, quebrei o salto do sapato”, narrou a atriz. A situação inusitada fez com que Berta começasse a mancar em cena, o que imediatamente provocou risadas da plateia. “Comecei a mancar, o povo começou a rir. E eu gostei! E pensei comigo: O bom é fazer rir”, lembrou Berta Loran, descrevendo o episódio que selaria seu destino artístico e definiria sua paixão por provocar alegria nos outros.
Desde então, sua vida se transformou em um contínuo exercício de humor, somando mais de sete décadas dedicadas a arrancar risos do público, tanto nos palcos de teatro quanto nas telas de cinema e televisão. Sua versatilidade a levou a atuar em diversas produções, incluindo peças teatrais, filmes, programas de variedades, séries e telenovelas, atravessando gerações de admiradores.
De Destaque Internacional a Ícone da Televisão Brasileira
Antes de se tornar um rosto familiar para os brasileiros, Berta Loran construiu parte de sua reputação na Argentina e em Portugal, períodos em que acompanhava um ex-marido que também era ator. No entanto, o retorno ao Brasil nos anos 1950 marcou um novo capítulo em sua carreira. Ela mergulhou de cabeça no vibrante universo do teatro de revista, onde aperfeiçoou seu timing cômico e aprimorou a arte de interagir com o público, tornando-se uma presença carismática e inconfundível. Logo em seguida, sua energia contagiante e seu talento foram notados pela televisão, onde ela deixaria sua marca indelével.

Imagem: g1.globo.com
Na telinha, Berta Loran participou de inúmeros programas de humor que se tornaram referência para diversas gerações de espectadores. Sua capacidade de transformar personagens em ícones populares foi evidenciada em colaborações memoráveis. Ao lado de Jô Soares, protagonizou momentos icônicos. A parceria com o saudoso Chico Anysio foi especialmente marcante, dando vida à inesquecível personagem Manuela Dalém-Mar, uma portuguesa que se tornou um símbolo de seu talento e carisma. A atriz Ingrid Guimarães ressaltou a importância do pioneirismo de Berta, afirmando: “Por causa dela estamos aqui, de mulheres como ela, que desbravaram espaços que até então eram de protagonismo masculino”, evidenciando seu papel crucial na abertura de caminhos para outras artistas femininas.
Um Legado de Profissionalismo e Humanidade
Berta Loran viveu quase um século, guiando-se por uma máxima que carregava com humor e profundidade: “Rir é o melhor remédio, realmente. Não há nada melhor do que o isso. Você pode perder apartamento, joia, dinheiro, pode até perder um grande amor, 30 anos depois, quando você o reencontra, dá graças a Deus que o perdeu. Agora, humor não se pode perder”, filosofava a atriz, expressando a essência de sua perspectiva de vida. Essa visão otimista, centrada na resiliência e na alegria, reverberou em sua arte e em sua interação com o mundo.
Colegas e amigos, como o ator Ary Fontoura, expressaram o profundo carinho e admiração por ela: “Deixa a certeza de que foi uma notável profissional e uma excelente amiga. Vá com Deus, minha querida”, declarou, evidenciando não apenas o respeito pelo talento de Berta Loran, mas também pela pessoa generosa e dedicada que ela era em suas relações. A perda da comediante representa não apenas o silêncio de um sorriso nos palcos, mas o fechamento de um capítulo rico na história cultural do Brasil.
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Berta Loran, a artista que transformou a tragédia de sua infância em um vasto repertório de comédia e carinho, permanecerá viva na memória de seus fãs e na história da cultura brasileira. Sua capacidade de transitar entre as dificuldades da vida e a leveza do humor deixou uma marca indelével. Continue explorando as grandes figuras da nossa cultura e outras notícias impactantes na nossa editoria de Celebridades, onde honramos o legado de personalidades que moldaram a nossa história.
Crédito da imagem: Reprodução/TV Globo
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