A Axia Energia, a nova identidade da antiga Eletrobras, teve sua alteração nominal implementada sem que houvesse debate prévio com o governo federal, que figura como o maior acionista individual da companhia, embora com prerrogativas de voto limitadas no seu conselho de administração. A revelação foi feita por Ivan Monteiro, presidente da recém-batizada Axia Energia, durante entrevista nesta quinta-feira, 23 de outubro de 2025.
A iniciativa da companhia, privatizada durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) — uma medida frequentemente criticada pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —, ocorreu em um momento de intenso escrutínio. Enquanto Lula cumpria agenda na Indonésia, a decisão da mudança de nome, anunciada publicamente na quarta-feira (22) do mesmo mês, rapidamente se tornou alvo de questionamentos e críticas por parte de alguns sindicatos vinculados à corporação energética.
Axia Energia: Presidente confirma nome sem debate com governo
Em entrevista concedida nesta quinta-feira, dia 23 de outubro de 2025, o próprio Ivan Monteiro esclareceu detalhes cruciais sobre a iniciativa da companhia, antes conhecida como Eletrobras. Ele frisou que a decisão foi tomada de forma unânime pelo conselho de administração da empresa, um processo que antecedeu o acordo que posteriormente garantiu dois novos assentos no colegiado à União. O fato central que gerou discussões no cenário energético nacional foi que o Axia Energia: Presidente confirma nome sem debate com governo, desafiando as expectativas de um alinhamento prévio.
“Não houve interação [prévia] com o governo”, declarou o presidente da Axia, ressaltando também que, após a divulgação oficial da nova marca, não recebeu qualquer feedback ou comentário a respeito da medida por parte do principal acionista da empresa. Esta posição do governo destaca a complexa relação entre o Estado e a entidade agora privatizada, que busca consolidar sua autonomia estratégica.
Monteiro elucidou que a motivação primária por trás da alteração de nome reside no imperativo de reposicionar a empresa frente às significativas transformações que ocorrem no mercado brasileiro de energia. O setor está em plena transição rumo a uma abertura completa, um cenário onde os consumidores desfrutarão da prerrogativa de escolher seus fornecedores de energia, exigindo das companhias uma postura mais proativa e focada no cliente.
Conforme explicado pelo executivo, a Eletrobras possuía uma rica, porém complexa, história como uma empresa estatal, desempenhando múltiplos papéis ao longo de sua trajetória. “A Axia tinha uma história de ser uma empresa estatal e, durante sua evolução, teve vários papéis. Era ao mesmo tempo uma utility [empresa de serviço público], chegou a ser banco do setor e teve função de regulador”, descreveu Monteiro. Agora, com a transição para Axia Energia, o foco estratégico se redefine. Para uma compreensão mais aprofundada das regulamentações que impulsionam essa abertura de mercado, pode-se consultar a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
A nova ênfase da Axia é clara: buscar e fidelizar clientes, capitalizando sua substancial capacidade de geração de energia para expandir sua fatia de mercado. A mudança de nome e marca, na visão do presidente, é uma ferramenta essencial para “comunicar e fazer frente a esse novo mercado”, sinalizando uma adaptação ágil e uma abordagem mais mercantilista em contraste com seu passado como entidade estatal.
No âmbito da sociedade civil organizada, a Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), que agrega sindicatos de trabalhadores da ex-Eletrobras, emitiu uma nota contundente na terça-feira anterior, expressando severas críticas à modificação da identidade corporativa. A federação argumentou que, “Enquanto a Eletrobras sempre iluminou, Axia ofusca. Enquanto Eletrobras sempre gerou e transmitiu energia, Axia gera e transmite narrativas”. Este ponto de vista sublinha a apreensão de parte dos trabalhadores em relação à nova direção estratégica e de comunicação da companhia.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
A companhia informou que o processo de mudança de marca, que culminou no batismo como Axia Energia, foi meticulosamente planejado por aproximadamente um ano e meio. Durante este período, foram conduzidas extensas pesquisas internas para moldar a nova identidade. A introdução da Axia Energia ao país será acompanhada por uma campanha publicitária abrangente, com veiculação programada para começar nesta sexta-feira (24) em diversas plataformas televisivas.
Ivan Monteiro reiterou que a nova designação reforça a estratégia que a companhia vem cultivando nos últimos anos, caracterizada pela otimização de seus ativos e pela venda de empreendimentos focados em energias fósseis. Adicionalmente, a empresa tem se dedicado a estabelecer uma relação mais direta com os consumidores, distanciando-se dos antigos modelos de interação intermediada.
Para o futuro, a visão da Axia Energia inclui a ampliação significativa de seus investimentos e o crescimento de sua base de clientes. A companhia já estabeleceu negociações estratégicas com grandes consumidores de energia, tais como empresas de data centers, e as que atuam nos emergentes segmentos de hidrogênio verde e aço verde. A expectativa é que, com a progressiva abertura total do mercado de energia, a Axia Energia buscará ativamente parcerias inovadoras para alcançar e suprir as necessidades dos pequenos consumidores em todo o território nacional.
A transição da Eletrobras para Axia Energia simboliza mais do que uma mera mudança de nome; representa uma profunda alteração estratégica em resposta às dinâmicas de um mercado energético em evolução. A ausência de diálogo prévio com o governo, principal acionista, adiciona uma camada de complexidade a este processo, evidenciando as tensões entre o interesse público e as decisões corporativas no cenário pós-privatização. A companhia, sob sua nova bandeira, busca afirmar-se como um player ágil e focado no cliente no novo panorama da energia brasileira.
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Crédito da imagem: Divulgação; Zô Guimarães – 28.mai.25/Folhapress



